Roteiro de eficácia
Pedro J. Bondaczuk
"A
perfeição tem um grave defeito: costuma ser sem graça".
Ou seja, traduzindo para a linguagem comum, a chã e popular: “é chata”.
Discordo. Essa afirmação, apresso-me em esclarecer, não é minha, mas do
escritor William Sommerset Maugham. Não foi feita, diga-se de passagem, em
nenhuma entrevista, ou em suas memórias, ou mesmo em qualquer texto que sugira
que é o que o autor pensa. O polêmico romancista colocou essa declaração na
boca de um dos tantos personagens que criou, em um romance que neste momento
não consigo identificar. Li tanta coisa de Maugham que só de posse de anotações
teria condições de ser mais específico a propósito.
Mas, seria isso o que o
escritor realmente pensava? Não tenho como saber. Minha intuição, porém, sugere
que não. Explico. Quem é ficcionista sabe que os personagens que o escritor
cria não refletem necessariamente o que ele pensa a propósito disso ou daquilo,
em suma, de qualquer assunto. Não raro é exatamente o contrário do que essas
figuras, frutos de sua imaginação, expressam ao longo do enredo. Há que se ter,
pois, muito cuidado com citações. Elas têm que ser, sempre, contextualizadas,
para não nos induzir a conclusões equivocadas e injustas.
Mas vamos ao cerne da
questão. Perfeição absoluta não existe no plano concreto (perfeito, e isso para
quem acredita, é somente Deus). Até a natureza, com suas leis inflexíveis,
incorre em erros e não poucos. Nós, espécimes da espécie Homo Sapiens Sapiens,
somos eivados de imperfeições de toda a sorte. Creiam-me, não há, não houve e
provavelmente jamais haverá um único ser humano perfeito. Isso, se
considerarmos a “perfeição absoluta”. Ou seja, aquela em que não haja um único
senão. Todos nós temos nossas virtudes e talentos. Alguns têm mais, outros
menos e alguns sequer desconfiam de suas aptidões, por estas serem somente
potenciais. Mas todos contamos com mistura de habilidades e de inabilidades em
proporções diversas. Isso é, reitero, inerente à condição humana.
Da perfeição, todavia –
física, psíquica, mental, espiritual etc.etc.etc. – ao que se saiba, ninguém
jamais sequer se aproximou. Alguns foram tão bons em suas atividades, ou em
suas vidas, que até chegaram relativamente perto. Todavia, não a atingiram.
Outros (desconfio que a maioria), por uma série de razões, ficaram a anos-luz
de distância dela. Houvesse o perfeito, as outras pessoas, marcadas pela
imperfeição, caso se aproximassem desse fenômeno, o fariam, apenas, por
interesse: para levar algum tipo de vantagem, quando não para eliminá-lo.
Afinal, a perfeição, caso existisse e ficasse permanentemente diante dos nossos
olhos, nos seria sumamente incômoda: só conseguiria ressaltar ainda mais nossos
defeitos e contradições, aqueles tantos que nos humilham e aborrecem, por não
conseguirmos corrigir. Certamente, não toleraríamos a perfeição alheia.
Infelizmente...
Então, o que fazer?
Esquecer esse ideal, por admitir que é inatingível? Mantermo-nos imperfeitos,
conformados com essa condição? Mas então, teríamos que relevar as imperfeições
alheias, o que raramente fazemos. Nosso senso crítico nos impede de agir assim.
Condenamos nos outros os mesmos defeitos que temos e quanto mais próximos dos
nossos, mais ácidos e implacáveis nos tornamos. Entendo que, mesmo conscientes
de que jamais chegaremos sequer próximos desse ideal, devemos dedicar nossas
vidas inteiras tentando atingi-lo. Ou seja, adotar a tática: empenho máximo
para conseguir resultados mesmo que mínimos. Se não agirmos assim, não conseguiremos
é nada. E acrescentaremos mais um item ao nosso já vasto elenco de
imperfeições.
É certo que jamais
conseguiremos ser perfeitos. Mas, tentando sê-lo, conseguiremos, pelo menos,
ser melhores do que somos, o que já será façanha para ser bastante comemorada.
Com esforço, persistência e muita força de vontade, conseguiremos ser
“eficazes” no que nos propusermos a fazer, sobretudo na forma de viver. Dia
desses, caiu-me nas mãos um livro, que tenho em minha biblioteca há muitos
anos, mas que, por uma razão ou outra, nunca havia lido. Foi presente de um
amigo. Resolvi lê-lo afinal. Trata-se de “Os sete hábitos das pessoas altamente
eficazes”, de Rolfe Kerr, líder bastante respeitado da seita mórmon. Aprendi
muito com a leitura. Principalmente, com este roteiro de conduta exposto na
página 130:
“Primeiro, seja bem sucedido no lar. Busque e
seja digno da ajuda divina. Jamais comprometa sua honestidade. Lembre-se das
pessoas envolvidas. Ouça os dois lados antes de julgar. Procure se aconselhar
com os outros. Defenda os ausentes. Seja sincero e firme. Desenvolva uma nova
habilidade por ano. Planeje hoje o trabalho de amanhã. Ocupe-se enquanto
espera. Mantenha uma atitude positiva. Tenha senso de humor. Seja organizado
pessoal e profissionalmente. Não tenha medo de erros, tema apenas a falta de
respostas criativas, construtivas e capazes de superar estes erros. Facilite o
sucesso dos subordinados. Ouça o dobro do que fala. Concentre todas as
habilidades e esforços no trabalho que tem a sua frente, sem se preocupar com o
próximo emprego ou com a promoção”.
É difícil agir dessa maneira? Sem dúvida, é! Mas não se trata de
nenhuma proposta mirabolante, absurda ou sobre-humana. Nada disso. Com um
pouquinho de boa vontade, com persistência e autodisciplina, conseguiremos agir
dessa maneira ou de forma bastante próxima disso. Mas antes temos que tentar.
Temos que “começar” a aplicar essas normas de conduta em nosso cotidiano, até
que elas se tornem hábito. Contudo, antes, convém seguir a recomendação de
Roberto Shinyashiki, no livro “A carícia essencial”: “Primeiro aprenda a fazer, seja o que for, para depois aprender a fazer
bem feito”. É isso! Será o primeiro passo na busca da perfeição que, a
propósito, só é “chata” para os néscios, preguiçosos, omissos, céticos e inevitáveis
perdedores.
No comments:
Post a Comment