Três
ogivas nucleares para Campinas
Pedro J. Bondaczuk
O Pentágono quer gastar, já a partir do corrente
ano, US$ 2,7 bilhões para a construção dos controvertidos mísseis MX, com a
finalidade de destruir os balísticos intercontinentais soviéticos em caso de
ocorrência de uma guerra nuclear. Mesmo com a constatação de que,
possivelmente, a potência das suas ogivas seria insuficiente para atingir os
ultraprotegidos silos soviéticos, o Departamento de Defesa dos EUA não faz por
menos. Não abre mão da construção dos 30 MX, de um lote de 100, dos quais 10 já
têm prazo de instalação, nos Estados de Wyoming e Nebraska, em 1986.
Façamos uma macabra contabilidade para concluir da
necessidade ou não desses novos armamentos nucleares. Segundo dados divulgados
em fins do ano passado, e não contestados pelas superpotências, EUA e URSS já
teriam cerca de 17 mil ogivas atômicas, de megatoneladas variadas, em seus
silos e (afirmam alguns) até em órbita da Terra, em forma de satélites.
Estimando a população mundial em 4,5 bilhões de
habitantes, teremos um dado assustador: os dois gigantes militares do Planeta
nos reservaram uma ogiva para cada grupo de 265 mil pessoas. Nessa linha de
raciocínio, o Brasil, com população de 130 milhões de habitantes, teria 490
desses artefatos (em média).
Sejamos um pouco mais bairristas. Sabem quantas
ogivas caberiam a nós, campineiros, considerando que a cidade tenha oitocentos
mil habitantes atualmente? Três! Isso mesmo, três ogivas, com capacidade de
destruição quase cem vezes maior do que a bomba que destruiu Hiroshima, no
Japão, no dia 6 de agosto de 1945!!!
Alguma potência precisa construir, ainda, algum novo
míssil? Esse dinheiro todo, empregado para manter o mundo constantemente à
beira do abismo, não seria infinitamente melhor empregado financiando o
desenvolvimento dos dois terços miseráveis da população do Planeta? Depois
dizem que o homem é o único animal inteligente da natureza...
(Artigo publicado na página 9, Internacional, do
Correio Popular, em 12 de maio de 1984)
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