Talento para destruir
Os ecologistas do mundo todo, e especialmente os
norte-americanos, do Estado da Califórnia, têm todos os motivos do mundo para
irritação com os políticos. E também com as pessoas insensatas, que não
entendem a importância da preservação da natureza para a sobrevivência da
espécie. Afinal, não temos um planeta substituto nas redondezas, com condições
de abrigar a vida, que esteja à nossa espera quando tornarmos este nosso domo
cósmico inabitável. E não está faltando muito para que isso aconteça.
Matas que levaram milhares de
anos para serem formadas são devastadas em questão de dias, ou até de horas. No
primeiro caso, para a exploração comercial da madeira, atividade das mais
rendosas que há. No segundo, com as cada vez mais freqüentes queimadas,
intencionais ou acidentais, não importa.
Derramamentos e mais
derramamentos de petróleo e de outros produtos químicos ocorrem no mar, tido e
havido como a derradeira fronteira alimentar da humanidade, quando todas as
terras agriculturáveis estiverem exauridas, o que não deve demorar tanto tempo.
Anualmente, 20 quilômetros de
solos férteis, em média, são transformados em desertos e os políticos,
mergulhados em suas pueris picuinhas ideológicas e guerrinhas comerciais, nem
se dão conta disso. A maioria sequer conhece essa realidade, talvez porque a
desertificação não ameace os seus países.
Mas eles se esquecem que os
territórios onde vivem não são outros mundos. Integram a área deste Planeta e
que, caso haja um desequilíbrio em qualquer das suas partes, serão igualmente
afetados, mais cedo ou mais tarde, de uma forma ou de outra.
Agora, para culminar, os
responsáveis por um laboratório da Califórnia chegaram ao cúmulo da insensatez,
para não dizer outra coisa mais contundente: pela primeira vez na história,
liberaram, na atmosfera, milhões de bactérias com o código genético alterado
pelas artimanhas da bioengenharia, em um teste consentido pelas autoridades
desse Estado.
Esses agentes patogênicos
serviriam para proteger “preciosos” morangos (como se a humanidade não pudesse
passar sem eles para corre esse risco!) dos efeitos das geadas na região. Pode
até ser que o fato não traga conseqüências danosas no futuro. Pode ocorrer que,
como esses pesquisadores prevêem, nenhuma das bactérias sobreviva ao dia
seguinte e que elas tragam, no final das contas, o efeito benéfico pretendido
às plantações. Mas vale a pena correr riscos tão grandes por tão pouca coisa?
Afinal, os próprios mentores da
pesquisa confessam que não têm certeza de que os resultados serão, de fato, os
que esperam. Então, qual a razão dessa experiência? Apesar dos desmentidos, é
bastante provável que a Síndrome de Imunodeficiência Adquirida, que ameaça a
tantas pessoas ao redor do mundo, tenha surgido de forma semelhante. Isto é, da
manipulação genética de vírus em laboratórios.
Claro que a sua finalidade não
seria a mesma da bactéria antigelo modificada. E se de fato a Aids foi o
resultado de pesquisas genéticas, os criminosos que fizeram o vírus cometeram
um crime hediondo. Subverteram as leis da natureza e colocaram em risco a
própria sobrevivência do homem. Afinal, alteraram uma estrutura natural que não
sabem, sequer, se é um ser vivo ou se não passa de um produto químico, no caso,
o vírus.
Há teorias antagônicas sobre
esses agentes patogênicos. Uma, inclusive, afirma que se trataria de uma forma
de vida extraplanetária, proveniente do espaço, que teria caído na Terra num
dos tantos meteoritos que bombardeiam, diariamente, o nosso planeta.
No caso da alteração genética da
bactéria, como prever o seu comportamento, quando em liberdade? Se não houver
conseqüências danosas, tudo bem. Melhor para todos. E se houver? E se o agente
patogênico, mesmo alterado, se mostrar nocivo ao homem e/ou ao meio ambiente? E
se vier a se revelar indestrutível, em contato com o ar? Quem o irá combater e
como? De que forma remediar o mal?
Por que não se valer de outras
alternativas, já conhecidas e testadas, para proteger as plantações de morangos
das geadas? Que se façam testes dessa natureza no ambiente fechado de uma
estufa de laboratório, à prova de vazamentos, ninguém poderá condenar. É lícito
a ciência pesquisar tudo o que há. Mas de forma segura, sem expor nem o
ambiente, e muito menos as pessoas, a riscos, por menores que sejam.
O que não deve ser permito, e em
hipótese alguma, é uma experiência como essa, levada a efeito na Califórnia. Os
juízes que concederam a autorização para o teste podem entender muito de leis
(e se presume que de fato entendam), mas são “analfabetos” em biologia. Se
algum mal vier a ser provocado por essas experiências, eles que o tentem
debelar, com seus códigos legais e sua jurisprudência. Será que conseguem?!
Claro que não!!!
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 25
de abril de 1987).
No comments:
Post a Comment