Enfático recado a Khadafy
Pedro J. Bondaczuk
A condenação generalizada aos
ataques norte-americanos às cidades líbias de Trípoli e Benghazi (as exceções
foram a Grã-Bretanha, Israel e o Canadá), levados a efeito em 14 de abril
passado, foi interpretada, de forma equivocada, em alguns círculos. Muitos
simpatizantes do ditador libio Muammar Khadafy (que há 18 anos comanda os
destinos do seu país, embora oficialmente não ocupe nenhum cargo de governo e
jamais tenha falado em realizar eleições) e diversos de seus assessores
diretos, entenderam o repúdio internacional ao bombardeio como manifestação de
apoio à política do seu regime, o que está muito distante de corresponder à
realidade. Muito pelo contrário!
Pesam sérias suspeitas de que, de
uma maneira ou de outra, a Líbia esteve por trás dos piores atentados
terroristas ocorridos nos últimos tempos. O que não existe, é qualquer prova
palpável desse envolvimento.
Outro equívoco, que o coronel
Khadafy buscou disseminar nos últimos dias, é que as ações mais duras contra o
seu país significariam uma guerra do Ocidente contra toda a comunidade árabe.
Esse ponto, aliás, foi muito bem destacado, ontem, pelo presidente
norte-americano Ronald Reagan, num discurso que proferiu na Câmara do Comércio,
em Washington.
O político republicano deixou bem
claro que o inimigo comum, inclusive desses mesmos povos árabes, é o
terrorismo, praga que requer a união de toda a comunidade internacional para
ser eficazmente combatida e se possível erradicada.
A prova de que o repúdio aos bombardeios
da semana passada não significa nenhuma manifestação de solidariedade para com
o regime da Líbia, foi a decisão adotada pelo Mercado Comum Europeu de
restringir a circulação, nas principais capitais do continente, de cidadãos
procedentes desse país, mesmo os que exerçam funções diplomáticas.
O detestável boicote econômico,
sugerido por Reagan, porém, foi descartado pela maioria dos países, inclusive
pelo governo britânico, que tem razões de sobra para não morrer de amores por
Khadafy. Mas a providência adotada pelos europeus, nos parece equilibrada,
coerente e repleta de bom-senso, embora muita gente inocente, alheia a essas
estripulias extremistas, venha a ser atingida.
Os líbios têm negado
enfaticamente, nos últimos dias, as vinculações desse país com o terror.
Todavia, em questões como esta, apenas palavras não bastam. Cuba passou, anos
atrás, por um problema semelhante. Logo que Fidel Castro assumiu o poder na
ilha, o mundo conheceu um fenômeno até então insólito: os seqüestros de aviões.
Diariamente, pelo menos uma
aeronave era desviada, em alguma parte do mundo, para Havana. A princípio, os
cubanos não se importaram com esses atos de pirataria e alguns chegaram, até, a
se sentir orgulhosos porque tanta gente buscava chegar a esse país.
Todavia, a comunidade
internacional não achou nenhuma graça nisso. E Cuba começou a sentir logo os
efeitos da reação a esses delitos, recebendo, pela primeira vez, o título de
Estado que protegia e que estimulava o terrorismo.
Fidel conseguiu, somente, se
livrar dessa incômoda fama quando passou a punir com prisão os seqüestradores.
Apenas a partir de então, os pilotos das aeronaves comerciais deixaram de ouvir
a ordem que mais temiam, sempre que algum estranho invadia suas cabines. A de
“voe para Cuba, isto é um seqüestro!”.
A Líbia, se quiser obter
reabilitação perante seus pares da comunidade internacional, terá de agir da
mesma forma. Precisará deter os terroristas que buscarem refúgio no país e
entregar esses indesejáveis hóspedes à Justiça, para que paguem pelos seus
crimes.
Caso contrário, seu isolamento
irá crescer e chegar a tal ponto que num eventual novo ataque dos Estados
Unidos, ou de quem quer que seja, todos irão aplaudir, ao contrário do que
aconteceu agora, esse tipo de agressão. Ou, na melhor das hipóteses, buscarão o
cômodo refúgio do silêncio, ou seja, da omissão, para não se comprometer.
A atitude tomada, agora, pelos
governos europeus é um alerta a Khadafy e a seus seguidores. Resta que ele
tenha clarividência suficiente para entender o recado. Afinal, como diz o
adágio popular, “uma andorinha só não faz verão”.
(Artigo publicado na página 11,
Internacional, do Correio Popular, em 24 de abril de 1986).
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