Não
é o casamento que está em crise
Pedro J. Bondaczuk
A
despeito de algumas evidências e de dramas pessoais até recorrentes, prato
cheio para nós, escritores, envolvendo casais, a instituição do casamento não
está em crise e muito menos falida, como amiúde se apregoa, com base, apenas,
em situações particulares. Não se pode generalizar. Contudo... os que defendem
a tese generalizam. E incorrem, no meu entender, em grave erro de enfoque.
Lembro-me, por exemplo, de um caso específico, ocorrido em 1989, muito
explorado pela imprensa, que eu trouxe à baila para meus leitores, na ocasião
em que aconteceu, quando eu era então editor do Correio Popular de Campinas.
Ele deu o que falar, na época, e foi citado por muitos estudiosos do
comportamento como um dos tantos exemplos da falência da instituição do
casamento. Discordei então e continuo discordando ainda hoje dessa apressada
conclusão. O episódio a que me refiro foi o protagonizado por um tal de Warren
Murphy.
Esse
norte-americano, de meia idade, por ter sido abandonado pela mulher (que levou
consigo os filhos do casal) invadiu o local onde trabalhava, nos Correios de
Nova Orleans, feriu a bala três companheiros e manteve uma senhora como refém
por 13 horas. Casos como este, com desfechos muito mais trágicos, nunca foram
novidade (infelizmente). Aliás, tornaram-se, até, corriqueiros. Ocorrem com
enorme freqüência e não apenas nos Estados Unidos, mas em toda a parte do
mundo.
Volta
e meia, algum desequilibrado, ou desesperado por uma razão qualquer, ou não
raro débil mental, ou usuário de drogas invade principalmente universidades,
escolas secundárias e até creches, de arma na mão, para matar cinco, dez ou
mais pessoas que nada têm a ver com seus desequilíbrios, para depois cometer
suicídio. Esses atos brutais têm os mais variados motivos, ou alegações deles,
via de regra absurdas como a própria ação violenta. O episódio envolvendo
Warren Myrphy, portanto, não foi o único, nem o último e nem mesmo o mais grave
do tipo. Não resultou em nenhuma morte. E nada teve a ver, especificamente, com
a “instituição” casamento. Só teve com o dele, que por alguma razão (que não
ficou bem esclarecida), desmoronou. Até hoje não entendo, portanto, o motivo da
grande repercussão que teve.
Quem
investe contra a instituição, achando que ela estaria “ultrapassada” e que
defende até mesmo sua extinção, aponta dados estatísticos sobre separações e
sobre crimes passionais como argumento, indiferente ás causas que, claro, não
são todas iguais. Casamentos fracassados, no entanto, e desde tempos bíblicos
(e certamente muitíssimo antes), sempre existiram e continuarão existindo tempo
e mundo afora. Por que? Porque muitos são ainda feitos por puríssimo interesse,
sem que entre nele a indispensável componente do amor. É claro que eles não dão
e raramente podem dar certo.
Outros
tantos relacionamentos do tipo são “mortos” pela rotina. O marasmo, muitas
vezes, leva um dos parceiros, ou os dois, a aventuras extraconjugais. Em vários
casos, elas não passam de episódios passageiros, fortuitos, casuais, que sequer
são do conhecimento de um dos cônjuges, no caso a parte traída. Terminam como
começaram e sequer deixam vestígios. Em outros, contudo, verificam-se dramas
pungentes. A parte ofendida, às vezes, reage passionalmente e parte até para
brutais assassinatos, que destroem não
somente o casamento, mas todos os que tenham quaisquer vínculos com ele. Em
outras situações, a reação é moderada, mas a dor, o sofrimento, a humilhação
são pavorosos. Deixam marcas indeléveis. E quase sempre o parceiro traidor
arrepende-se do erro, mas quando já é tarde.
Por
algumas horas (ou minutos?) de prazer carnal ilícito (que a mulher poderia ter
com o marido ou este com a esposa licitamente) todo um passado de carinhos, de
sonhos, de mutuo desvelo e de trabalho conjunto não raro é posto a perder. Em
geral, o adultério, com suas conseqüências escabrosas, traz resultados danosos
para quem não tem nada a ver com o erro do casal. Refiro-me aos filhos. São
pessoas, óbvio, que sequer pediram para nascer. O pior é quando os adúlteros
são ambos casados. Neste caso, o risco é maior, pois duas famílias, e não
somente uma, findam por ser destruídas. Considfero, pois, o adultério não
apenas uma violação moral, uma quebra de compromisso, mas uma imensa burrice.
O
antídoto para esses casos é um só: Amor. Quem ama raramente trai. E se traído,
tem a capacidade de perdoar e, de fato, perdoa. Afinal, errar é humano e
ninguém é perfeito. Ninguém está completamente a salvo de alguma
“escorregadela”. O que não pode é ela virar rotina. Se isso acontecer... bem, é
imperdoável. A palavra amor, convenhamos, está um tanto desgastada pelo uso
inadequado. Esse magno sentimento tem que vir acompanhado de uma série
virtudes, como paciência, atenção, respeito, desvelo, tolerância, amizade,
carinho, compreensão, fidelidade, desprendimento, sexo, e... muito mais. E
todas reunidas de uma só vez. E, claro, não se pode esquecer da capacidade de
perdão, que nunca falta quando o casal verdadeiramente se ama.
Todavia
é preciso ter em conta que o amor é como delicadíssima flor. É belo, belíssimo,
sublime e até transcendental, mas é extremamente frágil. Precisa ser cultivado
e cuidado diariamente, para que não venha a secar e se transformar em algo
mórbido, feio, doloroso, angustiante e doentio. Afinal, nele reside a fonte da
vida, por ser o atributo maior da própria divindade. Ausente do casamento, este
já nasce morto. Mas, insisto, a instituição em si não tem nada com isso. Não
está falida e nem mesmo em crise. E por que trago á baila este assunto em um
espaço destinado à Literatura? Simples. Porque se trata de tema infalível para
romancistas, novelistas e contistas, pela carga dramática que têm. Só variam as
circunstâncias e desfechos. No mais...Tem que ser, portanto, objeto de pesquisa
e de observação, mas sem que tiremos conclusões afoitas e, portanto, enganosas.
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