A arte de dialogar
Pedro
J. Bondaczuk
O filósofo Platão é uma
das figuras mais fascinantes de todos os tempos, quer por suas atitudes, quer,
e principalmente, por suas idéias. É possível (não se pode descartar a
possibilidade) que tenha havido pensadores mais profundos e geniais do que ele,
de vida até mais exemplar e de descobertas, lições e propostas muito mais
importantes e factíveis do que as dele. Ainda no terreno das possibilidades,
podem ter existido esses seres geniais aos milhares, quiçá aos milhões, ao
longo da História. Mas... se existiram ou não, jamais poderemos saber. Em, caso
positivo, não restaram, sequer, mínimos vestígios de quem foram, onde e como
viveram, o que fizeram ou pensaram e vai por aí adiante. Simplesmente
desapareceram na poeira do tempo.
Já sobre Platão, não se
tem essas dificuldades. Trata-se do único filósofo antigo cuja obra completa
está disponível a nós, homens do século XXI. Mesmo que um ou outro dos seus
livros tenha chegado até nós com naturais e prováveis distorções (como
omissões, cortes e/ou acréscimos), ela pelo menos existe, está disponível e foi
traduzida para os principais idiomas. Pode, portanto, ser (e é) estudada por
interessados em idéias e conceitos de todo o mundo. Chega a ser até um milagre
que isso tenha acontecido, ditado, no meu entender, exclusivamente pelo acaso.
E dos outros, cujas opiniões a propósito da vida e do mundo que nos cerca são
citadas a todo o momento e também se constituem em objetos de estudo, talvez
até mais do que Platão?
Bem, de Aristóteles,
por exemplo, que foi quem mais influência exerceu, inclusive sobre a Filosofia
contemporânea, considerado “o mais versátil filósofo da história”, há consenso
entre os entendidos que muita coisa se perdeu. O que, quanto e qual a
importância, no conjunto de sua obra, do que foi perdido, é algo sobre o que só
se pode especular. Mas muito de sua vasta produção, irremediavelmente se
perdeu. O mesmo se pode dizer dos escritos de outros tantos homens notáveis,
luminares da Filosofia, de quem restaram, pelo menos, fragmentos de idéias –
uns mais e outros menos – como Epicuro de Samos, Plutarco de Queroneia, Tales
de Mileto, Aristótenes de Atenas, Parmênides de Eléia, Heráclito de Efeso,
Empédocles de Agrigento e Anaxágoras de Clazômenas, entre tantos, e tantos e
tantos outros.
A parte mais importante
da obra literária de Platão são os “Diálogos”, em número de trinta e cinco.
Além deles, o filósofo nos legou ainda um conjunto de treze cartas, em que
também traz à baila questões tais como conduta ética, cidadania e propostas
políticas, entre outras coisas. Em tudo o que ele escreveu fica clara a busca
pela verdade, através do processo mais humano que existe, o da “dialética”, que
pode ser definida como a “arte de dialogar”. E nisso Platão foi insuperável.
Daí seus livros terem esse nome genérico. Para efeito didático, os
especialistas dividem os “Diálogos” platônicos por ordem cronológica, em quatro
períodos.
Os primeiros são os de
juventude, ou socráticos, escritos antes da morte de Sócrates, seu mestre e
mentor, e consistem nos seguintes livros: “Apologia de Sócrates”, “Criton” ou
“Do dever”; “Ion” ou “Da Ilíada”; “Laqués” ou “Da coragem”; “Lisis” ou “Da
amizade”; “Cármides” ou “Da sabedoria” e “Eutifron” ou “Da santidade”.
Os “Diálogos” da fase
de transição de Platão, são: “Eutidemo” ou “Da Eristica”; “Hipias menos” ou “Da
mentira”; “Crátilo” ou “Da etimologia”; “Hipias Maior” ou “Do belo”; “Menexeno”
ou “Do epitáfio”; “Górgias” ou “Da retórica”; “República – livro I”;
“Protágoras” ou “Dos sofistas” e “Menon” ou “Da virtude”..
Os livros da fase de
maturidade são quatro, a saber: “Fédon” ou “Da alma”; “Banquete” ou “Do bem”;
“República – Livros II a X” e “Fedro” ou “Da beleza”.
Finalmente, os
“Diálogos” da velhice são oito, com os seguintes títulos: “Parmênides” ou “Das
formas”; “Tecteto” ou “Da ciência”; “Sofista” ou “Do ser”; “Político” ou “Da
realeza”; “Filebo” ou “Do prazer”; “Timeu” ou “Da natureza”; “Crítias” ou “Da
Atlântida” e “Leis” (livro inacabado).
Ler a obra de Platão, a
despeito da complexidade de alguns dos seus livros, e mesmo que discordemos de
muitas de suas colocações (que, no entanto, devem ser sempre contextualizadas,
levando em conta a realidade do tempo em que os escreveu) é, sem dúvida,
inigualável aventura do espírito. Não sou filósofo e tenho dificuldades em
entender determinadas idéias, principalmente por causa do excesso de jargões
característicos da “mãe de todas as ciências”. Mas, para mim, é sempre renovado
prazer a leitura dos “Diálogos” desse gênio, sobre o qual não me canso de
escrever e que pretendo, oportunamente, abordar muito mais.
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