Tuesday, April 29, 2014

Conhecimentos e conjecturas

Pedro J. Bondaczuk

O homem, desde que tomou consciência de que “existia”, de que podia pensar, de que a imaginação não precisava ter (e não tem) limites e de que era livre para sonhar, jamais se conformou em viver apenas o presente. E este – insisto em enfatizar sempre que posso – é tão rápido, tão efêmero, tão volátil e fugaz, que pode ser considerado, sem exagero, mera abstração, Praticamente não existe. É indetectável.

Esse animal, provavelmente exótico aos olhos de outros seres vivos e eventualmente inteligentes (caso existam, alhures, o que considero lógico e provável) busca ora retroceder ao passado, próximo ou remoto, em busca das origens (tanto da própria espécie, quanto das demais e de tudo o que há, animado e/ou inanimado), ora tenta avançar no futuro, quer o do minuto seguinte, quer ao de meses, anos, séculos e milênios. Nos dois casos, o homem esbarra em sua fragilidade (diria “insignificância”), que lhe determina inúmeras limitações. Ainda assim, conseguiu armazenar um acervo de informações monstruosamente grande. Tamanho que é completamente impossível que uma única pessoa conheça sequer um trilionésimo, ou bilhões de vezes menos, desse fabuloso conjunto de conhecimentos. Aliás, não é possível a ninguém, por genial que seja e por absurdamente alta capacidade de retenção que tenha, aprender, ao menos, o conteúdo de informações equivalente ao de um banco de dados médio, de uma universidade qualquer, mesmo que de porte pequeno.  

Pudesse o homem saber pelo menos a totalidade do passado da espécie, desde sua origem (como foi? Quando? Onde?) já seria um conhecimento fantástico, embora parcial, ínfima fração do que se “poderia” conhecer. Todavia... não conhece. Esbarra em suas limitações. Não conta, sobretudo, com fontes em que isso pudesse estar registrado. Não há registros. A quase totalidade do que o homem chama de “história” não passa de conjunto de conjecturas, de teorias, de hipóteses, de especulações. Conhecemos “versões” de determinados acontecimentos do passado e assim mesmo somente dos ocorridos após a invenção do alfabeto e, por conseqüência, de registros escritos.

Quanto, porém, de tudo o que aconteceu foi registrado? Qual o grau de confiabilidade desses registros? Quanto se perdeu na bruma do tempo, destruído em decorrência de guerras e de inúmeros cataclismos naturais que certamente varreram do mapa povos inteiros sem que deles restassem mínimos vestígios de que sequer existiram, quanto mais de como viveram, onde, quais eram seus costumes, como pensavam etc.etc,etc.? Quem sabe? Ninguém! Absolutamente ninguém! Isso sem falar na diferença de idiomas. Afinal, o homem não fala e, por consequência não escreve, numa única língua.

“Explicamos” o que não podemos comprovar, reitero, mediante hipóteses, teorias e conjecturas, que estranhamente assumem foro de verdades (que não são) e muitas das quais se transformam em dogmas. E ai de quem ousar pensar de maneira diferente. O preço dessa “ousadia” será intolerável. Na prática, não há, nem mesmo, a tão apregoada liberdade de pensamento. Basta você pensar, por exemplo, de forma diversa da que está estatuída como “verdade”, para ser considerado, no mínimo, exótico, quando não insano o que, neste caso, pode lhe valer definitiva segregação da sociedade, internado em algum manicômio, quando não coisa pior, como aconteceu, por exemplo, com Giordano Bruno e tantos outros pensadores “rebeldes”.
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Fico pasmo como determinadas conjecturas, baseadas em meras e fragílimas evidências, rapidamente se transformam em “fatos”, que, claro, não são. Incomoda-me, por exemplo, o caso dos animais pré-históricos, que teriam antecedido o homem no Planeta. Cito um caso que me vem no momento à memória. Com base em conjuntos de alguns ossos encontrados por paleontólogos do que se convencionou chamar de “dinossauros” (todas as nomenclaturas, de tudo e de todos, sem exceção, são de autoria de pessoas) e exclusivamente nisso, alguém conseguiu a “façanha” de esboçar como eles teriam sido, como se fosse uma fotografia de corpo inteiro desses seres imaginários.

Pergunto: alguém já viu um exemplar, um único que fosse, desses animais para saber como eram? Óbvio que não! Nem poderia. Até porque, o homem sequer existia quando esses bichos grandalhões, supostamente, andaram sobre a Terra (supõe-se que tenham andado). A fantasia, transformada, sabe-se lá porque, em “verdade”, todavia, vai a extremos. Com base, exclusivamente, nesses conjuntos de ossos, alguns se julgam habilitados a afirmar não só como eram, mas como andavam, do que se alimentavam, como se reproduziam etc.etc.etc. Quando muito, isso tudo não passa de conjectura, de hipótese ou mesmo de teoria, quando não somente de fantasia.

Mas considerar essa suposição como verdade!!! Para mim, para minha mente cartesiana e lógica, isso é demais, é a heresia das heresias! E experimente contestar essa hipótese, transformada em dogma, mesmo que com argumentos sólidos e incontestáveis! O mínimo que irá lhe acontecer é ser considerado, de imediato, ignorante, ingênuo, burro, ou coisa pior, por pessoas que nem se dão conta que têm cabeça, ou que entendem que esta existe apenas para pentear cabelos ou para usar boné.


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