Sistema
de saúde falido dá margem às epidemias na região
Pedro J. Bondaczuk
O sistema de saúde pública no País está em petição
de miséria – isso todos estão cansados de saber – tanto em termos preventivos,
quanto curativos. Quem é afetado por essa falência, contudo, é o cidadão
desvalido, de baixa renda ou até o que não tem nenhuma. Ou seja, o excluído, as
vítimas do “apartheid social”, a grande maioria da população.
Este, quando fica doente (e é milagre que não
fique), tem que contar apenas com sua resistência física e talvez com a sorte.
Epidemias, até há pouco típicas dos países mais pobres da África e da Ásia,
tornaram-se corriqueiras entre nós, casos específicos da dengue e da
leptospirose, para citar as que estão mais em evidência.
Os hospitais públicos brasileiros, por seu turno,
lembram as instituições medievais onde quando alguém era internado, a família
já podia providenciar seu enterro. Só por um milagre voltaria vivo. Esse quadro
terrível verifica-se não somente nas áreas mais carentes do País, do Norte e do
Nordeste, ou nos bolsões de miséria das grandes cidades. Ocorre na região de
Campinas, uma das mais desenvolvidas e economicamente estáveis da América
Latina.
Veja-se o estado das Santas Casas, às voltas com
carências de toda a sorte e, ainda assim, prestando um abnegado serviço, mesmo
com as parcas condições que ostentam. E o Hospital Municipal Dr. Mário Gatti? E
nem seria o caso de se particularizar.
São raras, raríssimas as instituições públicas de
saúde – se é que existem tais exceções – que dêem um atendimento decente à
população pobre. O mesmo quadro se verifica no que diz respeito à prevenção de
doenças.
A região convive, por exemplo, com um surto de
dengue, que é sete vezes maior este ano – que mal começou – do que em 1994, com
28 casos registrados. Enfrenta a leptospirose, com 83 registros. E corre o
risco de se ver às voltas com a meningite, que se manifesta, em geral, no
inverno, que já conta com 28 notificações.
Além das péssimas condições de vida da população
carente – que ganha salários perversamente baixos, quando não está
desempregada, e, por conseqüência, mora, se alimenta e se cuida muito mal – há
a questão da sujeira, grande causadora dessas doenças.
O mosquito transmissor da dengue prolifera em águas
paradas. A leptospirose é transmitida pela urina de ratos, através do contato
da pele com as águas contaminadas das enchentes. E tantas outras moléstias
evitáveis devem-se às péssimas condições sanitárias, da responsabilidade do
Poder Público municipal.
“Prevenir é melhor do que remediar”, diz o surrado,
posto que verdadeiro, clichê. Só que no Brasil não se previne coisa alguma e
muito menos se remedia. O governo preocupa-se com uma hipotética “explosão de
consumo”, enquanto a maioria dos brasileiros não tem sequer o que comer. E não
há a mínima chance de existir um país forte com um povo fraco.
(Artigo publicado na página 2, do caderno
Metropolitano, do Correio Popular, em 6 de abril de 1995)
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