Talento
nunca teve idade
Pedro J. Bondaczuk
A vida é um dom precioso demais para que em algum
momento da sua trajetória venhamos a abrir mão dessa prerrogativa, perdendo a
vontade de viver. Qualquer que seja seu conteúdo, devemos beber esse cálice até
o fim, por ele ser único. Não é, porém, o que ocorre com determinadas pessoas
quando sentem que perderam o vigor físico, a beleza e parte da capacidade
mental.
Muitos, nestas circunstâncias, deixam-se abater
pelos anos e chegam, mesmo, a abrir mão de sua dignidade. Aceitam o rótulo de
“inválidos”, como se fosse possível algum homem, em algum tempo, perder seu
valor por completo.
Estes aspectos são o ponto central da “2ª Jornada
Rotária Sobre o Envelhecimento”, promovida pelo Rotary Internacional,
Governadoria do Distrito 459, em
Campinas. O evento, realizado sob o lema “3ª Idade –
Autonomia e Vontade de Viver”, coordenado pelo gerontólogo Flávio da Silva
Fernandes, teve como um dos principais propósitos despertar a comunidade para a
importância de se oferecer informações e orientação continuada às pessoas que
envelhecem.
Quem foi que disse, e baseado em que dados
concretos, que um idoso é, necessariamente, um peso, um ser humano
desinteressante, improdutivo e acabado, que apenas serve de estorvo? Observem
esta relação: Eugênio Gudin (100 anos), Cary Grant (82), Dom Avelar Brandão
Vilela (74), Henry Moore (88), Simone de Beauvoir (78), Magdalena Tagliaferro
(92) e Jean Genet (74).
O que essa gente tem em comum, além do fato de todas
as personalidades relacionadas terem morrido em 1986? A idade. Todas essas
pessoas mantiveram-se ativas e foram celebridades, para além dos 70 anos.
Beberam o cálice da vida até a última gota, porque eram indispensáveis.
Todo ser humano que sabe se valorizar e lutar por
uma causa, qualquer que ela seja; que ocupa a mente com idéias construtivas e
nunca com lembranças (boas ou ruins) de um passado que não se recupera jamais, tem
essa característica.
O dramaturgo Berthold Brecht definiu essa questão de
uma forma simplesmente magistral, ao escrever: “Há homens que lutam por um dia
e são bons. Há outros que lutam um ano, e são melhores. Há os que lutam muitos
anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida. Estes são
imprescindíveis”. É preciso que a sociedade se conscientize disso.
No passado, os povos civilizados da Antigüidade
tinham nos anciões as suas “bibliotecas”, numa época em que não havia sido
inventada a escrita. Eles é que transmitiam as tradições de uma geração a
outra. Será que o homem contemporâneo é tão mais burro do que os seus
antepassados? Claro que não!!!
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 28 de setembro de 1990)
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