Wednesday, April 30, 2014

Somos dotados de certa magia, de algumas peculiaridades que nos distinguem e caracterizam. Encaramos o mundo de forma diferente dos demais, particular, só nossa, com nuances próprias, embora não consigamos expressar essas particularidades em palavras. Enxergamos não somente com os olhos, mas com o corpo (através do tato) e, em especial, a mente, mediante o poderoso instrumento da imaginação. Daí não ser correto falar em realidade, já que não existe uma única, igual para todos. Tudo é questão de ponto de vista. Enxergamos coisas e pessoas sob prismas diferentes dos demais. Podem até ser semelhantes, mas não são iguais. O poeta Hélio Soares Pereira conclui, com estes versos, seu poema “Caminheiro da procura”:

“Olhos do corpo
olhos da mente
nessa oficina de idéias
a luz é um ponto de vista
que mistura as cores aos sabores
e ilusões.

E o brilho da noite
ou o brilho do dia
depende da magia
que existe em nós”.


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Domingo de festa


Pedro J. Bondaczuk


As artimanhas da tabela da Copa do Mundo fizeram com que a seleção brasileira tivesse, na fase final, um adversário que era previsível: a mesma Suécia com a qual havia empatado, em 1 a 1, em 28 de junho passado, no Pontiac Silverdome de Detroit.

Na oportunidade, ocorreu a exibição mais criticada da equipe que, na opinião da torcida e dos cronistas, teria jogado sem inspiração e nem brilho, quase perdendo a invencibilidade, embora já classificada. Dois jogos depois, de ambos os selecionados, fica a dúvida.

Teria o Brasil, de fato, jogado mal naquela oportunidade, ou a Suécia é que possui um sistema tático que impede qualquer adversário de jogar? Acreditamos que ocorreu um pouco de cada coisa no jogo passado.

Encarar esta partida das semifinais com excesso de otimismo, achando que agora será mais fácil ganhar dos suecos, do que havia sido na fase de classificação, seria, no mínimo, uma burrice, que acreditamos nem os jogadores e nem a comissão técnica vão cometer.

Mas a torcida pode manter otimismo. O sistema defensivo dos nossos adversários, que tanta irritação causou aos brasileiros, está longe de ser invulnerável. Em todos os seus jogos foi vazado, a despeito da ótima marcação que exerceu.

A Suécia já sofreu sete gols nesta Copa, contando os dois do tempo normal e da prorrogação da partida de domingo, contra a Romênia. Portanto, caso a seleção brasileira jogue com a mesma garra e determinação que mostrou contra a Holanda, especialmente no segundo tempo, terá pouco a perder. Claro que a vitória nunca é uma garantia absoluta. Há, em cada jogo, o fator imponderável, que muitos denominam de sorte e azar. É essa imprevisibilidade, aliás, que dá graça ao futebol ou a qualquer outra competição.

O mesmo palpite que tivemos desde antes do embarque do nosso selecionado para os Estados Unidos, de que desta vez ninguém tiraria o tetra do Brasil, nos permite achar que nosso adversário, na final de domingo, será o time italiano. E para decidir o título.

Como numa finalíssima todo e qualquer resquício de lógica que possa ainda eventualmente existir no futebol --- se é que existe --- vai para o espaço, resta apenas confiar na intuição, fazer a corrente positiva e esperar o apito do árbitro encerrando o jogo.

Algo me diz que este 17 de julho vai marcar uma das maiores festas populares que o País já teve, superior, inclusive, à de 1970, já que agora somos 160 "milhões em ação". É só esperar para conferir.

(Artigo publicado na página 2, do Caderno da Copa, do Correio Popular, em 12 de julho de 1994).


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Mais reflexões sobre o futuro

Pedro J. Bondaczuk

O “combustível” que move nossas ações na direção do futuro, do nascimento à morte, é a esperança. E não se trata, aqui, de frase de efeito, visando impressionar leitores incautos e sem senso crítico com eventual “brilhareco” literário. É, isso sim, constatação sumamente lógica e, sobretudo, óbvia. Afinal, ninguém espera coisa alguma do passado. Este já se foi e não volta nunca mais. O que se conseguiu nele é uma vitória imutável. O que não se obteve... babau!!! Claro, poderemos ter novas oportunidades para conseguir o que não conseguimos antes, mas também poderemos não ter. E se tivermos será em outro segmento do tempo e não mais naquele original em que fracassamos, seja no que for. Aquele está irremediavelmente perdido. 

Apesar de ser tão incerto, não há quem não se ocupe, de uma forma ou de outra, com o futuro. Todos nos ocupamos. Estudamos, por exemplo, para termos oportunidades de ascensão profissional, econômica e social “algum dia”. Poupamos para isso. Fazemos planos e mais planos com esse objetivo (ninguém planeja para o passado, não é mesmo?). Colocamos toda nossa carga de esperanças nesse porvir, Essa preocupação, desde que moderada, é saudável e desejável. Compõe o roteiro de nossas vidas.

Contudo, é preciso ter em mente que o futuro não passa de mero potencial, de simples vir-a-ser, incerto e volátil. É impalpável, porquanto ainda “não existe”. Pode se concretizar rapidamente, transformando-se, em infinitésimos de segundo, no presente de sucesso, como pode nunca acontecer, em decorrência da nossa mortalidade. Podemos morrer a qualquer instante e... Tudo o que planejamos e nos esforçamos tanto para conseguir não será obtido jamais. Não por nós.

A matéria-prima do futuro, portanto, são os sonhos. São as esperanças. São as projeções da mente e da imaginação. A realidade é o momento presente, tão curtíssimo, mais rápido do que um piscar de olhos, que nem é exagero considerá-lo mera abstração. E o passado... é caudaloso e extenso. Morris West destaca, no romance “O Navegante”: “Vive-se um minuto depois do outro, vive-se uma hora, vive-se um dia. O futuro é o que se sonha. A realidade é o momento presente apenas, cada batida do coração”. E há alguma imprecisão neste raciocínio? Claro que não.

Há pessoas que garantem pensar no futuro (e certamente pensam mesmo) – que nem sabem se terão (ninguém jamais sabe, reitero) – mas de forma equivocada. Esquecem-se das tarefas mais comezinhas, das obrigações mais simples e rotineiras do seu dia a dia e com isso o inviabilizam. Descuidam de tudo: dos estudos, das finanças, dos amores, dos relacionamentos e até da saúde, para se concentrarem num eterno “amanhã”, que para elas nunca chega. Correm o risco, insisto, de nunca chegar. Trata-se, pois, de grave equívoco. Quem age dessa maneira, arruína a vida, sem sequer se dar conta.

Compete-nos viver, da melhor maneira possível, um dia por vez, como se este viesse a ser o último. E pode ser mesmo. Essa é a única forma honesta, sábia e eficaz de construir o futuro. Isso não quer dizer que ele não deva ser planejado. Deve, e sempre. E com o maior zelo. Até por que, no final das contas, ele está no segundo seguinte e não numa hipotética sucessão de anos. Pode, até, estar em algumas décadas, mas é impossível ter essa garantia, dada nossa mortalidade. Por que arriscar? Lao-Tse afirma, com absoluta pertinência: “O homem que pensa no futuro não esquece os deveres do presente”. Pelo contrário, constrói-o segundo a segundo, com atos, e feitos e fatos.

Ninguém tem bola de cristal que lhe mostre, com antecedência, os obstáculos que irão surgir e ainda, de quebra, como eles poderão ser superados. Compete a cada um planejar a vida, conforme sua capacidade e sua realidade pessoal, buscando se adaptar às circunstâncias e estabelecendo alternativas para as diversas situações possíveis. E trabalhar, trabalhar e trabalhar, sempre e incansavelmente, em busca dos objetivos que traçar. Ou seja, persistir na persistência e nunca se dar por vencido, se houver mínima, mesmo que ínfima, chance de sucesso.

Encaramos o futuro de formas diferentes, conforme nossa personalidade, formação ou circunstâncias. Para uns, ele é nebuloso e assustador. Outros, encaram-no com indiferença, por saberem que é desconhecido. Há, no entanto, os que o aguardam com confiança e gratidão, mesmo sem ter a mínima noção do que ele lhes reserva. Vêem, no futuro, sem-número de oportunidades potenciais e se preparam para aproveitar cada uma delas. Claro que essa postura não é garantia para o sucesso, advirto pela enésima vez. Ninguém tem certeza de como será seu amanhã, se feliz ou tormentoso, ou se ao menos o terá.

O que importa é a postura. Uma atitude de confiança valoriza e multiplica eventuais alegrias que o porvir talvez nos reserve e previne e atenua as tristezas e sofrimentos que eventualmente nos atinjam. Tudo o que se refira a futuro tem que ser relativizado e colocado sempre e sempre no condicional. Por incômoda que seja essa constatação, precisamos ter isso o tempo todo em mente, para não sermos surpreendidos. Victor Hugo constatou, como sempre com muita pertinência: “O futuro tem muitos nomes: para os fracos, ele é inatingível; para os temerosos, ele é desconhecido; para os corajosos, ele é chance”..

Esquecemo-nos que o homem nada leva desta existência (e ninguém sabe se há alguma outra, imaterial). Aliás, ela não lhe foi legada com essa finalidade. Ele apenas “deixa”: boas obras, que o manterão eternamente vivo na memória da posteridade, ou feitos de tal sorte inglórios, que sempre que lembrado seu autor, as pessoas automaticamente haverão de se persignar, como que a espantar as más recordações. E o mundo que estamos forjando para a juventude saudável e vigorosa de hoje, qual é? Desgraçadamente, os nossos descendentes vão herdar um planeta degradado, poluído, violento, em que a desigualdade aberrante é norma e que transforma as pessoas de irmãs de espécie, em ferozes competidoras pelos empregos; em antagonistas na disputa por bens materiais (cada vez menos acessíveis a mais pessoas) e até por comida, dádiva da natureza que deveria ser partilhada com o máximo de eqüidade, mas não é e nunca foi. Sua herança, portanto, será um pesadelo, em vez da réplica do Paraíso que tanto sonhamos que fosse. É este o futuro que estamos construindo? Infelizmente... é, mesmo que à nossa revelia.


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Tuesday, April 29, 2014

Há momentos na vida em que temos premente necessidade de isolamento. Em que temos que fugir do burburinho das grandes cidades, ruidosas, enfumaçadas, caóticas e violentas, para ordenarmos pensamentos e sentimentos. Precisamos ficar sós para nos reorientar. Mas ir para onde? Para o campo? Para uma praia deserta? Para o cume do Himalaia? Podem, até, ser bons lugares, mas nem sempre temos recursos para essas estratégicas escapadas. Não há, contudo, melhor lugar para ir do que o nosso próprio interior. Quem desenvolve a capacidade de se abstrair e de estar consigo, embora no meio de uma grande multidão, leva imensa vantagem sobre quem não desenvolveu essa aptidão. Não teme os seus fantasmas e valoriza o que é e que já viveu. O poeta Hélio Soares Pereira conclui seu poema “Fugir” com estes versos:

“Fugir para dentro de mim
é libertar-me em gestos crescentes
de amor e memória”.

E não é?!


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Escolas públicas sucateadas


Pedro J. Bondaczuk


A educação, por ser o bem mais precioso que pode ser outorgado a um ser humano por desenvolver as suas potencialidades, é um dos direitos mais sagrados de todo o cidadão. Isto, inclusive, consta em dois lugares diferentes da Constituição: no Artigo 6 do Capítulo II e no 205, do Capítulo III, seção I.

O artigo 206 traz os princípios em que o ensino deve ser ministrado e o seu inciso VII estabelece que um deles é a “garantia de padrão de qualidade”. O espírito do texto constitucional é o de que tal fator qualitativo englobe não somente a substância do que é ensinado, mas igualmente as suas condições.

Todavia, não foi isso o que encontraram os alunos de várias escolas da rede estadual de Campinas, no seu retorno às aulas na segunda-feira, conforme matéria publicada pelo Correio Popular anteontem.

É fácil de se constatar que “a maior parte dos prédios escolares da cidade não tem condições de atender adequadamente os alunos, apresentando problemas que vão da falta de limpeza, precariedade de salas e banheiros, e até a ausência de carteiras e cadeiras para todos os estudantes”.

Em tais condições é muito difícil um professor se sentir motivado a ensinar e um jovem a aprender. O chato de tudo isso é que esse estado de carência – diríamos de miserabilidade – somente mostra o descaso com que a educação ainda é tratada no Brasil, a despeito de tantas e tão enfáticas promessas dos políticos durante as campanhas eleitorais.

Se numa cidade atípica como Campinas – que apresenta todas as características de uma metrópole de Primeiro Mundo plantada em pleno Terceiro – isto se verifica (e no Estado mais rico da Federação), o que não acontece por esse imenso Brasil afora?

Pode parecer exagero para alguns, indiferentes a essas questões, mas é exatamente aí, nessa deficiência material e espiritual do ensino brasileiro, que reside a verdadeira raiz da interminável crise que nos afeta. A maioria dos cidadãos acaba ficando num verdadeiro beco sem saída. Não pode colocar os filhos numa escola particular, em virtude da precária renda que possui. E as do Estado enfrentam um acelerado processo de “sucateamento”, sem assegurar aos alunos a “qualidade” que lhes é garantida pelo texto constitucional.

Daí a necessidade da construção de tantos presídios para abrigar os que são desajustados numa sociedade que tem tudo para prosperar, mas que descuida do seu futuro e paga um duro preço por essa omissão. Num País que garante a todos o direito à educação, em sua lei maior, mas que não possui vontade política para assegurar o exercício dessa prerrogativa.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 2 de agosto de 1990).


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Conhecimentos e conjecturas

Pedro J. Bondaczuk

O homem, desde que tomou consciência de que “existia”, de que podia pensar, de que a imaginação não precisava ter (e não tem) limites e de que era livre para sonhar, jamais se conformou em viver apenas o presente. E este – insisto em enfatizar sempre que posso – é tão rápido, tão efêmero, tão volátil e fugaz, que pode ser considerado, sem exagero, mera abstração, Praticamente não existe. É indetectável.

Esse animal, provavelmente exótico aos olhos de outros seres vivos e eventualmente inteligentes (caso existam, alhures, o que considero lógico e provável) busca ora retroceder ao passado, próximo ou remoto, em busca das origens (tanto da própria espécie, quanto das demais e de tudo o que há, animado e/ou inanimado), ora tenta avançar no futuro, quer o do minuto seguinte, quer ao de meses, anos, séculos e milênios. Nos dois casos, o homem esbarra em sua fragilidade (diria “insignificância”), que lhe determina inúmeras limitações. Ainda assim, conseguiu armazenar um acervo de informações monstruosamente grande. Tamanho que é completamente impossível que uma única pessoa conheça sequer um trilionésimo, ou bilhões de vezes menos, desse fabuloso conjunto de conhecimentos. Aliás, não é possível a ninguém, por genial que seja e por absurdamente alta capacidade de retenção que tenha, aprender, ao menos, o conteúdo de informações equivalente ao de um banco de dados médio, de uma universidade qualquer, mesmo que de porte pequeno.  

Pudesse o homem saber pelo menos a totalidade do passado da espécie, desde sua origem (como foi? Quando? Onde?) já seria um conhecimento fantástico, embora parcial, ínfima fração do que se “poderia” conhecer. Todavia... não conhece. Esbarra em suas limitações. Não conta, sobretudo, com fontes em que isso pudesse estar registrado. Não há registros. A quase totalidade do que o homem chama de “história” não passa de conjunto de conjecturas, de teorias, de hipóteses, de especulações. Conhecemos “versões” de determinados acontecimentos do passado e assim mesmo somente dos ocorridos após a invenção do alfabeto e, por conseqüência, de registros escritos.

Quanto, porém, de tudo o que aconteceu foi registrado? Qual o grau de confiabilidade desses registros? Quanto se perdeu na bruma do tempo, destruído em decorrência de guerras e de inúmeros cataclismos naturais que certamente varreram do mapa povos inteiros sem que deles restassem mínimos vestígios de que sequer existiram, quanto mais de como viveram, onde, quais eram seus costumes, como pensavam etc.etc,etc.? Quem sabe? Ninguém! Absolutamente ninguém! Isso sem falar na diferença de idiomas. Afinal, o homem não fala e, por consequência não escreve, numa única língua.

“Explicamos” o que não podemos comprovar, reitero, mediante hipóteses, teorias e conjecturas, que estranhamente assumem foro de verdades (que não são) e muitas das quais se transformam em dogmas. E ai de quem ousar pensar de maneira diferente. O preço dessa “ousadia” será intolerável. Na prática, não há, nem mesmo, a tão apregoada liberdade de pensamento. Basta você pensar, por exemplo, de forma diversa da que está estatuída como “verdade”, para ser considerado, no mínimo, exótico, quando não insano o que, neste caso, pode lhe valer definitiva segregação da sociedade, internado em algum manicômio, quando não coisa pior, como aconteceu, por exemplo, com Giordano Bruno e tantos outros pensadores “rebeldes”.
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Fico pasmo como determinadas conjecturas, baseadas em meras e fragílimas evidências, rapidamente se transformam em “fatos”, que, claro, não são. Incomoda-me, por exemplo, o caso dos animais pré-históricos, que teriam antecedido o homem no Planeta. Cito um caso que me vem no momento à memória. Com base em conjuntos de alguns ossos encontrados por paleontólogos do que se convencionou chamar de “dinossauros” (todas as nomenclaturas, de tudo e de todos, sem exceção, são de autoria de pessoas) e exclusivamente nisso, alguém conseguiu a “façanha” de esboçar como eles teriam sido, como se fosse uma fotografia de corpo inteiro desses seres imaginários.

Pergunto: alguém já viu um exemplar, um único que fosse, desses animais para saber como eram? Óbvio que não! Nem poderia. Até porque, o homem sequer existia quando esses bichos grandalhões, supostamente, andaram sobre a Terra (supõe-se que tenham andado). A fantasia, transformada, sabe-se lá porque, em “verdade”, todavia, vai a extremos. Com base, exclusivamente, nesses conjuntos de ossos, alguns se julgam habilitados a afirmar não só como eram, mas como andavam, do que se alimentavam, como se reproduziam etc.etc.etc. Quando muito, isso tudo não passa de conjectura, de hipótese ou mesmo de teoria, quando não somente de fantasia.

Mas considerar essa suposição como verdade!!! Para mim, para minha mente cartesiana e lógica, isso é demais, é a heresia das heresias! E experimente contestar essa hipótese, transformada em dogma, mesmo que com argumentos sólidos e incontestáveis! O mínimo que irá lhe acontecer é ser considerado, de imediato, ignorante, ingênuo, burro, ou coisa pior, por pessoas que nem se dão conta que têm cabeça, ou que entendem que esta existe apenas para pentear cabelos ou para usar boné.


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Monday, April 28, 2014

As pessoas que pensam de forma positiva – que não raro são ridicularizadas por aqueles que se contentam em viver um cotidiano banal – sonham com utopias, com a cidade ideal (aparentemente inalcançável), de plena harmonia, alegria e paz. Utopistas como Santo Agostinho, Tommaso Campanela, Ralph Bellamy, Francis Bacon, Thomas Morus e tantos outros, ainda existem nos dias atuais. Todos nós um dia sonhamos com essa sociedade perfeita, que não existe em nenhum lugar. A diferença é que os grandes líderes, as pessoas lúcidas e esclarecidas, não se limitam a sonhar. Agem em sentido prático para concretizar suas utopias, mesmo que (aparentemente) sejam irrealizáveis. A poetisa venezuelana Helena Sassone escreveu a respeito, nestes versos do poema “Inalcançável Cidade”:

“Inalcançável cidade
no túnel do sonho
parênteses do meu assombro
resgatada estás
do mal do esquecimento
tua solidão em minha luz
me abre as portas”


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Concorrência é fundamental


Pedro J. Bondaczuk


A liberação dos preços, com o funcionamento das leis da oferta e da procura na praça, tende a deixar o consumidor sem um parâmetro, uma base, um referencial confiável sobre se o que está sendo vendido é caro ou barato.

Hoje, as pessoas têm que andar muito antes de comprar qualquer mercadoria, para não desperdiçar seu precioso e escasso dinheirinho. Mas aí entra a questão do tempo. Essa ronda por lojas e supermercados em geral é feita em horas que nem todos têm condições de perder. Pensando nisso, o Ministério da Justiça está anunciando a implantação, para os próximos dias, de um inestimável serviço à população. Trata-se do “Balcão do Cidadão”.

O sistema nada mais é do que um banco de dados, contendo os preços comparados praticados nos maiores estabelecimentos varejistas do mercado. O governo, inclusive, está apostando nisso para um combate mais eficaz à inflação.

Outra vantagem será a possibilidade das autoridades verificarem se está havendo ou não concorrência na praça e em quais patamares, se nivelada pelo alto, abusiva, explorando o desesperado consumidor, ou se a tendência é a da redução.

A intenção do ministro Bernardo Cabral é a de conseguir com que os jornais de todos os Estados publiquem os preços comparados, atualizados por computadores, diariamente. Está aí um instrumento que se torce para dar certo, já que neste País, estranhamente, as boas medidas, quando conseguem decolar do papel, têm vida tão curta que a maioria sequer fica sabendo da sua existência.

O “Balcão do Cidadão”, se porventura vier de fato a ser implantado, forçará os agentes econômicos a se tornarem competitivos, a estabelecerem um rigoroso autocontrole para permanecerem na concorrência, sob pena de terem de fechar suas portas por absoluta ausência do principal personagem que viabiliza a sua atividade: o cliente.

Caso se queira estabelecer uma economia automaticamente de livre mercado no País, conforme se vem apregoando com insistência nos últimos tempos, é indispensável que haja um mecanismo desse tipo, até para orientação dos próprios atacadistas  e varejistas, que hoje não dispõem de parâmetros muito confiáveis para a venda de suas mercadorias.

Afinal, durante tantos anos, o verbo concorrer, em vista das contínuas mudanças nas regras do jogo econômico e das desastradas intervenções do Estado numa área em que ele nunca se mostrou competente, foi uma palavra, somente relegada ao dicionário e jamais uma atitude.


(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 20 de julho de 1990)

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Alegria de aprender

Pedro J. Bondaczuk

O aprender algo é para mim uma alegria”. Essa afirmação do dramaturgo sueco Johann August Strindberg poderia ser feita por qualquer um de nós e continuaria sendo verdadeira. Vivemos aprendendo, descobrindo, ampliando nosso acervo de informações e de conhecimentos. A vida, grosso modo, consiste nisso. É contínua descoberta, do nascimento à morte. O irônico é que justo no momento em que – ao menos teoricamente – mais sabemos das coisas, quando contamos com experiência suficiente para pelo menos não pisarmos “em buracos” perigosos e evitáveis ao longo do caminho da vida, isso pouco ou nada nos sirva. Esse acúmulo próximo do ideal, que seria desejável que ocorresse quando estivéssemos no auge do vigor físico e mental, acontece somente quando já estamos velhos, cansados e prestes a ver encerrado nosso ciclo de vida.

A partir do útero materno, quando o sistema nervoso e por conseqüência o cérebro, estão formados, já temos lampejos de consciência, posto que tênues e erráticos. É verdade que não temos como externar, então, esse conhecimento primário: o de que existimos e nos encontramos em ambiente muito bem protegido e acolhedor. Pelo menos é o que dizem os especialistas (mas não me perguntem no que eles se baseiam, pois não sei). Aliás, essa ínfima manifestação de consciência é possível de ser comprovado mediante o processo da regressão. Trata-se da primeira descoberta de uma sucessão que cada um de nós faremos no curso da existência, de acordo com nossa realidade e personalidade. Uns descobrirão muito. Outros farão escassas descobertas. Por isso, uns serão sábios. Outros... permanecerão néscios por não quererem ou não saberem ou não poderem modificar suas circunstâncias.

Ao morrer, por mais amplo que seja nosso acervo de conhecimentos, descobriremos o quanto foram tolos os dogmas e falsos valores aos quais nos aferramos que nos impediram de ir além de onde fomos. Mas... então já será tarde... Algumas descobertas que fazemos ocorrem por processos traumáticos: pela dor (física e/ou emocional), em decorrência de atos que poderíamos evitar, mas não evitamos. Eles seriam evitáveis caso nos dedicássemos à busca do autoconhecimento o que, no entanto, é raro, por razões que desconheço. Seria por temor do que possamos descobrir a nosso respeito? Seria por vaidade, por nos recusarmos a admitir deficiências e vulnerabilidades que todos notam e só nós não notamos? Ou seria, meramente, por preguiça de tentarmos entender as razões que nos levam a nos comportar de determinada maneira e não de outra? É possível que seja um pouco (ou seja muito) de todas essas razões juntas.

Quanto mais amplo for o leque dos nossos interesses, mais úteis poderemos ser para nós mesmos e para os que nos cercam. Afinal, como diz conhecido ditado, “o saber não ocupa lugar”. Somos dotados de múltiplos talentos, embora nem sempre tenhamos consciência. Eles são somente potenciais e quase nunca nos dão pistas de como e do que são. Cabe-nos descobri-los. E não apenas isso, mas, sobretudo, temos de desenvolvê-los ao máximo possível, com leitura, com estudo, com autodisciplina e perseverança e, principalmente, com exercício, muito exercício. Enfatizo, todavia, a necessidade da persistência. Não podemos desistir da busca de mais conhecimento, sobretudo do específico que tenda a nos tornar excelentes no que mais gostamos e sabemos fazer, face ao primeiro obstáculo que tenhamos no caminho. A tendência natural, (suponho que instintiva), é a da desistência. Porém...

Victor Hugo escreveu: "Todo o segredo dos grandes corações está nesta palavra: 'perseverar'. A constância diz que espécie de homem há dentro de nós, qual é a nossa personalidade e a dimensão da nossa coragem. Os constantes são os sublimes. Quem é apenas bravo tem só um assomo, quem é apenas valente tem só um temperamento, quem é apenas corajoso tem só uma virtude; o tenaz, porém, tem a grandeza".

Tenacidade é sinônimo de persistência. Só ela conduz ao verdadeiro heroísmo. E este consiste em vencermos nossas deficiências e em conquistarmos nossos sonhos... Persistir, persistir e persistir. Este é o segredo dos vencedores. Nunca devemos desistir do que tenhamos plena convicção que signifique nossa evolução, notadamente a mental e a espiritual. Poucos, pouquíssimos, ostentam essa virtude.

Bravura, valentia e coragem de nada valem sem a tenacidade, sem a capacidade de nunca desistir enquanto houver remota chance de sucesso em algum de nossos tantos empreendimentos. Fernando Pessoa já recomendava: “Sê plural como o universo”. Nossa curiosidade deve ser insaciável, pois ela é o caminho mais seguro para a sabedoria. Por que sermos sambas de uma nota só, se podemos ser polifônicas sinfonias, variadas, interessantes e, sobretudo, harmoniosas? Por tudo o que escrevi (e pelo que deixei de escrever), compartilho, plenamente, da declaração de Strindberg, cujas palavras faço minhas: “O aprender algo é para mim uma alegria”. Só aduziria: “uma imensa alegria”, a despeito das minhas mais de sete décadas de vida.


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Sunday, April 27, 2014

Há momentos em que nos sentimos deslocados no mundo, como se não fôssemos deste lugar. Sentimo-nos como se estivéssemos em um planeta estranho, exilados do nosso local de origem. Quem sabe, não somos, de fato, “estrangeiros” por aqui? A vida é tão maravilhosa, todavia há tanto sofrimento, tanta insensatez, tanta violência e injustiça ao nosso redor que concluímos que ela não é compreendida pela maioria, em sua essência e grandeza. Compete-nos a tarefa, quem sabe inútil, de esclarecer as pessoas. É o que filósofos, poetas, escritores e mestres vêm fazendo desde os primórdios da civilização, com poucos resultados. A poetisa Helen Kolody chega à mesma conclusão sobre a tarefa desses arautos da consciência, nestes expressivos versos do seu poema “Exilados”, que dizem:

“Ensimesmados,
olham a vida
como exilados
fitando o mar.

Não estão no mundo
como quem o habita.
Estão de visita
num planeta estranho”.


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O que comprar:

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Lance fatal (contos, Editora Barauna, 73 páginas) – Um lance, uma única e solitária jogada, pode decidir uma partida e até um campeonato, uma Copa do Mundo. Assim como no jogo – seja de futebol ou de qualquer outro esporte – uma determinada ação, dependendo das circunstâncias, decide uma vida. Esta é a mensagem implícita nos quatro instigantes contos de Pedro J. Bondaczuk neste pequeno grande livro.Preço: R$ 20,90.

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Discurso esclarecedor


Pedro J. Bondaczuk


O crime organizado, o terrorismo, as várias guerras (civis ou entre nações), a fome, a corrupção, os sistemas políticos e econômicos que massificam as pessoas e transformam homens em gado, as injustiças sociais e outras mazelas do gênero fazem do nosso século o mais violento da História. Afinal, foi nele que se produziu a arma das armas, a bomba nuclear, e que foi usada contra duas comunidades urbanas, no caso as cidades de Hiroshima e Nagasaki.

Foi nele que se verificou o “holocausto” dos judeus. Foi nele que ocorreram vergonhosos e infames genocídios. E, no entanto, paradoxalmente, a despeito de tanta gente apregoar o contrário e falar insistentemente no “fim dos tempos”, foi neste mesmo período tenso, violento e dramático que o homem mais evoluiu em termos de relacionamento.

Apesar do conceito dos direitos humanos ter sido trazido à baila, pela primeira vez, no século XVIII, com a Revolução Francesa, foi apenas a partir de 1945, com a criação das Nações Unidas, que se fez algo de concreto nesse sentido.

É claro que esse compromisso, assumido por países do mundo todo, ainda está muito distante de ser cumprido, sequer de forma razoável. Prisões arbitrárias, “desaparecimento de pessoas”, torturas, abandono de menores, etc., ainda são rotineiros, tanto em sociedades avançadas econômica e socialmente, como a norte-americana e a européia, quanto – e principalmente – no chamado Terceiro Mundo. Ainda assim a humanidade evoluiu, e muito.

Há somente 106 anos, por exemplo – uma “ninharia” de tempo em termos históricos – o Brasil aboliu a escravatura. Durante quase todo o século XIX, portanto, aqui e em várias outras partes do mundo, tratar uma pessoa como animal de carga ou objeto passivo de compra e venda, era uma atitude “normal”.

Hoje, mesmo indivíduos tidos como absolutamente retrógrados, consideram este ato (normalíssimo há pouco tempo), absolutamente atroz, primitivo e absurdo. Houve, como se observa, sensível evolução, embora admitamos que seja pouca, pouquíssima, diante daquilo que o homem ainda precisa evoluir no relacionamento com os semelhantes.

A esse propósito, o escritor italiano, Humberto Ecco, escreveu, num texto publicado no livro “Reflexões para o futuro”, lançado pela Editora Abril para comemorar o 25º aniversário da revista “Veja”: Hoje, posso andar pela rua sem me fazer matar por alguém que queira manter sua trajetória na mesma calçada que a minha e sei que meus filhos não receberão cacetadas do filho de um duque como meio de aprendizagem do poder. Indivíduos prepotentes tentam ainda hoje expulsar uma mulher negra do ônibus, mas a opinião pública os condena: há apenas dois séculos teríamos pensado agir como honestos cidadãos se tivéssemos investido uma parte do nosso pecúlio numa empresa que teria vendido essa mulher como escrava aos Estados Unidos”.

Hoje ainda levamos “cacetadas” para aprender o que é o poder, mas estas são mais sutis, embora às vezes mais dolorosas. Nossos filhos ou netos talvez já não as levem. É verdade que na atualidade dois terços da humanidade não comem o suficiente.

Em contrapartida, o “apartheid” é coisa do passado na África do Sul. Ainda há 900 milhões de analfabetos no mundo. Mas no Leste europeu, um cidadão já pode expor sua opinião sem ir parar na prisão, ou em campos de trabalhos forçados ou em manicômios.

O desemprego atinge 960 milhões de trabalhadores, mas os palestinos estão próximos de finalmente conquistar sua pátria. Se o homem pôde solucionar tantos e tão complexos problemas, em tempo relativamente curto, por que não poderia resolver os que ainda estão pendentes e os novos que certamente vão surgir?

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 19 de novembro de 1994).


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