Morte na alma
Pedro J. Bondaczuk
O saudoso mestre B. Sampaio, na crônica
"Pecados da Língua", publicada no Correio Popular de Campinas há
alguns anos e que consta de seu livro (premiado pela Academia Brasileira de
Letras), intitulado "O Cosmorama da Cidade", constata: "Diz o
ditado que o peixe por sua boca morre. Também pela boca morremos nós, ou vamos
morrendo na alma, porque, não contentes de pecar por pensamentos, damos à
língua e dizemos mal do nosso semelhante. E como se não bastasse a só intenção
silenciosa para tornar-nos réus de grave culpa, soltamos a palavra e lá se vai
a maledicência a apregoar a nossa imperfeição".
Há pessoas cuja diversão predileta é falar mal da
vida alheia. Ninguém escapa de sua língua ferina, deva ou não, seja ou não
merecedor de reprovação por idéias, textos, conduta ou ausência dela. Há
críticas que são sempre bem-vindas, por servirem de corretivos de rumos em
nossas vidas.
Quando bem fundamentadas, embora arranhem nosso ego
e firam nosso amor próprio, alertam-nos para nossas falhas, permitindo que as
corrijamos. Estas, contudo, não podem e nem devem ser confundidas com a pura e
simples maledicência. Com o rancor patológico que determinadas pessoas costumam
sentir e mostrar por seus semelhantes, mesmo contra os que não conhecem
pessoalmente.
O leitor, certamente, já teve a oportunidade de se
deparar com gente assim, que todos evitam, para escapar de aborrecimentos
inúteis. Tais indivíduos, se participam de uma conversa numa roda de amigos, ou
se freqüentam com assiduidade redes sociais, buscam aparentar onisciência.
Palpitam sobre tudo e sobre todos (políticos, esportistas, artistas, escritores
etc.etc.etc.), mas sempre destilando veneno.
Se o assunto é sobre determinado cantor de sucesso,
de imediato arranjam uma brecha no bate-papo, presencial ou internético, para
suas observações em geral inoportunas. "Fulano?! Ora, todos sabem que se
trata de um efeminado", logo afirmam, com ares de sabe-tudo.
Ou, quando não questionam a virilidade da figura
famosa, recorrem a outros defeitos –
geralmente existentes somente em suas cabeças de sociopatas – para
criticar, ou afirmando que o artista é viciado em drogas, ou que é mulherengo
ou qualquer outra coisa que lhe confira "notoriedade".
Dessas "críticas" não há quem não deseje
se livrar. São destrutivas, mesquinhas, covardes, que revelam somente uma
personalidade desajustada e sumamente infeliz. Não constroem nada e, se
puderem, destroem qualquer um, já que ninguém gosta de ser mal-falado,
principalmente quando tem consciência de estar agindo bem.
Os maledicentes... Ah! como são frustrados e amargos
os maledicentes! São mais um caso para se ter piedade do que rancor. Todavia,
as críticas honestas, fundamentadas, coerentes, são importantíssimas, mesmo
quando partidas de alguém que não nos aprecia.
Ruy Barbosa observou, num discurso proferido no
Senado: "Amigos e inimigos estão, amiúde, em posições trocadas. Uns nos
querem mal, e fazem-nos bem. Outros, nos almejam o bem, e nos trazem o
mal". Elogios, em geral, tendem a ser funestos, mesmo quando o elogiado é
merecedor deles. Sábia é a observação do saudoso mestre B. Sampaio, mentor e um
dos fundadores da Academia Campinense de Letras. De fato, o maledicente vai
morrendo na alma a cada aguilhoada que dá em seus semelhantes. E, pior:
“assassina” reputações.
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