Monday, April 28, 2014

Alegria de aprender

Pedro J. Bondaczuk

O aprender algo é para mim uma alegria”. Essa afirmação do dramaturgo sueco Johann August Strindberg poderia ser feita por qualquer um de nós e continuaria sendo verdadeira. Vivemos aprendendo, descobrindo, ampliando nosso acervo de informações e de conhecimentos. A vida, grosso modo, consiste nisso. É contínua descoberta, do nascimento à morte. O irônico é que justo no momento em que – ao menos teoricamente – mais sabemos das coisas, quando contamos com experiência suficiente para pelo menos não pisarmos “em buracos” perigosos e evitáveis ao longo do caminho da vida, isso pouco ou nada nos sirva. Esse acúmulo próximo do ideal, que seria desejável que ocorresse quando estivéssemos no auge do vigor físico e mental, acontece somente quando já estamos velhos, cansados e prestes a ver encerrado nosso ciclo de vida.

A partir do útero materno, quando o sistema nervoso e por conseqüência o cérebro, estão formados, já temos lampejos de consciência, posto que tênues e erráticos. É verdade que não temos como externar, então, esse conhecimento primário: o de que existimos e nos encontramos em ambiente muito bem protegido e acolhedor. Pelo menos é o que dizem os especialistas (mas não me perguntem no que eles se baseiam, pois não sei). Aliás, essa ínfima manifestação de consciência é possível de ser comprovado mediante o processo da regressão. Trata-se da primeira descoberta de uma sucessão que cada um de nós faremos no curso da existência, de acordo com nossa realidade e personalidade. Uns descobrirão muito. Outros farão escassas descobertas. Por isso, uns serão sábios. Outros... permanecerão néscios por não quererem ou não saberem ou não poderem modificar suas circunstâncias.

Ao morrer, por mais amplo que seja nosso acervo de conhecimentos, descobriremos o quanto foram tolos os dogmas e falsos valores aos quais nos aferramos que nos impediram de ir além de onde fomos. Mas... então já será tarde... Algumas descobertas que fazemos ocorrem por processos traumáticos: pela dor (física e/ou emocional), em decorrência de atos que poderíamos evitar, mas não evitamos. Eles seriam evitáveis caso nos dedicássemos à busca do autoconhecimento o que, no entanto, é raro, por razões que desconheço. Seria por temor do que possamos descobrir a nosso respeito? Seria por vaidade, por nos recusarmos a admitir deficiências e vulnerabilidades que todos notam e só nós não notamos? Ou seria, meramente, por preguiça de tentarmos entender as razões que nos levam a nos comportar de determinada maneira e não de outra? É possível que seja um pouco (ou seja muito) de todas essas razões juntas.

Quanto mais amplo for o leque dos nossos interesses, mais úteis poderemos ser para nós mesmos e para os que nos cercam. Afinal, como diz conhecido ditado, “o saber não ocupa lugar”. Somos dotados de múltiplos talentos, embora nem sempre tenhamos consciência. Eles são somente potenciais e quase nunca nos dão pistas de como e do que são. Cabe-nos descobri-los. E não apenas isso, mas, sobretudo, temos de desenvolvê-los ao máximo possível, com leitura, com estudo, com autodisciplina e perseverança e, principalmente, com exercício, muito exercício. Enfatizo, todavia, a necessidade da persistência. Não podemos desistir da busca de mais conhecimento, sobretudo do específico que tenda a nos tornar excelentes no que mais gostamos e sabemos fazer, face ao primeiro obstáculo que tenhamos no caminho. A tendência natural, (suponho que instintiva), é a da desistência. Porém...

Victor Hugo escreveu: "Todo o segredo dos grandes corações está nesta palavra: 'perseverar'. A constância diz que espécie de homem há dentro de nós, qual é a nossa personalidade e a dimensão da nossa coragem. Os constantes são os sublimes. Quem é apenas bravo tem só um assomo, quem é apenas valente tem só um temperamento, quem é apenas corajoso tem só uma virtude; o tenaz, porém, tem a grandeza".

Tenacidade é sinônimo de persistência. Só ela conduz ao verdadeiro heroísmo. E este consiste em vencermos nossas deficiências e em conquistarmos nossos sonhos... Persistir, persistir e persistir. Este é o segredo dos vencedores. Nunca devemos desistir do que tenhamos plena convicção que signifique nossa evolução, notadamente a mental e a espiritual. Poucos, pouquíssimos, ostentam essa virtude.

Bravura, valentia e coragem de nada valem sem a tenacidade, sem a capacidade de nunca desistir enquanto houver remota chance de sucesso em algum de nossos tantos empreendimentos. Fernando Pessoa já recomendava: “Sê plural como o universo”. Nossa curiosidade deve ser insaciável, pois ela é o caminho mais seguro para a sabedoria. Por que sermos sambas de uma nota só, se podemos ser polifônicas sinfonias, variadas, interessantes e, sobretudo, harmoniosas? Por tudo o que escrevi (e pelo que deixei de escrever), compartilho, plenamente, da declaração de Strindberg, cujas palavras faço minhas: “O aprender algo é para mim uma alegria”. Só aduziria: “uma imensa alegria”, a despeito das minhas mais de sete décadas de vida.


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