Sunday, April 27, 2014

Abrangência e responsabilidade

Pedro J. Bondaczuk

O escritor inglês Arthur C. Clarke, num ensaio publicado em 3 de setembro de 1978 no Suplemento Literário do "O Estado de São Paulo", sob o título "O futuro no mundo das comunicações" – que comentei fartamente, em pelo menos uma dezena de textos –, justifica a necessidade das pessoas de saberem tudo o que se passa, quer ao seu redor, quer em qualquer parte do mundo e até mesmo alhures, do universo. Há quem afirme que isso não é necessário, mas quem diz esse tipo de disparate sequer raciocina. Fala por falar, como tanta gente faz o tempo todo, sem atentar para as bobagens que diz.

Clarke, que além de escritor foi também cientista, na verdade inventor, escreveu a propósito: "O homem é um animal comunicativo. Exige notícias, informações, divertimentos, quase tanto quanto alimento. Na verdade, como um ser humano na ativa, pode sobreviver muito mais sem alimento – e mesmo sem água –  do que sem informação, como nos mostraram experiências de privação sensorial". Basta um tantinho que seja de observação – e nem precisaremos observar os outros, mas nosso próprio comportamento – para nos convencermos do acerto dessa declaração. Temos insaciável fome e sede por informações, seja de que tipo forem ou sobre o que quer que sejam.

Neste caso, considero a Internet uma espécie de perfeito "kit de primeiros socorros" em termos de comunicação. Claro, faço as ressalvas de praxe. Ou seja, esse meio poderoso de informação e de difusão de idéias, e também de contatos e relacionamentos, tem, de fato, essa utilidade toda, mas desde que a utilizemos com critério e para fins exclusivamente construtivos. Ou seja, desde que não façamos dele ferramenta para cometer delitos de toda a sorte, crimes contra a honra e/ou o patrimônio ou para dar vazão a aberrações e baixos instintos, como alguns psicopatas e sociopatas o fazem a todo o momento. Pessoas desequilibradas – maldosas, viciadas, taradas etc.etc.etc. cuja única preocupação é aborrecer, chatear e dar prejuízos aos outros – existem aos montões. Sempre existiram e com certeza continuarão a existir, com ou sem internet. São irrecuperáveis. São erros da natureza. E esta, apesar de sua aparente perfeição, também erra, e muito e a todo o momento.

Não é este ou aquele meio que é ruim e perigoso. São as pessoas que se utilizam deles. Um martelo, por exemplo, nas mãos de um operário, é utilíssimo e até indispensável, digamos, para um marceneiro ou para um carpinteiro, que não podem prescindir dele. Todavia, esse mesmo instrumento, utilizado por um assassino, ávido por suprimir vidas, torna-se arma perigosíssima, sumamente letal. A internet, dada sua abrangência, liberdade e, sobretudo, utilidade (para quem sabe como melhor utilizá-la), veio para ficar. Não se trata de mero modismo, como alguns afoitos e, sobretudo, céticos, chegaram a prever. Em duas ou três décadas de existência, com todos os riscos que traz quando utilizada por marginais (e estes a usam cada vez mais), se impôs, criando novas posturas e comportamentos. Ela sim “encolheu” o mundo e o tornou a “aldeia global” preconizada por Marshall McLuhan.

No meu caso, que exerço dupla função (posto que ambas, grosso modo, correlatas), como o jornalismo e a literatura, a internet tornou-se muito mais do que útil: é indispensável. Não concebo minha vida sem esse instrumento que me põe em contato irrestrito com o mundo, quer como agente passivo da comunicação, quer como ativo, ou seja, como protagonista. Recebo e emito notícias, virtualmente, o dia todo, por esse veículo. Leio e escrevo toda a sorte de textos, que me ampliam, de forma que nenhum outro veículo me permitiria ampliar, a percepção de mundo e da realidade, a dimensões até recentemente inconcebíveis. Aprendi, em curto espaço de tempo, coisas que jamais supus que sequer existissem, em muito maior quantidade do que as aprendidas em anos de universidade  Ampliei meus horizontes mentais e, com isso, tornei-me, claro, muito mais criativo.

Com a internet satisfaço – mesmo que não exclusivamente com ela – a tal “fome” por informações e comunicação, citadas por Arthur Clarke em seu ensaio como sendo mais urgentes e prioritárias até do que água e alimentos. Levei anos, como jornalista que assinava textos rigorosamente diários nos dois jornais de Campinas, Diário do Povo (hoje extinto) e Correio Popular, para conquistar certo público leitor razoavelmente fiel, em torno de uns dez a quinze mil indivíduos, se tanto. E olhem que por quase quinze anos consecutivos mantive coluna de comentários rigorosamente diários, sem falhar nenhum dia, nem nos sábados, domingos ou feriados. Através da internet, todavia, em escassos quatro ou cinco anos de utilização, consegui uma quantidade de leitores que estimo (e só posso estimar) em dez vezes mais (sem exagero) do que a obtida através dos jornais em que trabalhei.

Volta e meia sou surpreendido com algum e-mail procedente da Alemanha, do Japão, da Noruega e de outras tantas partes do mundo, de pessoas que me informam terem lido algum texto meu. Do Brasil, então, essas manifestações espontâneas e surpreendentes, se multiplicam, exponencialmente. Foi por causa da divulgação de minhas crônicas, artigos, ensaios etc. pela internet que textos meus serviram, e têm servido, para a formulação de questões em vestibulares e concursos públicos. Querem satisfação maior para um escritor do que esta, do que a certeza de ser lido? Afinal, não escrevemos para nosso próprio e exclusivo deleite. Fazemo-lo para o mundo. Claro que essa amplíssima visibilidade exige de nós infinita responsabilidade. Exige, sobretudo, qualidade, correção e acessibilidade do que escrevemos. Pense nisso, amigo escritor, e empenhe-se em melhorar, evoluir, aprender e ensinar, mais e mais, a cada dia e se preciso e possível, a cada hora até.


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