Thursday, April 17, 2014

Talento para destruir


 Pedro J. Bondaczuk


Os ecologistas do mundo todo, e especialmente os norte-americanos, do Estado da Califórnia, têm todos os motivos do mundo para irritação com os políticos. E também com as pessoas insensatas, que não entendem a importância da preservação da natureza para a sobrevivência da espécie. Afinal, não temos um planeta substituto nas redondezas, com condições de abrigar a vida, que esteja à nossa espera quando tornarmos este nosso domo cósmico inabitável. E não está faltando muito para que isso aconteça.

Matas que levaram milhares de anos para serem formadas são devastadas em questão de dias, ou até de horas. No primeiro caso, para a exploração comercial da madeira, atividade das mais rendosas que há. No segundo, com as cada vez mais freqüentes queimadas, intencionais ou acidentais, não importa.

Derramamentos e mais derramamentos de petróleo e de outros produtos químicos ocorrem no mar, tido e havido como a derradeira fronteira alimentar da humanidade, quando todas as terras agriculturáveis estiverem exauridas, o que não deve demorar tanto tempo.

Anualmente, 20 quilômetros de solos férteis, em média, são transformados em desertos e os políticos, mergulhados em suas pueris picuinhas ideológicas e guerrinhas comerciais, nem se dão conta disso. A maioria sequer conhece essa realidade, talvez porque a desertificação não ameace os seus países.

Mas eles se esquecem que os territórios onde vivem não são outros mundos. Integram a área deste Planeta e que, caso haja um desequilíbrio em qualquer das suas partes, serão igualmente afetados, mais cedo ou mais tarde, de uma forma ou de outra.

Agora, para culminar, os responsáveis por um laboratório da Califórnia chegaram ao cúmulo da insensatez, para não dizer outra coisa mais contundente: pela primeira vez na história, liberaram, na atmosfera, milhões de bactérias com o código genético alterado pelas artimanhas da bioengenharia, em um teste consentido pelas autoridades desse Estado.

Esses agentes patogênicos serviriam para proteger “preciosos” morangos (como se a humanidade não pudesse passar sem eles para corre esse risco!) dos efeitos das geadas na região. Pode até ser que o fato não traga conseqüências danosas no futuro. Pode ocorrer que, como esses pesquisadores prevêem, nenhuma das bactérias sobreviva ao dia seguinte e que elas tragam, no final das contas, o efeito benéfico pretendido às plantações. Mas vale a pena correr riscos tão grandes por tão pouca coisa?

Afinal, os próprios mentores da pesquisa confessam que não têm certeza de que os resultados serão, de fato, os que esperam. Então, qual a razão dessa experiência? Apesar dos desmentidos, é bastante provável que a Síndrome de Imunodeficiência Adquirida, que ameaça a tantas pessoas ao redor do mundo, tenha surgido de forma semelhante. Isto é, da manipulação genética de vírus em laboratórios.

Claro que a sua finalidade não seria a mesma da bactéria antigelo modificada. E se de fato a Aids foi o resultado de pesquisas genéticas, os criminosos que fizeram o vírus cometeram um crime hediondo. Subverteram as leis da natureza e colocaram em risco a própria sobrevivência do homem. Afinal, alteraram uma estrutura natural que não sabem, sequer, se é um ser vivo ou se não passa de um produto químico, no caso, o vírus.

Há teorias antagônicas sobre esses agentes patogênicos. Uma, inclusive, afirma que se trataria de uma forma de vida extraplanetária, proveniente do espaço, que teria caído na Terra num dos tantos meteoritos que bombardeiam, diariamente, o nosso planeta.

No caso da alteração genética da bactéria, como prever o seu comportamento, quando em liberdade? Se não houver conseqüências danosas, tudo bem. Melhor para todos. E se houver? E se o agente patogênico, mesmo alterado, se mostrar nocivo ao homem e/ou ao meio ambiente? E se vier a se revelar indestrutível, em contato com o ar? Quem o irá combater e como? De que forma remediar o mal?

Por que não se valer de outras alternativas, já conhecidas e testadas, para proteger as plantações de morangos das geadas? Que se façam testes dessa natureza no ambiente fechado de uma estufa de laboratório, à prova de vazamentos, ninguém poderá condenar. É lícito a ciência pesquisar tudo o que há. Mas de forma segura, sem expor nem o ambiente, e muito menos as pessoas, a riscos, por menores que sejam.

O que não deve ser permito, e em hipótese alguma, é uma experiência como essa, levada a efeito na Califórnia. Os juízes que concederam a autorização para o teste podem entender muito de leis (e se presume que de fato entendam), mas são “analfabetos” em biologia. Se algum mal vier a ser provocado por essas experiências, eles que o tentem debelar, com seus códigos legais e sua jurisprudência. Será que conseguem?! Claro que não!!!

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 25 de abril de 1987).


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