Saturday, April 26, 2014

Três ogivas nucleares para Campinas


Pedro J. Bondaczuk


O Pentágono quer gastar, já a partir do corrente ano, US$ 2,7 bilhões para a construção dos controvertidos mísseis MX, com a finalidade de destruir os balísticos intercontinentais soviéticos em caso de ocorrência de uma guerra nuclear. Mesmo com a constatação de que, possivelmente, a potência das suas ogivas seria insuficiente para atingir os ultraprotegidos silos soviéticos, o Departamento de Defesa dos EUA não faz por menos. Não abre mão da construção dos 30 MX, de um lote de 100, dos quais 10 já têm prazo de instalação, nos Estados de Wyoming e Nebraska, em 1986.

Façamos uma macabra contabilidade para concluir da necessidade ou não desses novos armamentos nucleares. Segundo dados divulgados em fins do ano passado, e não contestados pelas superpotências, EUA e URSS já teriam cerca de 17 mil ogivas atômicas, de megatoneladas variadas, em seus silos e (afirmam alguns) até em órbita da Terra, em forma de satélites.

Estimando a população mundial em 4,5 bilhões de habitantes, teremos um dado assustador: os dois gigantes militares do Planeta nos reservaram uma ogiva para cada grupo de 265 mil pessoas. Nessa linha de raciocínio, o Brasil, com população de 130 milhões de habitantes, teria 490 desses artefatos (em média).

Sejamos um pouco mais bairristas. Sabem quantas ogivas caberiam a nós, campineiros, considerando que a cidade tenha oitocentos mil habitantes atualmente? Três! Isso mesmo, três ogivas, com capacidade de destruição quase cem vezes maior do que a bomba que destruiu Hiroshima, no Japão, no dia 6 de agosto de 1945!!!

Alguma potência precisa construir, ainda, algum novo míssil? Esse dinheiro todo, empregado para manter o mundo constantemente à beira do abismo, não seria infinitamente melhor empregado financiando o desenvolvimento dos dois terços miseráveis da população do Planeta? Depois dizem que o homem é o único animal inteligente da natureza...   

(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 12 de maio de 1984)


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