Ecologia
é mais do que conceito
Pedro J. Bondaczuk
O
tema ecologia ainda não penetrou na mente dos cidadãos como deveria, para
formar uma consciência de que, caso o meio ambiente não seja preservado, a
própria vida desaparecerá da Terra. Alertas desse tipo, mesmo partindo de
pessoas comprovadamente especializadas na matéria e de seriedade a toda prova,
são encaradas de formas bastante variadas, que vão desde o pânico histérico à
olímpica indiferença, quando não de absoluto ceticismo.
Enquanto
isso, o Planeta, patrimônio de toda a humanidade e não somente de um país ou
grupo deles, se deteriora, visível e crescentemente. O ambientalismo
transformou-se em mera moda. Pessoas cujo único objetivo é o de ganhar espaço
na mídia, fazem declarações estúpidas a respeito e promovem eventos que não
dizem a que vieram, em flagrante desserviço a todos os homens, na medida em que
se desmoralizam as campanhas preservacionistas sérias.
Tudo
fica ainda mais nebuloso quando o assunto é arrastado para o pantanoso terreno
político. Já foi passada para a população, por exemplo, a idéia de que ecologia
é uma bandeira nitidamente de esquerda, como se salvar a Terra de um destino
parecido ao de Vênus fosse prerrogativa de determinada ideologia e não caso de
absoluta emergência.
A
Organização de Alimentação e Agricultura das Nações Unidas, FAO, divulga,
amiúde, relatórios acerca da acelerada extinção das florestas tropicais, que
deveriam tirar o sono de todas as pessoas de bom-senso.Todavia, em virtude da
maneira como o assunto foi tratado nos últimos tempos, causando notório
descrédito público nos alertas sérios que são feitos, certamente as informações
contidas em tais documentos – alguns sequer chegam a ser divulgados pela
imprensa – geram, volta e meia, discussões do tipo “nacionalistóide”, com uma
corrente culpando o Brasil (com razão), pela irresponsável devastação da
Amazônia e com ecologistas de botequim retrucando com questionamentos acerca da
não-preservação dos pântanos da Flórida, ou dos mangues do Texas, ou das matas do
Oregon, ou do Estado de Washington, por parte dos Estados Unidos.
O
enfoque correto não é o de se raciocinar na base do “preserve o seu que eu
preservo o meu”, mas do “preservemos nós” o que é patrimônio geral. O
equilíbrio da natureza não conhece fronteiras nacionais. Qualquer coisa que se
desregula no clima nos confins da Ásia, finda por se refletir em todas as
partes, já que a Terra é um só e único planeta.
Se
o coração de uma pessoa falhar, não importa que o restante do seu organismo
seja absolutamente sadio. Tal indivíduo, fatalmente, morrerá. A mesma e
inflexível verdade vale para o nosso planeta. O mais é conversa vazia de quem
não tem competência e deseja aparecer.
O
crescimento desordenado dos habitantes de um país, por exemplo, e pior. que não
possua recursos para absorver novos e crescentes contingentes de pessoas,
conduz à ocupação de todos os seus espaços, com crescente desmatamento e
progressiva degradação do solo. De acordo com o Fundo de População das Nações
Unidas (Nuap), nascem, atualmente, em média, três bebês por segundo no Planeta.
Descontando todos os indivíduos que morrem – por doenças, assassinatos,
acidentes, guerras, fome ou por velhice – a espaçonave Terra ganha,
diariamente, cerca de 250 mil passageiros. É assustador! Onde iremos parar?!
O
trágico de tudo isso é que 90% desse explosivo crescimento populacional se
verifica exatamente onde a prudência mande que se limite a natalidade, ou seja,
nas regiões mais pobres do mundo, chamadas, até de uma forma um tanto irônica,
de países em desenvolvimento, quando na verdade o que se observa neles é
crescente miserabilidade. A ONU informa que dos 7,1 bilhões de habitantes
terrestres, 1,4 bilhão, o equivalente á população total da China ou quase um
quinto da humanidade, vivem em estado de absoluta pobreza. Essa situação é
definida como sendo aquela em que o indivíduo não dispõe de nenhuma espécie de
renda ou tenha uma tão baixa que seja incapaz de satisfazer as necessidades
mínimas para uma sobrevivência digna, como alimentação, moradia, vestuário,
saúde, educação, cultura e lazer.
Os
povos que convivem com esta realidade findam por lançar mão de todos os
recursos de que dispõem. Para alimentar tantas bocas, que aumentam numa
velocidade vertiginosa, mais terras são necessárias para o plantio. Agindo mais
por desespero do que mediante alguma espécie de planejamento, áreas verdes
imensas são postas abaixo, a maioria, como é o caso específico da Amazônia,
detentora de solos paupérrimos, para o plantio. Dessa maneira, o mundo vai
ficando cada vez mais devastado, poluído e emporcalhado, ameaçando toda a
humanidade.
Exige-se
ajuda dos países ricos, como se eles fossem obrigados a fazer benemerência
constante para aqueles que nunca procuraram se ajudar. Basta que se examine a
relação dos grandes compradores de armas da atualidade para se concluir que os
clientes por excelência dos “mercadores da morte” são exatamente as sociedades
nacionais mais atrasadas, com estruturas sociais mais injustas e por
conseqüência mais violentas do chamado Terceiro Mundo. Triste realidade que
compete aos jornalistas e escritores trazerem à baila e exigirem providências.
Se não...
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