Indignada
adjetivação
Pedro J. Bondaczuk
A revelação da existência de uma organização secreta
controlando um governo paralelo, à margem das leis da moral e da decência,
destinada a dilapidar o patrimônio nacional, feita na Comissão Parlamentar de
Inquérito que investiga o esquema de corrupção no Orçamento da União,
estarreceu e revoltou o País.
A que ponto chegamos! Em que mãos está o nosso
destino, o nosso futuro e a administração do nosso pretenso bem comum! É
impossível a um comentarista, por mais acostumado que esteja a lidar com
assuntos escabrosos, manter a serenidade e traçar uma análise fria e objetiva
diante de bandalheira tão vergonhosa.
Essa é uma questão cujo comentário é para ser feito
na base da farta adjetivação, com uma infinidade de adjetivos que caracterizem,
sobretudo, indignação e onde os pontos finais sejam todos substituídos por
sinais de exclamação. Ou seja, fugindo, por completo, das regras clássicas que
norteiam os bons artigos.
Essa quadrilha está se locupletando à custa da miséria
dos brasileiros. Graças a esses apátridas egoístas, que não têm a mínima noção
de nacionalidade e cujo deus e ideologia são apenas o dinheiro – e não o ganho
honestamente, mercê do trabalho individual, mas o obtido mediante mutretas e
esquemas – temos 32 milhões de famintos, 6 milhões de pais de família
desempregados, 7,2 milhões de crianças abandonadas, um sistema de saúde
medieval e em franca decomposição, escolas e universidades sucateadas e um
ensino de baixíssimo, além de outras realidades tão apavorantes ou mais, que
nos fazem rolar ladeira abaixo na direção do abismo.
O “governo paralelo”, de acordo com o pouco que foi
divulgado nos documentos apresentados na CPI da corrupção, vem dilapidando a
Nação desde pelo menos 1985. Isto, porque ninguém pode garantir que a mesma
organização, ou outras similares, não tenham atuado em outras ocasiões.
Em inúmeras oportunidades, os brasileiros,
certamente, se perguntaram: onde foi parar a riqueza gerada nas décadas de 60 e
70, quando o País teve o maior crescimento do mundo, com taxas superiores a 10%
por vários anos consecutivos? Hoje, já se sabe pelo menos parte da resposta.
Está nos célebres “paraísos fiscais” espalhados pelo mundo, nas contas
numeradas dos que ousaram roubar o Brasil.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 7 de dezembro de 1993)
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