Monday, May 12, 2014

Popularização das drogas


Pedro J. Bondaczuk


O consumo de drogas no mundo, que te pouco tempo atrás se restringia aos países mais ricos, em virtude do alto custo que os entorpecentes alcançavam no nefasto mercado que os comercializa, hoje está se expandindo para lugares de menores recursos financeiros, cujos povos, muitas vezes, não têm dinheiro sequer para se alimentar adequadamente.

De uns anos para cá, com o endurecimento da repressão ao tráfico nos Estados Unidos e na Europa, com a ampla divulgação que os meios de comunicação vêm dando aos efeitos catastróficos do vício e com o respaldo que estão outorgando às entidades repressoras, os cabeças do narcotráfico não viram outra alternativa. Resolveram baratear os venenos que produzem, para que possam ser consumidos por usuários do Terceiro Mundo.

O que é mais chocante em tudo isso é que se verifica um dramático aumento do consumo maconha, cocaína e até de tóxicos considerados muito mais pesados, na infância. Crianças a partir de sete anos de idade, muitas das quais recém abandonaram as chupetas, sem que tenham, ainda, a mínima perspectiva de mundo e dos seus horrores e sem tirocínio algum para distinguir os inimigos da espécie, que não dão o mínimo valor à vida (dos outros, é claro, nunca à própria ou à de seus familiares), estão, cada vez mais, aderindo à toxicomania.

Responda para si próprio, caro leitor: você que é pai e estima profundamente as pessoas que gerou, existe crime mais hediondo do que este?! As estatísticas divulgadas na Colômbia, dando conta de que um milhão dos seus adolescentes (55 mil dos quais com idades de até 12 anos) consomem drogas, são, verdadeiramente, apavorantes.

Mas este não é o único país que tem que enfrentar tal flagelo e que assiste à sua juventude sendo jogada pelo esgoto por canalhas apátridas e, sobretudo, desumanos. Bolívia, Peru, Equador e Brasil enfrentam problema semelhante.

Nós, campineiros, estamos assistindo, estarrecidos, o vício a se expandir cada vez mais em nosso meio, atingindo faixas etárias cada vez mais baixas, sem que possamos, ou saibamos, fazer grande coisa para deter esse avanço.

Se o problema no Terceiro Mundo assume esta dramaticidade, mais complicada, ainda, é a situação nos Estados Unidos. Com todo o sucesso que a polícia de lá vem obtendo ao estourar quadrilhas e mais quadrilhas e em punir com todo o rigor da lei os traficantes, ela consegue retirar das ruas não mais que migalhas.

Seus agentes antidrogas calculam que apenas menos de 10% dos entorpecentes disponíveis estão saindo de circulação. Ou seja, o consumo não chegou, sequer, a baixar. Simplesmente cresceu um pouco menos do que os traficantes pretendiam que crescesse.

Os meios de comunicação, as escolas, as igrejas e, enfim, toda a sociedade podem, e devem, fazer muito mais do que estão fazendo para conter o avanço dessa sombra medonha que se abate sobre os nossos lares e nos ameaça a todos.

A questão precisa ser mais vezes ventilada, discutida e analisada. É necessário, sobretudo, que tudo não acabe ficando restrito apenas a estudos de comissões, cujos membros estão ávidos, somente, por promoção política. Existem outros meios, que não este, para os demagogos satisfazerem a sua vaidade.

É indispensável, sobretudo, que se aja, e muito. Mas com inteligência, com sabedoria e com tirocínio. Afinal, do jeito que as coisas estão andando, ninguém está a salvo de, subitamente, se transformar de mero espectador da questão (a que muitas vezes dá pouca importância, quando não nenhuma), em protagonista, com um membro da família escravizado por essa terrível (e quase incurável) doença, tão, ou mais, perigosa que a Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (isto quando não vem associada a ela, já que os viciados constituem, ao lado dos homossexuais e dos hemofílicos, num importante grupo de risco da Aids).

(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 9 de maio de 1987).

Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk 
       

         

No comments: