Saturday, April 19, 2014

Emotivo adeus a Gabo

Pedro J. Bondaczuk

A morte do jornalista e escritor colombiano, Gabriel Garcia Marquez, Prêmio Nobel de Literatura de 1982, ocorrida nesta Quinta-Feira Santa, 17 de abril de 2014, na Cidade do México, causou-me forte impacto. Pudera! A notícia comoveu-me com intensidade idêntica ás que se referem, volta e meia, ao falecimento de amigos muito queridos e, sobretudo, íntimos. Aliás, a comoção não foi somente minha. Foi de uma infinidade de pessoas, mundo afora, inclusive aqui no Brasil. Isso pôde ser comprovado face dezenas de milhares (quiçá muito mais) de mensagens, nos mais variados formatos, extensões e estilos, divulgadas em muitos e muitos espaços desse “oceano” de informações que é a internet (portais, blogs etc.) notadamente nas redes sociais. Vocês são testemunhas disso.

É a consagração definitiva de um gênio das letras, posto que tardia. Deveria vir (embora tenha vindo com o Nobel de Literatura) quando ele estava no auge do vigor físico e da lucidez intelectual. Enfim... antes tarde, do que nunca. Sua morte surpreendeu, mas não deveria, já que Gabo, como era chamado na intimidade (e todos nós, seus leitores, nos julgamos, de certa maneira, seus íntimos, mesmo não tendo mantido com ele, em tempo algum, rigorosamente nenhum contato pessoal) vinha manifestando crescente fragilidade, decorrente da sua avançada idade (87 anos) e da doença que findou por matá-lo. Aos nossos olhos, todavia, gênios, como ele, são imortais. E em sentido literal e não no figurado, no da perpetuidade de sua obra. Alimentamos a ingênua e vã convicção que eles são eternos, indestrutíveis, isentos da finitude da morte. E, quando morrem, nos surpreendemos, como se se tratasse de algum fenômeno raro ou mesmo inédito. Óbvio que não é. 

Ao tomar ciência da morte de Gabo, minha primeira reação foi de incredulidade. A seguir, veio a lamentação pela perda do “escritor”, mesmo sabendo que, dada sua considerável idade, ele, provavelmente, não acrescentaria mais nada à sua magnífica obra, vivesse quanto vivesse. E era preciso? Creio que não!!! Aliás, estou convicto disso. Ela está completa, completíssima, redonda, acabada e legada como herança às futuras gerações. Passada a lamentação pela perda do escritor, veio a profunda tristeza pelo desaparecimento do homem, do ser humano, desse animal tão frágil e vulnerável, que é o inacabado Homo Sapiens, em pleno processo de evolução.

Num impulso instintivo (e sou impulsivo por natureza), sem sequer raciocinar no que fazia, redigi, incontinenti, como autômato, uma mensagem de pesar, que postei no Facebook. Peço licença ao paciente leitor para reproduzir seu teor, posto que devidamente revisado, pois conservo o conteúdo e a linguagem. Interfiro só na forma. Escrevi: “Os escritores tornam-se, através dos seus livros, nossos amigos, mesmo que nunca tenhamos nos encontrado com eles, ou que sejam, até, de outros tempos. Que tenham vivido, por exemplo, séculos (quem sabe, milênios) antes do nosso nascimento. Criamos, com eles, laços afetivos profundos e permanentes, laços sutis inclusive de intimidade. Tudo isso, reitero, sem nunca nos vermos, nos falarmos ou nos comunicarmos de qualquer forma, a não ser de maneira unilateral: pela leitura de suas obras”. É a magia da Literatura, que a torna tão apaixonante.

“Quando um dos escritores que veneramos morre, ficamos chocados, estarrecidos, aparvalhados e entristecidos, como se houvéssemos perdido algum ente querido: parente ou amigo, não importa. Foi assim que me senti, por exemplo, quando Mauro Sampaio, Maurício de Moraes, Isolino Siqueira e Conceição de Arruda Toledo, entre outros, morreram. É verdade que estes, além de excelentes escritores, eram pessoas de cuja amizade eu privava e muito me orgulhava. Mas foi assim, também, que me senti quando Cecília Meirelles, Manuel Bandeira, Fernando Sabino, Carlos Drummond de Andrade, Mário Quintana, Jorge Amado e Moacyr Scliar morreram. Foi dessa mesma forma que reagi quando Pablo Neruda, Jorge Luís Borges e tantos outros viram chegar ao fim essa fascinante, perigosa e instável aventura, que é a vida. É assim, obviamente, que hoje me sinto com a morte, ocorrida nesta Quinta-Feira Santa, na Cidade do México, desse gênio mundial da Literatura, Gabriel Garcia Marquez, aos 87 anos de idade.

Morre o homem, é certo. Afinal, é a regra da natureza, que não poupa nada e ninguém. Todavia, não morre o escritor. Dificilmente morrerá. Este, embora doravante não acrescente mais nada à sua obra – um único livro novo, um reles capítulo, um parágrafo que seja ou ínfima e casual sentença – sobreviverá ao tempo e ao esquecimento. Pelo menos enquanto houver vida civilizada na Terra. Por que? Porque fica intacta sua essência. Sobrevive sua alma. Não perece, com ele, o fruto do seu intelecto, retido nas páginas dos livros que escreveu. E eles nos acompanharão até quando nós, também, em cumprimento à mesma regra da natureza que não o poupou, tivermos que “partir”. Um dia teremos. Adeus, portanto, Gabo, e muito, muitíssimo obrigado pelo muito que você me ensinou.



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