Reagan e o Dominó
Pedro J.
Bondaczuk
O presidente norte-americano Ronald Reagan está
profundamente determinado, desde 1981, a depor o regime sandinista da
Nicarágua, o qual acredita se tratar de um fruto gerado pela semente selvagem
do governo marxista de Fidel Castro em Cuba. Depois de diversas tentativas, que
foram desde o corte da ajuda para a reconstrução daquele país (assolado por
terrível terremoto na década passada) aprovada por seu antecessor, Jimmy
Carter, à minagem, por parte de agentes da CIA, de portos nicaragüenses, pensa
estar dando, agora, o golpe de misericórdia em Daniel Ortega e seus seguidores.
Rompeu, unilateralmente, um
tratado de amizade e cooperação com Manágua, e anunciou, anteontem, em Bonn
(onde se encontra participando da reunião de cúpula dos sete países mais
industrializados do Ocidente) um embargo econômico total ao seu desafeto da
América Central.
A atitude de Reagan nos lembra
muito uma outra ação norte-americana, no início da década de 60, na região do
Caribe, pouco depois de Fidel Castro depor o ditador cubano Fulgêncio Batista,
que transformara Cuba num gigantesco cassino, a ponto dessa ilha ficar
conhecida, por muitos anos, pelo pejorativo e deprimente título de “Bordel das
Américas”, houve como que um clima de pânico em alguns círculos de Washington.
O vencedor do movimento, iniciado
nos ermos de Sierra Maestra, após entrar em Havana com seus homens, buscou
obter, imediatamente, ajuda junto aos EUA. Talvez (e muito provavelmente) já
estivesse de namoro com os russos, mas não, certamente, com a intenção de se
transformar num satélite de Moscou encravado bem em frente à Flórida.
Washington, na oportunidade, não
somente negou qualquer espécie de assistência a Castro, como ainda participou,
diretamente, de uma malfadada e caricata operação de contragolpe, no ridículo
episódio protagonizado na Baía dos Porcos. Isso acabou servindo de argumento
decisivo aos marxistas que assessoravam o líder cubano (entre os quais Che
Guevara), para que ele recorresse ao Cremlin, jogando Cuba até hoje na órbita
da União Soviética.
O que vem ocorrendo na Nicarágua
é mais ou menos semelhante, com algumas agravantes para a Casa Branca. Ao
contrário dos fidelistas, os sandinistas prometeram, e realizaram, eleições
presidenciais, há mais de seis meses, embora não da maneira como muitos
esperavam. Ou seja, após uma ampla reconciliação nacional.
Mas esta, na oportunidade, fora
inviabilizada pelo próprio governo norte-americano, ao explorar a desmedida
ambição de determinados setores nicaragüenses, ligados ao ex-ditador Anastásio
Somoza, logicamente sequiosos para recuperar os privilégios que antes gozavam e
que preferiram radicalizar suas posições.
O embargo decretado anteontem por
Reagan fatalmente conduzirá a Nicarágua a um grau de estatização econômica
jamais visto. E levará Manágua a depender, cada vez mais, do bloco oriental
para sobreviver. O boicote contra Cuba, em vigor até hoje, é verdade que
empobreceu esse país, impedindo o seu progresso material. O regime de Castro
sobrevive, contudo, embora às custas de Moscou, que despende US$ 10 milhões por
dia para manter o luxo de ter um enclave em pleno feudo norte-americano.
No afã de evitar que a Teoria do
Dominó, prevista pelo ex-presidente Eisenhower para o Sudeste Asiático em 1954,
funcionasse na América Central, Reagan acaba, na verdade, de possibilitar a
colocação da segunda peça desse jogo.
Tornada vítima, aos olhos das
oposições, existentes nos países vizinhos, a Nicarágua vai emular outras
rebeliões. Propiciará outros movimentos semelhantes ao seu. Até que os EUA não
tenham outro recurso, senão uma intervenção militar, pura e simples, na área.
Tudo, em conseqüência de um outro erro de enfoque do seu governo. Parece que a
história recente não ensinou nada, mesmo, ao núcleo de poder de Washington.
(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 3 de
maio de 1985).
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