Tuesday, April 22, 2014

Hong Kong volta a ser da China

  
Pedro J. Bondaczuk


Os 1,27 bilhão de chineses aguardam, ansiosamente, a meia-noite de amanhã, como uma espécie de "encontro com o destino". Mais do que isso, como resgate da auto-estima.

Um dos episódios mais humilhantes da história da China vai se reverter, com a devolução de Hong Kong. E apenas 155 anos (um nada, em termos históricos), depois que as tropas britânicas (e posteriormente de outras potências ocidentais) lhe impuseram, a ferro e fogo, condições intoleráveis.

Até as 100 milhões de pessoas, que de acordo com informação divulgada na semana passada por uma entidade ocidental ligada à ONU, são ignoradas nas estatísticas oficiais (tamanha é sua miserabilidade) --- como o personagem do romancista peruano Manuel Scorza, são tão pobres ao ponto de serem "invisíveis"   --- certamente esquecerão por um momento o estômago e terão algum prurido patriótico.

Não é por acaso que o governo mandou instalar na Praça da Paz Celestial, em Pequim, um placar eletrônico digital que marca os segundos que faltam para o território cedido à Grã-Bretanha através do pseudo-acordo de Tientsin, em 29 de agosto de 1842, voltar a integrar a China. É a vitória da paciência oriental.

É uma "volta por cima" espetacular de um país que findou o século passado convulsionado por conflitos internos, com a população depauperada pela fome e pelo ópio, humilhado pelas potências ocidentais, invadido duas vezes pelo Japão e privado de extensas áreas territoriais.

O gigante chinês hoje não é mais ridicularizado ou forçado a ficar de joelhos. Não há quem tenha essa ousadia. Embora criticada (e temida), a China é respeitada e sua trajetória é ascendente.

Sua economia, embora insuficiente para outorgar uma vida decente à sua bilionária população, é a sexta do mundo. Projeções do Banco Mundial dão conta de que será a segunda, em 2001. E a primeira, em 2010.

É o maior mercado potencial do Planeta, cobiçado pelo mesmo Ocidente que lhe impôs tantas humilhações, em especial após as três "guerras do ópio". Esta será, senão a primeira devolução pacífica de um território tomado pelas armas na história recente, uma das raras ocasiões em que isso já ocorreu.

(Artigo publicado no Correio Popular em 28 de junho de 1997).


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