Tuesday, April 01, 2014

Novo lance no jogo da morte


Pedro J. Bondaczuk


A eleição de René Moawad é o mais novo lance nesse autêntico jogo de xadrez em que se constitui a guerra civil libanesa, que caminha rapidamente para completar 15 anos de duração, em 24 de abril de 1990. É que mesmo os parlamentares que o elegeram tendo cumprido a Constituição do país (cujo texto determina que tal escolha deve sempre recair sobre um membro da comunidade cristã) alguns setores dessa seita não aceitaram bem a decisão. Principalmente o general Michel Aoun, que no sábado passado havia declarado dissolvido o Legislativo, por discordar de um plano de paz aprovado pelos seus membros, em reunião realizada na cidade saudita de Taif, sob os auspícios e a mediação da Liga Árabe.

Ontem, o oficial recusava-se a deixar o palácio presidencial de Baabda, num desafios aos deputados, enquanto vários dos seus seguidores, na maioria jovens, atacavam a sede do patriarcado maronita no Leste de Beirute.

A principal razão do impasse continua residindo na presença de soldados sírios em território libanês. Ocorre que Moawad, um político com vasta militância parlamentar, de 32 anos de duração, é favorável à presença das tropas de Damasco no país, pelo menos enquanto as várias facções beligerantes – e são muitas no Líbano – não depuserem suas armas e se dispuserem a dialogar.

Ele entende que bem ou mal, as forças de ocupação cumpriram, até aqui, o seu papel. Ou seja, impediram que as diversas milícias adversárias protagonizassem uma mortandade ainda maior da que se verificou em todos esses anos de batalha.

O novo presidente acha que se não houvesse esse fator dissuasor, o número de mortos nestes quase 15 anos de carnificina, não seria de 150 mil, conforme se estima, mas atingiria a cifras muito mais elevadas.

O que a comunidade internacional espera é que Aoun tenha um rasgo de grandeza e não venha a desunir a sua própria comunidade. Que se compenetre da ilegitimidade do gabinete que diz dirigir (formado à revelia do Parlamento) que ademais fracassou na condução dos negócios nacionais e não deu um único passo em direção à paz que todos os libaneses desejam.

Ao contrário, participou, com os 20 mil homens que comanda, de um dos episódios mais sangrentos dessa guerra civil, que foram as sucessivas semanas de batalha, na capital e ao redor dela contra grupos muçulmanos, que chegaram a esvaziar a cidade, reduzindo a sua população dos seus mais de 1,1 milhão de habitantes, para algo em torno de 250 mil.

Já é hora de alguém tomar uma iniciativa sensata e pôr fim ao estado de beligerância, que não trouxe benefício algum para quem quer que fosse – a não ser para aqueles que se enriqueceram com o tráfico de drogas, com a “indústria” dos seqüestros e com a venda de armas às milícias. E para isso ter alguma chance de êxito, nada melhor do que entregar a condução do processo pacificador a um homem tido como moderado. Ou seja, que acredita e luta pela paz.

(Artigo publicado na página 17, Internacional, do Correio popular, em 7 de novembro de 1989).

       

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