Abrangência
e responsabilidade
Pedro J. Bondaczuk
O escritor inglês Arthur C.
Clarke, num ensaio publicado em 3 de setembro de 1978 no Suplemento Literário
do "O Estado de São Paulo", sob o título "O futuro no mundo das
comunicações" – que comentei fartamente, em pelo menos uma dezena de
textos –, justifica a necessidade das pessoas de saberem tudo o que se passa, quer
ao seu redor, quer em qualquer parte do mundo e até mesmo alhures, do universo.
Há quem afirme que isso não é necessário, mas quem diz esse tipo de disparate
sequer raciocina. Fala por falar, como tanta gente faz o tempo todo, sem
atentar para as bobagens que diz.
Clarke, que além de escritor foi
também cientista, na verdade inventor, escreveu a propósito: "O homem é um
animal comunicativo. Exige notícias, informações, divertimentos, quase tanto
quanto alimento. Na verdade, como um ser humano na ativa, pode sobreviver muito
mais sem alimento – e mesmo sem água –
do que sem informação, como nos mostraram experiências de privação
sensorial". Basta um tantinho que seja de observação – e nem precisaremos
observar os outros, mas nosso próprio comportamento – para nos convencermos do
acerto dessa declaração. Temos insaciável fome e sede por informações, seja de
que tipo forem ou sobre o que quer que sejam.
Neste caso, considero a Internet
uma espécie de perfeito "kit de primeiros socorros" em termos de comunicação.
Claro, faço as ressalvas de praxe. Ou seja, esse meio poderoso de informação e
de difusão de idéias, e também de contatos e relacionamentos, tem, de fato,
essa utilidade toda, mas desde que a utilizemos com critério e para fins
exclusivamente construtivos. Ou seja, desde que não façamos dele ferramenta
para cometer delitos de toda a sorte, crimes contra a honra e/ou o patrimônio
ou para dar vazão a aberrações e baixos instintos, como alguns psicopatas e
sociopatas o fazem a todo o momento. Pessoas desequilibradas – maldosas,
viciadas, taradas etc.etc.etc. cuja única preocupação é aborrecer, chatear e
dar prejuízos aos outros – existem aos montões. Sempre existiram e com certeza
continuarão a existir, com ou sem internet. São irrecuperáveis. São erros da
natureza. E esta, apesar de sua aparente perfeição, também erra, e muito e a
todo o momento.
Não é este ou aquele meio que é
ruim e perigoso. São as pessoas que se utilizam deles. Um martelo, por exemplo,
nas mãos de um operário, é utilíssimo e até indispensável, digamos, para um
marceneiro ou para um carpinteiro, que não podem prescindir dele. Todavia, esse
mesmo instrumento, utilizado por um assassino, ávido por suprimir vidas,
torna-se arma perigosíssima, sumamente letal. A internet, dada sua abrangência,
liberdade e, sobretudo, utilidade (para quem sabe como melhor utilizá-la), veio
para ficar. Não se trata de mero modismo, como alguns afoitos e, sobretudo,
céticos, chegaram a prever. Em duas ou três décadas de existência, com todos os
riscos que traz quando utilizada por marginais (e estes a usam cada vez mais),
se impôs, criando novas posturas e comportamentos. Ela sim “encolheu” o mundo e
o tornou a “aldeia global” preconizada por Marshall McLuhan.
No meu caso, que exerço dupla
função (posto que ambas, grosso modo, correlatas), como o jornalismo e a
literatura, a internet tornou-se muito mais do que útil: é indispensável. Não
concebo minha vida sem esse instrumento que me põe em contato irrestrito com o
mundo, quer como agente passivo da comunicação, quer como ativo, ou seja, como
protagonista. Recebo e emito notícias, virtualmente, o dia todo, por esse
veículo. Leio e escrevo toda a sorte de textos, que me ampliam, de forma que
nenhum outro veículo me permitiria ampliar, a percepção de mundo e da
realidade, a dimensões até recentemente inconcebíveis. Aprendi, em curto espaço
de tempo, coisas que jamais supus que sequer existissem, em muito maior
quantidade do que as aprendidas em anos de universidade Ampliei meus horizontes mentais e, com isso,
tornei-me, claro, muito mais criativo.
Com a internet satisfaço – mesmo
que não exclusivamente com ela – a tal “fome” por informações e comunicação,
citadas por Arthur Clarke em seu ensaio como sendo mais urgentes e prioritárias
até do que água e alimentos. Levei anos, como jornalista que assinava textos
rigorosamente diários nos dois jornais de Campinas, Diário do Povo (hoje
extinto) e Correio Popular, para conquistar certo público leitor razoavelmente
fiel, em torno de uns dez a quinze mil indivíduos, se tanto. E olhem que por
quase quinze anos consecutivos mantive coluna de comentários rigorosamente
diários, sem falhar nenhum dia, nem nos sábados, domingos ou feriados. Através
da internet, todavia, em escassos quatro ou cinco anos de utilização, consegui uma
quantidade de leitores que estimo (e só posso estimar) em dez vezes mais (sem
exagero) do que a obtida através dos jornais em que trabalhei.
Volta e meia sou surpreendido com
algum e-mail procedente da Alemanha, do Japão, da Noruega e de outras tantas
partes do mundo, de pessoas que me informam terem lido algum texto meu. Do
Brasil, então, essas manifestações espontâneas e surpreendentes, se
multiplicam, exponencialmente. Foi por causa da divulgação de minhas crônicas,
artigos, ensaios etc. pela internet que textos meus serviram, e têm servido,
para a formulação de questões em vestibulares e concursos públicos. Querem
satisfação maior para um escritor do que esta, do que a certeza de ser lido?
Afinal, não escrevemos para nosso próprio e exclusivo deleite. Fazemo-lo para o
mundo. Claro que essa amplíssima visibilidade exige de nós infinita
responsabilidade. Exige, sobretudo, qualidade, correção e acessibilidade do que
escrevemos. Pense nisso, amigo escritor, e empenhe-se em melhorar, evoluir,
aprender e ensinar, mais e mais, a cada dia e se preciso e possível, a cada
hora até.
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