Popularização das drogas
Pedro J.
Bondaczuk
O consumo de drogas no mundo, que te pouco tempo atrás se
restringia aos países mais ricos, em virtude do alto custo que os entorpecentes
alcançavam no nefasto mercado que os comercializa, hoje está se expandindo para
lugares de menores recursos financeiros, cujos povos, muitas vezes, não têm
dinheiro sequer para se alimentar adequadamente.
De uns anos para cá, com o
endurecimento da repressão ao tráfico nos Estados Unidos e na Europa, com a
ampla divulgação que os meios de comunicação vêm dando aos efeitos
catastróficos do vício e com o respaldo que estão outorgando às entidades
repressoras, os cabeças do narcotráfico não viram outra alternativa. Resolveram
baratear os venenos que produzem, para que possam ser consumidos por usuários
do Terceiro Mundo.
O que é mais chocante em tudo
isso é que se verifica um dramático aumento do consumo maconha, cocaína e até
de tóxicos considerados muito mais pesados, na infância. Crianças a partir de
sete anos de idade, muitas das quais recém abandonaram as chupetas, sem que
tenham, ainda, a mínima perspectiva de mundo e dos seus horrores e sem
tirocínio algum para distinguir os inimigos da espécie, que não dão o mínimo
valor à vida (dos outros, é claro, nunca à própria ou à de seus familiares),
estão, cada vez mais, aderindo à toxicomania.
Responda para si próprio, caro
leitor: você que é pai e estima profundamente as pessoas que gerou, existe
crime mais hediondo do que este?! As estatísticas divulgadas na Colômbia, dando
conta de que um milhão dos seus adolescentes (55 mil dos quais com idades de
até 12 anos) consomem drogas, são, verdadeiramente, apavorantes.
Mas este não é o único país que
tem que enfrentar tal flagelo e que assiste à sua juventude sendo jogada pelo
esgoto por canalhas apátridas e, sobretudo, desumanos. Bolívia, Peru, Equador e
Brasil enfrentam problema semelhante.
Nós, campineiros, estamos
assistindo, estarrecidos, o vício a se expandir cada vez mais em nosso meio,
atingindo faixas etárias cada vez mais baixas, sem que possamos, ou saibamos,
fazer grande coisa para deter esse avanço.
Se o problema no Terceiro Mundo
assume esta dramaticidade, mais complicada, ainda, é a situação nos Estados
Unidos. Com todo o sucesso que a polícia de lá vem obtendo ao estourar quadrilhas
e mais quadrilhas e em punir com todo o rigor da lei os traficantes, ela
consegue retirar das ruas não mais que migalhas.
Seus agentes antidrogas calculam
que apenas menos de 10% dos entorpecentes disponíveis estão saindo de
circulação. Ou seja, o consumo não chegou, sequer, a baixar. Simplesmente
cresceu um pouco menos do que os traficantes pretendiam que crescesse.
Os meios de comunicação, as
escolas, as igrejas e, enfim, toda a sociedade podem, e devem, fazer muito mais
do que estão fazendo para conter o avanço dessa sombra medonha que se abate
sobre os nossos lares e nos ameaça a todos.
A questão precisa ser mais vezes
ventilada, discutida e analisada. É necessário, sobretudo, que tudo não acabe
ficando restrito apenas a estudos de comissões, cujos membros estão ávidos,
somente, por promoção política. Existem outros meios, que não este, para os
demagogos satisfazerem a sua vaidade.
É indispensável, sobretudo, que
se aja, e muito. Mas com inteligência, com sabedoria e com tirocínio. Afinal,
do jeito que as coisas estão andando, ninguém está a salvo de, subitamente, se
transformar de mero espectador da questão (a que muitas vezes dá pouca
importância, quando não nenhuma), em protagonista, com um membro da família
escravizado por essa terrível (e quase incurável) doença, tão, ou mais,
perigosa que a Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (isto quando não vem
associada a ela, já que os viciados constituem, ao lado dos homossexuais e dos
hemofílicos, num importante grupo de risco da Aids).
(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 9 de
maio de 1987).
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