Mais
reflexões sobre o futuro
Pedro J. Bondaczuk
O “combustível” que move nossas
ações na direção do futuro, do nascimento à morte, é a esperança. E não se
trata, aqui, de frase de efeito, visando impressionar leitores incautos e sem
senso crítico com eventual “brilhareco” literário. É, isso sim, constatação
sumamente lógica e, sobretudo, óbvia. Afinal, ninguém espera coisa alguma do
passado. Este já se foi e não volta nunca mais. O que se conseguiu nele é uma
vitória imutável. O que não se obteve... babau!!! Claro, poderemos ter novas
oportunidades para conseguir o que não conseguimos antes, mas também poderemos
não ter. E se tivermos será em outro segmento do tempo e não mais naquele
original em que fracassamos, seja no que for. Aquele está irremediavelmente
perdido.
Apesar de ser tão incerto, não há
quem não se ocupe, de uma forma ou de outra, com o futuro. Todos nos ocupamos.
Estudamos, por exemplo, para termos oportunidades de ascensão profissional,
econômica e social “algum dia”. Poupamos para isso. Fazemos planos e mais
planos com esse objetivo (ninguém planeja para o passado, não é mesmo?).
Colocamos toda nossa carga de esperanças nesse porvir, Essa preocupação, desde
que moderada, é saudável e desejável. Compõe o roteiro de nossas vidas.
Contudo, é preciso ter em mente
que o futuro não passa de mero potencial, de simples vir-a-ser, incerto e
volátil. É impalpável, porquanto ainda “não existe”. Pode se concretizar
rapidamente, transformando-se, em infinitésimos de segundo, no presente de sucesso,
como pode nunca acontecer, em decorrência da nossa mortalidade. Podemos morrer
a qualquer instante e... Tudo o que planejamos e nos esforçamos tanto para
conseguir não será obtido jamais. Não por nós.
A matéria-prima do futuro,
portanto, são os sonhos. São as esperanças. São as projeções da mente e da
imaginação. A realidade é o momento presente, tão curtíssimo, mais rápido do
que um piscar de olhos, que nem é exagero considerá-lo mera abstração. E o
passado... é caudaloso e extenso. Morris West destaca, no romance “O
Navegante”: “Vive-se um minuto depois do outro, vive-se uma hora, vive-se um
dia. O futuro é o que se sonha. A realidade é o momento presente apenas, cada
batida do coração”. E há alguma imprecisão neste raciocínio? Claro que não.
Há pessoas que garantem pensar no
futuro (e certamente pensam mesmo) – que nem sabem se terão (ninguém jamais
sabe, reitero) – mas de forma equivocada. Esquecem-se das tarefas mais
comezinhas, das obrigações mais simples e rotineiras do seu dia a dia e com isso
o inviabilizam. Descuidam de tudo: dos estudos, das finanças, dos amores, dos
relacionamentos e até da saúde, para se concentrarem num eterno “amanhã”, que
para elas nunca chega. Correm o risco, insisto, de nunca chegar. Trata-se,
pois, de grave equívoco. Quem age dessa maneira, arruína a vida, sem sequer se
dar conta.
Compete-nos viver, da melhor
maneira possível, um dia por vez, como se este viesse a ser o último. E pode
ser mesmo. Essa é a única forma honesta, sábia e eficaz de construir o futuro.
Isso não quer dizer que ele não deva ser planejado. Deve, e sempre. E com o
maior zelo. Até por que, no final das contas, ele está no segundo seguinte e
não numa hipotética sucessão de anos. Pode, até, estar em algumas décadas, mas
é impossível ter essa garantia, dada nossa mortalidade. Por que arriscar?
Lao-Tse afirma, com absoluta pertinência: “O homem que pensa no futuro não
esquece os deveres do presente”. Pelo contrário, constrói-o segundo a segundo,
com atos, e feitos e fatos.
Ninguém tem bola de cristal que
lhe mostre, com antecedência, os obstáculos que irão surgir e ainda, de quebra,
como eles poderão ser superados. Compete a cada um planejar a vida, conforme
sua capacidade e sua realidade pessoal, buscando se adaptar às circunstâncias e
estabelecendo alternativas para as diversas situações possíveis. E trabalhar,
trabalhar e trabalhar, sempre e incansavelmente, em busca dos objetivos que
traçar. Ou seja, persistir na persistência e nunca se dar por vencido, se
houver mínima, mesmo que ínfima, chance de sucesso.
Encaramos o futuro de formas
diferentes, conforme nossa personalidade, formação ou circunstâncias. Para uns,
ele é nebuloso e assustador. Outros, encaram-no com indiferença, por saberem
que é desconhecido. Há, no entanto, os que o aguardam com confiança e gratidão,
mesmo sem ter a mínima noção do que ele lhes reserva. Vêem, no futuro,
sem-número de oportunidades potenciais e se preparam para aproveitar cada uma
delas. Claro que essa postura não é garantia para o sucesso, advirto pela
enésima vez. Ninguém tem certeza de como será seu amanhã, se feliz ou
tormentoso, ou se ao menos o terá.
O que importa é a postura. Uma
atitude de confiança valoriza e multiplica eventuais alegrias que o porvir
talvez nos reserve e previne e atenua as tristezas e sofrimentos que
eventualmente nos atinjam. Tudo o que se refira a futuro tem que ser
relativizado e colocado sempre e sempre no condicional. Por incômoda que seja
essa constatação, precisamos ter isso o tempo todo em mente, para não sermos
surpreendidos. Victor Hugo constatou, como sempre com muita pertinência: “O
futuro tem muitos nomes: para os fracos, ele é inatingível; para os temerosos,
ele é desconhecido; para os corajosos, ele é chance”..
Esquecemo-nos que o homem
nada leva desta existência (e ninguém sabe se há alguma outra, imaterial).
Aliás, ela não lhe foi legada com essa finalidade. Ele apenas “deixa”: boas
obras, que o manterão eternamente vivo na memória da posteridade, ou feitos de tal
sorte inglórios, que sempre que lembrado seu autor, as pessoas automaticamente
haverão de se persignar, como que a espantar as más recordações. E o mundo que
estamos forjando para a juventude saudável e vigorosa de hoje, qual é?
Desgraçadamente, os nossos descendentes vão herdar um planeta degradado,
poluído, violento, em que a desigualdade aberrante é norma e que transforma as
pessoas de irmãs de espécie, em ferozes competidoras pelos empregos; em
antagonistas na disputa por bens materiais (cada vez menos acessíveis a mais
pessoas) e até por comida, dádiva da natureza que deveria ser partilhada com o
máximo de eqüidade, mas não é e nunca foi. Sua herança, portanto, será um
pesadelo, em vez da réplica do Paraíso que tanto sonhamos que fosse. É este o futuro
que estamos construindo? Infelizmente... é, mesmo que à nossa revelia.
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