Wednesday, April 09, 2014

Roteiro de eficácia

Pedro J. Bondaczuk

"A perfeição tem um grave defeito: costuma ser sem graça". Ou seja, traduzindo para a linguagem comum, a chã e popular: “é chata”. Discordo. Essa afirmação, apresso-me em esclarecer, não é minha, mas do escritor William Sommerset Maugham. Não foi feita, diga-se de passagem, em nenhuma entrevista, ou em suas memórias, ou mesmo em qualquer texto que sugira que é o que o autor pensa. O polêmico romancista colocou essa declaração na boca de um dos tantos personagens que criou, em um romance que neste momento não consigo identificar. Li tanta coisa de Maugham que só de posse de anotações teria condições de ser mais específico a propósito.

Mas, seria isso o que o escritor realmente pensava? Não tenho como saber. Minha intuição, porém, sugere que não. Explico. Quem é ficcionista sabe que os personagens que o escritor cria não refletem necessariamente o que ele pensa a propósito disso ou daquilo, em suma, de qualquer assunto. Não raro é exatamente o contrário do que essas figuras, frutos de sua imaginação, expressam ao longo do enredo. Há que se ter, pois, muito cuidado com citações. Elas têm que ser, sempre, contextualizadas, para não nos induzir a conclusões equivocadas e injustas.

Mas vamos ao cerne da questão. Perfeição absoluta não existe no plano concreto (perfeito, e isso para quem acredita, é somente Deus). Até a natureza, com suas leis inflexíveis, incorre em erros e não poucos. Nós, espécimes da espécie Homo Sapiens Sapiens, somos eivados de imperfeições de toda a sorte. Creiam-me, não há, não houve e provavelmente jamais haverá um único ser humano perfeito. Isso, se considerarmos a “perfeição absoluta”. Ou seja, aquela em que não haja um único senão. Todos nós temos nossas virtudes e talentos. Alguns têm mais, outros menos e alguns sequer desconfiam de suas aptidões, por estas serem somente potenciais. Mas todos contamos com mistura de habilidades e de inabilidades em proporções diversas. Isso é, reitero, inerente à condição humana.

Da perfeição, todavia – física, psíquica, mental, espiritual etc.etc.etc. – ao que se saiba, ninguém jamais sequer se aproximou. Alguns foram tão bons em suas atividades, ou em suas vidas, que até chegaram relativamente perto. Todavia, não a atingiram. Outros (desconfio que a maioria), por uma série de razões, ficaram a anos-luz de distância dela. Houvesse o perfeito, as outras pessoas, marcadas pela imperfeição, caso se aproximassem desse fenômeno, o fariam, apenas, por interesse: para levar algum tipo de vantagem, quando não para eliminá-lo. Afinal, a perfeição, caso existisse e ficasse permanentemente diante dos nossos olhos, nos seria sumamente incômoda: só conseguiria ressaltar ainda mais nossos defeitos e contradições, aqueles tantos que nos humilham e aborrecem, por não conseguirmos corrigir. Certamente, não toleraríamos a perfeição alheia. Infelizmente...

Então, o que fazer? Esquecer esse ideal, por admitir que é inatingível? Mantermo-nos imperfeitos, conformados com essa condição? Mas então, teríamos que relevar as imperfeições alheias, o que raramente fazemos. Nosso senso crítico nos impede de agir assim. Condenamos nos outros os mesmos defeitos que temos e quanto mais próximos dos nossos, mais ácidos e implacáveis nos tornamos. Entendo que, mesmo conscientes de que jamais chegaremos sequer próximos desse ideal, devemos dedicar nossas vidas inteiras tentando atingi-lo. Ou seja, adotar a tática: empenho máximo para conseguir resultados mesmo que mínimos. Se não agirmos assim, não conseguiremos é nada. E acrescentaremos mais um item ao nosso já vasto elenco de imperfeições. 

É certo que jamais conseguiremos ser perfeitos. Mas, tentando sê-lo, conseguiremos, pelo menos, ser melhores do que somos, o que já será façanha para ser bastante comemorada. Com esforço, persistência e muita força de vontade, conseguiremos ser “eficazes” no que nos propusermos a fazer, sobretudo na forma de viver. Dia desses, caiu-me nas mãos um livro, que tenho em minha biblioteca há muitos anos, mas que, por uma razão ou outra, nunca havia lido. Foi presente de um amigo. Resolvi lê-lo afinal. Trata-se de “Os sete hábitos das pessoas altamente eficazes”, de Rolfe Kerr, líder bastante respeitado da seita mórmon. Aprendi muito com a leitura. Principalmente, com este roteiro de conduta exposto na página 130: 

“Primeiro, seja bem sucedido no lar. Busque e seja digno da ajuda divina. Jamais comprometa sua honestidade. Lembre-se das pessoas envolvidas. Ouça os dois lados antes de julgar. Procure se aconselhar com os outros. Defenda os ausentes. Seja sincero e firme. Desenvolva uma nova habilidade por ano. Planeje hoje o trabalho de amanhã. Ocupe-se enquanto espera. Mantenha uma atitude positiva. Tenha senso de humor. Seja organizado pessoal e profissionalmente. Não tenha medo de erros, tema apenas a falta de respostas criativas, construtivas e capazes de superar estes erros. Facilite o sucesso dos subordinados. Ouça o dobro do que fala. Concentre todas as habilidades e esforços no trabalho que tem a sua frente, sem se preocupar com o próximo emprego ou com a promoção”.

É difícil agir dessa maneira? Sem dúvida, é! Mas não se trata de nenhuma proposta mirabolante, absurda ou sobre-humana. Nada disso. Com um pouquinho de boa vontade, com persistência e autodisciplina, conseguiremos agir dessa maneira ou de forma bastante próxima disso. Mas antes temos que tentar. Temos que “começar” a aplicar essas normas de conduta em nosso cotidiano, até que elas se tornem hábito. Contudo, antes, convém seguir a recomendação de Roberto Shinyashiki, no livro “A carícia essencial”: “Primeiro aprenda a fazer, seja o que for, para depois aprender a fazer bem feito”. É isso! Será o primeiro passo na busca da perfeição que, a propósito, só é “chata” para os néscios, preguiçosos, omissos, céticos e inevitáveis perdedores.


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