Friday, April 04, 2014

Drogas na Europa


Pedro J. Bondaczuk


Parlamentares britânicos, que estiveram nos EUA, voltaram alarmados com a expansão do consumo de drogas naquele país que, pela sua imensa riqueza, é o alvo predileto dos grandes traficantes internacionais.

O grupo obteve a informação de que 12 milhões de norte-americanos usam a cocaína regularmente. E que cinco mil novos viciados por dia aderem a esse contingente de desesperados, condenados a uma duradoura (talvez permanente) escravidão. É um dado estarrecedor!

Além da cocaína, contudo, outras drogas têm grande aceitação e consumo nos EUA. Uma estimativa (otimista) dá conta de que pelo menos 20 milhões de pessoas consomem, com regularidade, a maconha. E destas, conforme revelação de Nancy Reagan, durante encontro que  manteve no início deste mês com 18 primeiras-damas de várias partes do mundo, 10%, ou seja, dois milhões, são crianças de 10 a 16 anos de idade.

Consome-se, ainda, em larga escala, desde a morfina e o ópio, à mescalina e vários cactos e cogumelos de origem mexicana. Torna-se impossível, portanto, de se avaliar a extensão do problema em sua real dimensão no país mais rico e poderoso do mundo.

Mas o continente europeu (e daí o alarme dos parlamentares ingleses) vê esse terrível mal estender, cada vez mais, seus poderosos tentáculos à Europa, pervertendo a sua juventude. Há quatro anos, e somente com a venda da heroína, a Máfia movimentou, apenas na Itália, país sem muita tradição em drogas, a bagatela de US$ 4 bilhões, o que daria para pagar as dívidas externas, somadas, da Bolívia e do Uruguai.

As apreensões desse tóxico, em 1984, cresceram em 40% em toda a Europa, o que é um indicador seguro de que a sua presença no continente aumentou de forma descontrolada. No dia 1º de abril, o Dr. Musons Ginesta, da Coordenadoria Nacional da Luta Antidroga, divulgou um relatório sobre a situação na Espanha. E concluiu que 10,4% da população espanhola consome, hoje, qualquer tipo de tóxico.

Num trabalho muito bem elaborado, quantificou, por tipo de droga, os viciados: 1,8 milhão consomem os derivados da maconha; 913 mil, anfetaminas; 760 mil, inalantes; 380 mil, cocaína; e 114 mil, heroína, num total pouco superior a 4 milhões de dependentes.

Os números são mais assustadores quando se sabe que os viciados, em todos os continentes, aumentam numa proporção espantosa, hoje tão grande que se torna impossível de se dimensionar. Estatística nenhuma, por exemplo, conseguiu ainda estabelecer os consumidores de drogas na Ásia, continente onde há milênios elas vêm causando estragos imensos.

Na África, recentemente, no dia 10 de abril, o governo nigeriano mandou executar três pessoas, presas por posse ilegal de cocaína, para que servissem de exemplo, tal é, hoje, a dimensão desse problema no país.

E na América Latina, o que acontece? Nem é preciso afirmar que praticamente inexistem estatísticas nessa área, hoje a maior produtora e distribuidora das principais drogas. Imensas fortunas são obtidas com esse lucrativo comércio e fortunas têm sido gastas, em ajuda, por parte dos EUA, para erradicar plantações de coca e de epadu, no Peru, no Equador, na Colômbia e na Venezuela e, proximamente, o Brasil também passará a receber essa espécie de auxílio.

Portanto, quando os parlamentares britânicos chegam a pedir o engajamento das Forças Armadas do seu país numa guerra total aos traficantes, não estão exagerando. As drogas são, hoje, a maior ameaça que, não somente os ingleses, mas toda a humanidade enfrenta, em tempos de paz.

É um problema para o qual ninguém pode fechar os olhos, sob o risco de amanhã ter um viciado em sua própria casa, a sofrer uma morte lenta e dolorosa, debaixo dos seus olhos, por causa da omissão dos que poderiam evitar a ocorrência desse mal, mas que não evitam.

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 24 de maio de 1985).


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