Por que ninguém protestou?
Pedro J. Bondaczuk
A
comunidade judia lembrou, ontem, os 45 anos do fim da Segunda Guerra Mundial na
Europa --- o conflito apenas terminou de vez em 15 de agosto de 1945, com a
rendição japonesa --- concluindo um encontro de três dias nas proximidades de
um lugar aparentemente aprazível de Berlim Ocidental, mas de tristíssima
lembrança para esse povo. Como que num símbolo, num alerta, num aviso do que o
preconceito pode causar às pessoas, os judeus realizaram uma conferência bem
pertinho da mansão do Lago Wannsee. Nesse casarão, de 30 quartos, um dos mais
elegantes da antiga capital do III Reich, 12 oficiais nazistas decidiram
perpetrar um dos mais hediondos crimes que se possa imaginar, festejando com
música, bebidas e muita alegria a sua decisão, como se o que estavam resolvendo
se tratasse de um supremo bem. Foi nesse local confortável e luxuoso que os
seguidores de Adolf Hitler resolveram aplicar o que denominaram de
"solução final". Matar uma pessoa, é óbvio, já é um delito
gravíssimo.
Esse
plano, todavia, levava a paranóia homicida ao paroxismo, objetivava, pasmem,
eliminar a raça judia do Planeta, mediante o morticínio planejado, meticuloso
(como se fosse uma linha de produção industrial), de todos os seus membros! O
que espanta ainda hoje, passado tanto tempo, é o fato de um genocídio de
tamanhas proporções ter passado praticamente em "brancas nuvens".
Nenhuma notícia a respeito foi divulgada no rádio ou nos jornais. Nenhum
editorial! Ninguém levantou a voz para exigir um basta a tamanha
monstruosidade. O mundo todo agiu como se nada estivesse acontecendo. Mas é
impossível um assassinato em massa de tamanhas proporções ter passado
despercebido. Alguém deveria ter conhecimento dele. Por que ninguém falou? Por
que ninguém protestou? Por que tudo isso foi somente descoberto depois que as
tropas aliadas libertaram os campos de concentração?
Embora
mais de quatro décadas tenham passado sobre esse fato, ele deve ser sempre
ressaltado. Afinal, o sentimento que moveu o morticínio, o doentio preconceito,
permanece mais vivo do que nunca. Contra os judeus, com o ressurgimento cíclico
do anti-semitismo. Ou contra os negros. Ou contra outra etnia, raça ou
organização qualquer. O homem já evoluiu o suficiente para acabar com essas tolas
idéias de superioridade que ainda sobrevivem na consciência dos povos, em pleno
patamar do terceiro milênio da era cristã. Sejam de que raça forem, tenham a
cor que tiverem, professem a crença política ou religiosa que professarem, os
homens, naquilo que é fundamental, são todos iguais. São mundos, são universos,
são cópias da divindade. Todos são importantes porque não há parâmetros que
possam definir superioridade para seres nivelados pela morte.
(Artigo
publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 9 de maio de
1990)
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