Pressupostos da concórdia
Pedro J. Bondaczuk
O carismático ex-presidente
norte-americano, Ronald Reagan, analisando as dramáticas e rápidas mudanças que
se verificam atualmente no Leste europeu, previu, ontem, em Tóquio, que o
século XXI vai marcar a maior época de paz já vivida pela humanidade talvez em
toda a sua história.
Previsões,
aliás, principalmente quando envolvem grandes períodos, costumam ser perigosas.
Quase nunca se concretizam. Tempos atrás, publicamos uma página inteira no
Correio Popular analisando algumas dessas extrapolações, que na ocasião em que
foram feitas, pareciam extremamente lógicas. Hoje, soam como ridículas.
Reagan,
no entanto, já tem um antecedente de acerto, o que aumenta a sua credibilidade.
Em 1981, após ter assumido a Presidência para o seu primeiro mandato, ele
previu a derrocada do comunismo antes da virada deste século. E o que está se
verificando através do mundo?
Desta
vez, o ex-presidente norte-americano está se baseando somente neste fator.
Deixou implícito que, no seu entender, apenas a chamada “Guerra Fria” era o
grande desestabilizador, tendente a comprometer a paz mundial. Realmente a
humanidade poderá atingir esta desejável situação de harmonia, desde que alguns
gravíssimos problemas venham a ser resolvidos.
O
primeiro deles é o da miséria que afeta a mais de 2,5 bilhões de seres humanos.
Esse estado tão sonhado de concórdia entre os homens jamais poderá ser atingido
enquanto 1,2 bilhão de pessoas continuarem morando em favelas. Enquanto 100
milhões não tiverem qualquer espécie de teto sobre suas cabeças. Enquanto 200
milhões de pais de família não arranjarem empregos para sustentar aos que deles
dependem. Enquanto um bilhão de indivíduos permanecerem nas trevas do
analfabetismo. Enquanto 40 crianças continuarem morrendo a cada minuto por
causa da fome e de suas seqüelas, enquanto existe tanto desperdício. A guerra
contra a miséria não é fria e nem quente: é quentíssima. Está num ponto de
fervura, embora a maioria dos estadistas não perceba (ou finja não perceber) a
sua gravidade.
O
mundo poderá conhecer, sim, um longo período de paz, talvez de mais de cem
anos, quando a totalidade dos direitos humanos for respeitada. Quando ninguém
mais for parar em nauseabundas prisões por causa de suas convicções políticas ou
religiosas. Quando regime ou sistema alguma classificar pessoas como se faz com
animais, através de "raças". Quando não houver mais este crime
hediondo chamado tortura, em que a dignidade de certos indivíduos é enxovalhada
por seus semelhantes.
Estes
são os principais pressupostos para a paz. Enquanto tais problemas não forem
solucionados, as perspectivas não são, e nem podem ser, otimistas. Ou alguém
duvida disso?
(Artigo
publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 26 de outubro de
1989)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk.
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