Thursday, April 24, 2014

Gesto de boa vontade


Pedro J. Bondaczuk


A capital da Colômbia, Bogotá, parou por cerca de duas horas, no horário do almoço, no dia de ontem. Mas, ao contrário de outras tantas ocasiões, dessa vez\ não foi em virtude de nenhuma greve, ou ataque guerrilheiro, ou qualquer espécie de manifestação de protesto.

O que aconteceu ontem, em Bogotá, foi uma festa nacional, com carros abrindo, ruidosamente, suas buzinas, multidões agitando lenços brancos nas ruas, as igrejas repicando seus sinos e várias organizações pacifistas soltando pombas brancas, simbolizando a paz.

E por que tamanha festa? Pelo cumprimento de mais uma promessa, feita em palanque, durante a campanha eleitoral de 1982, pelo hoje presidente Belisário Betancur, qual seja, a de pacificar a família colombiana, estabelecendo trégua com a guerrilha, que há trinta e cinco anos intranqüiliza a população daquele país.

Outro compromisso assumido antes das eleições aquele chefe de Estado começou a cumprir (é verdade que premido pela necessidade) no início de maio, ao declarar guerra sem quartel aos poderosos traficantes de cocaína da Colômbia.

Essa guerra às eminências pardas da máfia, encravadas na nossa América do Sul, teve, por estopim, o atrevido assassinato do ministro da Justiça colombiano, Lara Bonilla. Que muitos radicais julgaram impossível, parece que aconteceu, embora ainda seja muito cedo para comemorações.

E o próprio presidente Betancour está consciente disso, o que deixou claro ao orar, ontem, numa missa especial, no palácio de governo, pelo êxito de seu plano de pacificação do país. Todos os homens de boa vontade, amantes da paz, torcem, ao lado do povo colombiano, para que o processo em andamento seja bem sucedido.

Isso virá demonstrar que não há divergência, por maior que ela possa se afigurar, que uma boa negociação, feita com espírito aberto pelas partes envolvidas, não possa solucionar. Seria, sem dúvida alguma, um passo adiante no entendimento entre os homens.    


(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 29 de maio de 1984)

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