Alegria
de aprender
Pedro J. Bondaczuk
“O aprender algo é para mim uma
alegria”. Essa afirmação do dramaturgo sueco Johann August Strindberg poderia
ser feita por qualquer um de nós e continuaria sendo verdadeira. Vivemos
aprendendo, descobrindo, ampliando nosso acervo de informações e de
conhecimentos. A vida, grosso modo, consiste nisso. É contínua descoberta, do
nascimento à morte. O irônico é que justo no momento em que – ao menos
teoricamente – mais sabemos das coisas, quando contamos com experiência
suficiente para pelo menos não pisarmos “em buracos” perigosos e evitáveis ao
longo do caminho da vida, isso pouco ou nada nos sirva. Esse acúmulo próximo do
ideal, que seria desejável que ocorresse quando estivéssemos no auge do vigor
físico e mental, acontece somente quando já estamos velhos, cansados e prestes
a ver encerrado nosso ciclo de vida.
A partir do útero materno, quando
o sistema nervoso e por conseqüência o cérebro, estão formados, já temos
lampejos de consciência, posto que tênues e erráticos. É verdade que não temos
como externar, então, esse conhecimento primário: o de que existimos e nos
encontramos em ambiente muito bem protegido e acolhedor. Pelo menos é o que
dizem os especialistas (mas não me perguntem no que eles se baseiam, pois não
sei). Aliás, essa ínfima manifestação de consciência é possível de ser
comprovado mediante o processo da regressão. Trata-se da primeira descoberta de
uma sucessão que cada um de nós faremos no curso da existência, de acordo com
nossa realidade e personalidade. Uns descobrirão muito. Outros farão escassas
descobertas. Por isso, uns serão sábios. Outros... permanecerão néscios por não
quererem ou não saberem ou não poderem modificar suas circunstâncias.
Ao morrer, por mais amplo que
seja nosso acervo de conhecimentos, descobriremos o quanto foram tolos os
dogmas e falsos valores aos quais nos aferramos que nos impediram de ir além de
onde fomos. Mas... então já será tarde... Algumas descobertas que fazemos
ocorrem por processos traumáticos: pela dor (física e/ou emocional), em
decorrência de atos que poderíamos evitar, mas não evitamos. Eles seriam
evitáveis caso nos dedicássemos à busca do autoconhecimento o que, no entanto,
é raro, por razões que desconheço. Seria por temor do que possamos descobrir a
nosso respeito? Seria por vaidade, por nos recusarmos a admitir deficiências e
vulnerabilidades que todos notam e só nós não notamos? Ou seria, meramente, por
preguiça de tentarmos entender as razões que nos levam a nos comportar de
determinada maneira e não de outra? É possível que seja um pouco (ou seja
muito) de todas essas razões juntas.
Quanto mais amplo for o leque dos
nossos interesses, mais úteis poderemos ser para nós mesmos e para os que nos
cercam. Afinal, como diz conhecido ditado, “o saber não ocupa lugar”. Somos
dotados de múltiplos talentos, embora nem sempre tenhamos consciência. Eles são
somente potenciais e quase nunca nos dão pistas de como e do que são. Cabe-nos
descobri-los. E não apenas isso, mas, sobretudo, temos de desenvolvê-los ao
máximo possível, com leitura, com estudo, com autodisciplina e perseverança e,
principalmente, com exercício, muito exercício. Enfatizo, todavia, a
necessidade da persistência. Não podemos desistir da busca de mais
conhecimento, sobretudo do específico que tenda a nos tornar excelentes no que
mais gostamos e sabemos fazer, face ao primeiro obstáculo que tenhamos no
caminho. A tendência natural, (suponho que instintiva), é a da desistência.
Porém...
Victor Hugo escreveu: "Todo
o segredo dos grandes corações está nesta palavra: 'perseverar'. A constância
diz que espécie de homem há dentro de nós, qual é a nossa personalidade e a
dimensão da nossa coragem. Os constantes são os sublimes. Quem é apenas bravo
tem só um assomo, quem é apenas valente tem só um temperamento, quem é apenas
corajoso tem só uma virtude; o tenaz, porém, tem a grandeza".
Tenacidade é sinônimo de
persistência. Só ela conduz ao verdadeiro heroísmo. E este consiste em
vencermos nossas deficiências e em conquistarmos nossos sonhos... Persistir,
persistir e persistir. Este é o segredo dos vencedores. Nunca devemos desistir
do que tenhamos plena convicção que signifique nossa evolução, notadamente a
mental e a espiritual. Poucos, pouquíssimos, ostentam essa virtude.
Bravura, valentia e coragem de
nada valem sem a tenacidade, sem a capacidade de nunca desistir enquanto houver
remota chance de sucesso em algum de nossos tantos empreendimentos. Fernando
Pessoa já recomendava: “Sê plural como o universo”. Nossa curiosidade deve ser
insaciável, pois ela é o caminho mais seguro para a sabedoria. Por que sermos
sambas de uma nota só, se podemos ser polifônicas sinfonias, variadas,
interessantes e, sobretudo, harmoniosas? Por tudo o que escrevi (e pelo que
deixei de escrever), compartilho, plenamente, da declaração de Strindberg,
cujas palavras faço minhas: “O aprender algo é para mim uma alegria”. Só
aduziria: “uma imensa alegria”, a despeito das minhas mais de sete décadas de
vida.
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