Novo lance no jogo da morte
Pedro J.
Bondaczuk
A eleição de René Moawad é o mais
novo lance nesse autêntico jogo de xadrez em que se constitui a guerra civil
libanesa, que caminha rapidamente para completar 15 anos de duração, em 24 de
abril de 1990. É que mesmo os parlamentares que o elegeram tendo cumprido a
Constituição do país (cujo texto determina que tal escolha deve sempre recair
sobre um membro da comunidade cristã) alguns setores dessa seita não aceitaram
bem a decisão. Principalmente o general Michel Aoun, que no sábado passado
havia declarado dissolvido o Legislativo, por discordar de um plano de paz
aprovado pelos seus membros, em reunião realizada na cidade saudita de Taif,
sob os auspícios e a mediação da Liga Árabe.
Ontem, o oficial recusava-se a
deixar o palácio presidencial de Baabda, num desafios aos deputados, enquanto
vários dos seus seguidores, na maioria jovens, atacavam a sede do patriarcado
maronita no Leste de Beirute.
A principal razão do impasse
continua residindo na presença de soldados sírios em território libanês. Ocorre
que Moawad, um político com vasta militância parlamentar, de 32 anos de
duração, é favorável à presença das tropas de Damasco no país, pelo menos
enquanto as várias facções beligerantes – e são muitas no Líbano – não
depuserem suas armas e se dispuserem a dialogar.
Ele entende que bem ou mal, as
forças de ocupação cumpriram, até aqui, o seu papel. Ou seja, impediram que as
diversas milícias adversárias protagonizassem uma mortandade ainda maior da que
se verificou em todos esses anos de batalha.
O novo presidente acha que se não
houvesse esse fator dissuasor, o número de mortos nestes quase 15 anos de
carnificina, não seria de 150 mil, conforme se estima, mas atingiria a cifras
muito mais elevadas.
O que a comunidade internacional
espera é que Aoun tenha um rasgo de grandeza e não venha a desunir a sua
própria comunidade. Que se compenetre da ilegitimidade do gabinete que diz
dirigir (formado à revelia do Parlamento) que ademais fracassou na condução dos
negócios nacionais e não deu um único passo em direção à paz que todos os
libaneses desejam.
Ao contrário, participou, com os
20 mil homens que comanda, de um dos episódios mais sangrentos dessa guerra
civil, que foram as sucessivas semanas de batalha, na capital e ao redor dela
contra grupos muçulmanos, que chegaram a esvaziar a cidade, reduzindo a sua
população dos seus mais de 1,1 milhão de habitantes, para algo em torno de 250
mil.
Já é hora de alguém tomar uma
iniciativa sensata e pôr fim ao estado de beligerância, que não trouxe
benefício algum para quem quer que fosse – a não ser para aqueles que se
enriqueceram com o tráfico de drogas, com a “indústria” dos seqüestros e com a
venda de armas às milícias. E para isso ter alguma chance de êxito, nada melhor
do que entregar a condução do processo pacificador a um homem tido como
moderado. Ou seja, que acredita e luta pela paz.
(Artigo publicado na página 17, Internacional, do Correio popular, em 7
de novembro de 1989).
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