Promessas sem
credibilidade
Pedro J.
Bondaczuk
As promessas do novo homem-forte da Alemanha
Oriental, Egon Krenz, de introduzir
reformas democráticas no país, parecem não ter sensibilizado ninguém por ali.
Bastou que o governo liberasse as viagens para a Checoslováquia sem a exigência
de vistos, para que o êxodo de pessoas rumo ao Ocidente recomeçasse.
Até a tarde de ontem, 4.500
refugiados superlotavam a embaixada alemã ocidental em Praga, e novas levas
continuavam chegando, como que numa irresistível onda, numa enchente, que
deverá se tornar bem maior (quase incontrolável) neste fim de semana.
Tal fuga em massa está agravando
a vida para os que resolveram ficar no país e lutar pelas mudanças que tanto
desejam, na sociedade que ajudaram a construir, mas cujos benefícios não lhes
têm sido proporcionais aos esforços empregados.
Quem está deixando a Alemanha
Oriental não é ninguém despreparado. A evasão não tem, por exemplo, qualquer similaridade com a famosa “Ponte de
Mariel” , do início desta década, quando mais de cem mil cubanos foram parar
nos Estados Unidos. Esses refugiados caribenhos, apesar da propaganda negativa
para o regime de Fidel Castro, eram considerados autênticos parias sociais em
sua terra natal.
Livraram, portanto, com sua
saída, as autoridades marxistas de Cuba de sérias dores de cabeça. Tanto é que
até hoje os norte-americanos lutam para repatriar boa parte deles: ladrões,
prostitutas, rufiões e viciados. É claro que os cubanos não aceitam tal
“devolução”.
O caso alemão oriental, porém, é
muito diferente. Quem está emigrando são médicos, engenheiros e técnicos de
todos os setores. Gente esclarecida, com alto nível intelectual, na qual o
Estado fez um grande investimento nas universidades e institutos do país.
Os refugiados estão, sobretudo,
desencantados, pessimistas e descrentes quanto ao futuro nacional. Sabem, por
exemplo, do retrospecto de linha-dura de Egon Krenz. Aliás, o novo líder nem se
preocupou em esconder esse seu radicalismo. As medidas que ele está implantando
são apenas paliativas. Não há nada em profundidade. É verdade que, pelo menos à
primeira vista, são mais suaves do que a forma de gerir a Alemanha de seu
antecessor, Erich Honecker.
A nova onda de emigrações, no
entanto, torna a decisão acerca das mudanças prometidas e, principalmente, do
seu alcance, uma questão inadiável. Não dá mais para as autoridades marxistas
protelarem as reformas. Caso o façam, correm o risco de não terem mais cidadãos
para governar.
Dessa forma, o próprio povo
alemão, por meios práticos, sacramentaria a problemática reunificação do país,
à revelia de suas respectivas autoridades, dos governos das duas Europas, das
superpotências e dos dois grupos militares da atualidade: Organização do
Tratado do Atlântico Norte e Pacto de Varsóvia. Os próximos passos, portanto,
serão decisivos e excitantes.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 4
de novembro de 1989).
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