Concorrência é fundamental
Pedro J.
Bondaczuk
A liberação dos preços, com o funcionamento das leis da
oferta e da procura na praça, tende a deixar o consumidor sem um parâmetro, uma
base, um referencial confiável sobre se o que está sendo vendido é caro ou
barato.
Hoje, as pessoas têm que andar
muito antes de comprar qualquer mercadoria, para não desperdiçar seu precioso e
escasso dinheirinho. Mas aí entra a questão do tempo. Essa ronda por lojas e
supermercados em geral é feita em horas que nem todos têm condições de perder.
Pensando nisso, o Ministério da Justiça está anunciando a implantação, para os
próximos dias, de um inestimável serviço à população. Trata-se do “Balcão do
Cidadão”.
O sistema nada mais é do que um
banco de dados, contendo os preços comparados praticados nos maiores
estabelecimentos varejistas do mercado. O governo, inclusive, está apostando
nisso para um combate mais eficaz à inflação.
Outra vantagem será a
possibilidade das autoridades verificarem se está havendo ou não concorrência
na praça e em quais patamares, se nivelada pelo alto, abusiva, explorando o
desesperado consumidor, ou se a tendência é a da redução.
A intenção do ministro Bernardo
Cabral é a de conseguir com que os jornais de todos os Estados publiquem os
preços comparados, atualizados por computadores, diariamente. Está aí um
instrumento que se torce para dar certo, já que neste País, estranhamente, as
boas medidas, quando conseguem decolar do papel, têm vida tão curta que a
maioria sequer fica sabendo da sua existência.
O “Balcão do Cidadão”, se
porventura vier de fato a ser implantado, forçará os agentes econômicos a se
tornarem competitivos, a estabelecerem um rigoroso autocontrole para
permanecerem na concorrência, sob pena de terem de fechar suas portas por absoluta
ausência do principal personagem que viabiliza a sua atividade: o cliente.
Caso se queira estabelecer uma
economia automaticamente de livre mercado no País, conforme se vem apregoando
com insistência nos últimos tempos, é indispensável que haja um mecanismo desse
tipo, até para orientação dos próprios atacadistas e varejistas, que hoje não dispõem de
parâmetros muito confiáveis para a venda de suas mercadorias.
Afinal, durante tantos anos, o
verbo concorrer, em vista das contínuas mudanças nas regras do jogo econômico e
das desastradas intervenções do Estado numa área em que ele nunca se mostrou
competente, foi uma palavra, somente relegada ao dicionário e jamais uma
atitude.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 20 de julho
de 1990)
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