Wednesday, April 09, 2014

Sistema de saúde falido dá margem às epidemias na região



Pedro J. Bondaczuk


O sistema de saúde pública no País está em petição de miséria – isso todos estão cansados de saber – tanto em termos preventivos, quanto curativos. Quem é afetado por essa falência, contudo, é o cidadão desvalido, de baixa renda ou até o que não tem nenhuma. Ou seja, o excluído, as vítimas do “apartheid social”, a grande maioria da população.

Este, quando fica doente (e é milagre que não fique), tem que contar apenas com sua resistência física e talvez com a sorte. Epidemias, até há pouco típicas dos países mais pobres da África e da Ásia, tornaram-se corriqueiras entre nós, casos específicos da dengue e da leptospirose, para citar as que estão mais em evidência.

Os hospitais públicos brasileiros, por seu turno, lembram as instituições medievais onde quando alguém era internado, a família já podia providenciar seu enterro. Só por um milagre voltaria vivo. Esse quadro terrível verifica-se não somente nas áreas mais carentes do País, do Norte e do Nordeste, ou nos bolsões de miséria das grandes cidades. Ocorre na região de Campinas, uma das mais desenvolvidas e economicamente estáveis da América Latina.

Veja-se o estado das Santas Casas, às voltas com carências de toda a sorte e, ainda assim, prestando um abnegado serviço, mesmo com as parcas condições que ostentam. E o Hospital Municipal Dr. Mário Gatti? E nem seria o caso de se particularizar.

São raras, raríssimas as instituições públicas de saúde – se é que existem tais exceções – que dêem um atendimento decente à população pobre. O mesmo quadro se verifica no que diz respeito à prevenção de doenças.

A região convive, por exemplo, com um surto de dengue, que é sete vezes maior este ano – que mal começou – do que em 1994, com 28 casos registrados. Enfrenta a leptospirose, com 83 registros. E corre o risco de se ver às voltas com a meningite, que se manifesta, em geral, no inverno, que já conta com 28 notificações.

Além das péssimas condições de vida da população carente – que ganha salários perversamente baixos, quando não está desempregada, e, por conseqüência, mora, se alimenta e se cuida muito mal – há a questão da sujeira, grande causadora dessas doenças.
O mosquito transmissor da dengue prolifera em águas paradas. A leptospirose é transmitida pela urina de ratos, através do contato da pele com as águas contaminadas das enchentes. E tantas outras moléstias evitáveis devem-se às péssimas condições sanitárias, da responsabilidade do Poder Público municipal.

“Prevenir é melhor do que remediar”, diz o surrado, posto que verdadeiro, clichê. Só que no Brasil não se previne coisa alguma e muito menos se remedia. O governo preocupa-se com uma hipotética “explosão de consumo”, enquanto a maioria dos brasileiros não tem sequer o que comer. E não há a mínima chance de existir um país forte com um povo fraco.        

(Artigo publicado na página 2, do caderno Metropolitano, do Correio Popular, em 6 de abril de 1995)


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