Wednesday, April 16, 2014

Promessas sem credibilidade


Pedro J. Bondaczuk


As promessas do novo homem-forte da Alemanha Oriental,  Egon Krenz, de introduzir reformas democráticas no país, parecem não ter sensibilizado ninguém por ali. Bastou que o governo liberasse as viagens para a Checoslováquia sem a exigência de vistos, para que o êxodo de pessoas rumo ao Ocidente recomeçasse.

Até a tarde de ontem, 4.500 refugiados superlotavam a embaixada alemã ocidental em Praga, e novas levas continuavam chegando, como que numa irresistível onda, numa enchente, que deverá se tornar bem maior (quase incontrolável) neste fim de semana.

Tal fuga em massa está agravando a vida para os que resolveram ficar no país e lutar pelas mudanças que tanto desejam, na sociedade que ajudaram a construir, mas cujos benefícios não lhes têm sido proporcionais aos esforços empregados.

Quem está deixando a Alemanha Oriental não é ninguém despreparado. A evasão não tem, por exemplo,  qualquer similaridade com a famosa “Ponte de Mariel” , do início desta década, quando mais de cem mil cubanos foram parar nos Estados Unidos. Esses refugiados caribenhos, apesar da propaganda negativa para o regime de Fidel Castro, eram considerados autênticos parias sociais em sua terra natal.

Livraram, portanto, com sua saída, as autoridades marxistas de Cuba de sérias dores de cabeça. Tanto é que até hoje os norte-americanos lutam para repatriar boa parte deles: ladrões, prostitutas, rufiões e viciados. É claro que os cubanos não aceitam tal “devolução”.

O caso alemão oriental, porém, é muito diferente. Quem está emigrando são médicos, engenheiros e técnicos de todos os setores. Gente esclarecida, com alto nível intelectual, na qual o Estado fez um grande investimento nas universidades e institutos do país.

Os refugiados estão, sobretudo, desencantados, pessimistas e descrentes quanto ao futuro nacional. Sabem, por exemplo, do retrospecto de linha-dura de Egon Krenz. Aliás, o novo líder nem se preocupou em esconder esse seu radicalismo. As medidas que ele está implantando são apenas paliativas. Não há nada em profundidade. É verdade que, pelo menos à primeira vista, são mais suaves do que a forma de gerir a Alemanha de seu antecessor, Erich Honecker.

A nova onda de emigrações, no entanto, torna a decisão acerca das mudanças prometidas e, principalmente, do seu alcance, uma questão inadiável. Não dá mais para as autoridades marxistas protelarem as reformas. Caso o façam, correm o risco de não terem mais cidadãos para governar.

Dessa forma, o próprio povo alemão, por meios práticos, sacramentaria a problemática reunificação do país, à revelia de suas respectivas autoridades, dos governos das duas Europas, das superpotências e dos dois grupos militares da atualidade: Organização do Tratado do Atlântico Norte e Pacto de Varsóvia. Os próximos passos, portanto, serão decisivos e excitantes.

(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 4 de novembro de 1989).


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