Escolas públicas sucateadas
Pedro J.
Bondaczuk
A educação, por ser o bem mais precioso que pode ser
outorgado a um ser humano por desenvolver as suas potencialidades, é um dos
direitos mais sagrados de todo o cidadão. Isto, inclusive, consta em dois lugares
diferentes da Constituição: no Artigo 6 do Capítulo II e no 205, do Capítulo
III, seção I.
O artigo 206 traz os princípios
em que o ensino deve ser ministrado e o seu inciso VII estabelece que um deles
é a “garantia de padrão de qualidade”. O espírito do texto constitucional é o
de que tal fator qualitativo englobe não somente a substância do que é
ensinado, mas igualmente as suas condições.
Todavia, não foi isso o que
encontraram os alunos de várias escolas da rede estadual de Campinas, no seu
retorno às aulas na segunda-feira, conforme matéria publicada pelo Correio
Popular anteontem.
É fácil de se constatar que “a
maior parte dos prédios escolares da cidade não tem condições de atender
adequadamente os alunos, apresentando problemas que vão da falta de limpeza,
precariedade de salas e banheiros, e até a ausência de carteiras e cadeiras
para todos os estudantes”.
Em tais condições é muito difícil
um professor se sentir motivado a ensinar e um jovem a aprender. O chato de
tudo isso é que esse estado de carência – diríamos de miserabilidade – somente
mostra o descaso com que a educação ainda é tratada no Brasil, a despeito de
tantas e tão enfáticas promessas dos políticos durante as campanhas eleitorais.
Se numa cidade atípica como
Campinas – que apresenta todas as características de uma metrópole de Primeiro
Mundo plantada em pleno Terceiro – isto se verifica (e no Estado mais rico da
Federação), o que não acontece por esse imenso Brasil afora?
Pode parecer exagero para alguns,
indiferentes a essas questões, mas é exatamente aí, nessa deficiência material
e espiritual do ensino brasileiro, que reside a verdadeira raiz da interminável
crise que nos afeta. A maioria dos cidadãos acaba ficando num verdadeiro beco
sem saída. Não pode colocar os filhos numa escola particular, em virtude da
precária renda que possui. E as do Estado enfrentam um acelerado processo de
“sucateamento”, sem assegurar aos alunos a “qualidade” que lhes é garantida
pelo texto constitucional.
Daí a necessidade da construção
de tantos presídios para abrigar os que são desajustados numa sociedade que tem
tudo para prosperar, mas que descuida do seu futuro e paga um duro preço por
essa omissão. Num País que garante a todos o direito à educação, em sua lei
maior, mas que não possui vontade política para assegurar o exercício dessa
prerrogativa.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 2 de
agosto de 1990).
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