O polêmico Nobel de
Literatura de 2016
Pedro
J. Bondaczuk
O compositor de música
popular (refiro-me, especificamente, ao letrista) pode ser considerado poeta?
Antes que você, preclaro leitor, responda, deixo aqui minha opinião. Depende!
Alguns não somente podem, como devem e como são de fato, com rótulo ou sem ele,
excelentes poetas, mesmo que jamais tenham publicado qualquer livro de poesias
ou se considerem como tal. Já outros... Valha-me Deus!!! Há tanta letra
horrível por aí, tanta infantilidade, tanto besteirol, que seria enorme burrice
(ou puxassaquice explícita ou até gozação) considerá-los como tal. Seria a
avacalhação total da poesia.
Ninguém em sã
consciência, com mínimo de bom gosto e de bom senso, pode negar a designação de
“poeta” a John Lennon, por exemplo. Ou, trazendo o assunto para âmbito doméstico,
fazer o mesmo em relação a essa lenda da MPB que foi Vinícius de Moraes. Ou
desconsiderar um Cazuza, um, Renato Russo, um Cartola, um Orestes Barbosa, um
Caetano Veloso, um Djavan e vai por aí afora. Seria um pecado mortal!!! Todos
foram (e os que ainda estão vivos são) poetas de mão cheia! Estas considerações
vêm a propósito da super polêmica atribuição do Prêmio Nobel de Literatura de
2016 ao compositor e cantor norte-americano Bob Dylan (na verdade, Robert Allen
Zimmerman, seu nome de batismo).
Esta inusitada,
insólita e, sobretudo, inédita decisão dos membros da Comissão do Nobel da
Academia Sueca de Ciências, divide, hoje, as opiniões mundiais não somente do
mundo das letras, mas do das artes em geral. De um lado, está a enorme legião
de fãs do consagrado e mítico astro do rock, um dos patronos dos hippies,
consagrado no histórico festival de Woodstock,
cujos membros (milhões, quiçá bilhões ao redor do mundo), vibram com a
pioneira decisão dos jurados, considerando-a mera “questão de justiça”. No lado
oposto, estão os puristas: os escritores de carreira, os críticos de livros e
os mestres de Literatura, entre outros, que veem nessa atribuição do prêmio
literário de maior prestígio internacional a um notório roqueiro como mera ação
de marketing. O leitor, certamente, quer saber minha opinião a respeito. Até
porque, se não fosse para opinar, não se justificaria o fato de eu tocar nesse
assunto.
Caso eu fosse membro da
comissão julgadora do Nobel de Literatura não daria o prêmio a Bob Dylan. Não
se trata de contestar sua condição de poeta. Ele de fato o é, e dos muito bons
(diria, excelentes)! Certamente cumpriu todos os requisitos exigidos como
candidato. Teve a candidatura bancada por reconhecida instituição cultural
norte-americana, É escritor de fato, com dezenas de livros publicados. É poeta
dos mais refinados e criativos. Enfim, estava plenamente apto a concorrer. Ademais, trata-se do artista mais premiado do
mundo das artes. Recebeu, praticamente, todos os prêmios artísticos existentes
(só o Grammy já ganhou por doze vezes), como o Pulitzer, o Globo de Ouro, o
Oscar e tantos e tantos outros que nem consigo me lembrar. Só lhe faltava o
Nobel. Faltava. Não falta mais.
Então por que eu não o
premiaria agora, neste ano da graça de 2016? Pelo simples fato de que há
escritores tão bons quanto ele (e milhares e milhares até melhores), na fila, à
espera do reconhecimento, que mais uma vez não veio. Para a maioria, nunca
virá. A nossa representante, por exemplo, Lygia Fagundes Teles, merece o Nobel
muito mais que Bob Dylan. Isso para não lembrar os milhares e milhares de
escritores, brasileiros ou não, injustiçados por nunca receberem esse prêmio ao
longo dos mais de cem anos que ele existe, os quais nem preciso mencionar, por
serem óbvios. O fato da Literatura Brasileira jamais ter sido mundialmente
reconhecida, para mim, é algo imperdoável.
Não quero duvidar da
cultura dos membros da comissão julgadora, mas a mim me parece que eles não
sabem bulhufas do Brasil e da nossa cultura. A mim parece que eles são dos tais
que acham que nossa capital é Buenos Aires e que nas ruas de nossas cidades
andam índios em profusão, além de onças, cobras e jacarés. Não devem gostar de
esportes, pois se gostassem, veriam como é de fato nosso País, com seus
defeitos (muitíssimos!) e suas virtudes, que só os preconceituosos não enxergam
ou negam. Teriam acompanhado as exuberantes Copa do Mundo de Futebol de 2014 e
Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro. Se queriam premiar um poeta, por que não
premiaram Thiago de Mello, por exemplo? Há muito que ele vem merecendo um
Nobel. Ou estou exagerando?
O leitor mais atento
dirá: “ele não ganhou o prêmio porque não teve a candidatura lançada por
nenhuma de nossas entidades culturais. Simples assim”. É fato (e não se pode
negar) que elas também são culpadas (culpa, aliás, imperdoável) por nossos
artistas de todas as artes serem não apenas “pouco conhecidos” no exterior, mas
absolutamente “desconhecidos”. Quem me conhece, sabe que minha bronca não se
trata de nenhum arroubo ufanista. Meus leitores são testemunhas que não me
canso de apontar, e de criticar, nossas gigantescas mazelas, que são muitas e
em todos os campos de atividade (políticas, econômicas, sociais etc..etc.etc.)
Contudo, não sou burro e muito menos masoquista de não reconhecer nossas
virtudes que, no meu entender, superam, com sobras, nossos tantos defeitos.
Enfim, com polêmica ou sem polêmica, o fato é que Bob Dylan (ou Robert Allenm
Zimmerman, como de fato se chama), tem, desde este mês de outubro, seu nome
inscrito para sempre no competitivo, fascinante, mas superfrustrante mundo da
Literatura, com a conquista do Nobel de 2016.
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