Conhecimentos e
conjecturas
Pedro
J. Bondaczuk
O homem, desde que
tomou consciência de que “existia”, de que podia pensar, de que a imaginação
não precisava ter (e não tem) limites e de que era livre para sonhar, jamais se
conformou em viver apenas o presente. E este – insisto em enfatizar sempre que
posso – é tão rápido, tão efêmero, tão volátil e fugaz, que pode ser
considerado, sem exagero, mera abstração, Praticamente não existe. É
indetectável.
Esse animal,
provavelmente exótico aos olhos de outros seres vivos e eventualmente
inteligentes (caso existam, alhures, o que considero lógico e provável) busca
ora retroceder ao passado, próximo ou remoto, em busca das origens (tanto da
própria espécie, quanto das demais e de tudo o que há, animado e/ou inanimado),
ora tenta avançar no futuro, quer o do minuto seguinte, quer ao de meses, anos,
séculos e milênios. Nos dois casos, o homem esbarra em sua fragilidade (diria
“insignificância”), que lhe determina inúmeras limitações. Ainda assim,
conseguiu armazenar um acervo de informações monstruosamente grande. Tamanho
que é completamente impossível que uma única pessoa conheça sequer um
trilionésimo, ou bilhões de vezes menos, desse fabuloso conjunto de
conhecimentos. Aliás, não é possível a ninguém, por genial que seja e por
absurdamente alta capacidade de retenção que tenha, aprender, ao menos, o
conteúdo de informações equivalente ao de um banco de dados médio, de uma
universidade qualquer, mesmo que de porte pequeno.
Pudesse o homem saber
pelo menos a totalidade do passado da espécie, desde sua origem (como foi?
Quando? Onde?) já seria um conhecimento fantástico, embora parcial, ínfima
fração do que se “poderia” conhecer. Todavia... não conhece. Esbarra em suas
limitações. Não conta, sobretudo, com fontes em que isso pudesse estar
registrado. Não há registros. A quase totalidade do que o homem chama de
“história” não passa de conjunto de conjecturas, de teorias, de hipóteses, de
especulações. Conhecemos “versões” de determinados acontecimentos do passado e
assim mesmo somente dos ocorridos após a invenção do alfabeto e, por
conseqüência, de registros escritos.
Quanto, porém, de tudo
o que aconteceu foi registrado? Qual o grau de confiabilidade desses registros?
Quanto se perdeu na bruma do tempo, destruído em decorrência de guerras e de
inúmeros cataclismos naturais que certamente varreram do mapa povos inteiros
sem que deles restassem mínimos vestígios de que sequer existiram, quanto mais
de como viveram, onde, quais eram seus costumes, como pensavam etc.etc,etc.?
Quem sabe? Ninguém! Absolutamente ninguém! Isso sem falar na diferença de
idiomas. Afinal, o homem não fala e, por consequência não escreve, numa única
língua.
“Explicamos” o que não
podemos comprovar, reitero, mediante hipóteses, teorias e conjecturas, que
estranhamente assumem foro de verdades (que não são) e muitas das quais se
transformam em dogmas. E ai de quem ousar pensar de maneira diferente. O preço
dessa “ousadia” será intolerável. Na prática, não há, nem mesmo, a tão
apregoada liberdade de pensamento. Basta você pensar, por exemplo, de forma
diversa da que está estatuída como “verdade”, para ser considerado, no mínimo,
exótico, quando não insano o que, neste caso, pode lhe valer definitiva
segregação da sociedade, internado em algum manicômio, quando não coisa pior,
como aconteceu, por exemplo, com Giordano Bruno e tantos outros pensadores
“rebeldes”.
.
Fico pasmo como
determinadas conjecturas, baseadas em meras e fragílimas evidências,
rapidamente se transformam em “fatos”, que, claro, não são. Incomoda-me, por
exemplo, o caso dos animais pré-históricos, que teriam antecedido o homem no
Planeta. Cito um caso que me vem no momento à memória. Com base em conjuntos de
alguns ossos encontrados por paleontólogos do que se convencionou chamar de
“dinossauros” (todas as nomenclaturas, de tudo e de todos, sem exceção, são de
autoria de pessoas) e exclusivamente nisso, alguém conseguiu a “façanha” de
esboçar como eles teriam sido, como se fosse uma fotografia de corpo inteiro
desses seres imaginários.
Pergunto: alguém já viu
um exemplar, um único que fosse, desses animais para saber como eram? Óbvio que
não! Nem poderia. Até porque, o homem sequer existia quando esses bichos
grandalhões, supostamente, andaram sobre a Terra (supõe-se que tenham andado).
A fantasia, transformada, sabe-se lá porque, em “verdade”, todavia, vai a
extremos. Com base, exclusivamente, nesses conjuntos de ossos, alguns se julgam
habilitados a afirmar não só como eram, mas como andavam, do que se
alimentavam, como se reproduziam etc.etc.etc. Quando muito, isso tudo não passa
de conjectura, de hipótese ou mesmo de teoria, quando não somente de fantasia.
Mas considerar essa
suposição como verdade!!! Para mim, para minha mente cartesiana e lógica, isso
é demais, é a heresia das heresias! E experimente contestar essa hipótese, transformada
em dogma, mesmo que com argumentos sólidos e incontestáveis! O mínimo que irá
lhe acontecer é ser considerado, de imediato, ignorante, ingênuo, burro, ou
coisa pior, por pessoas que nem se dão conta que têm cabeça, ou que entendem
que esta existe apenas para pentear cabelos ou para usar boné.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment