O debate sucessório
Pedro J. Bondaczuk
A antecipação da campanha
para as eleições de 1994 em pelo menos dez meses (o normal seria que começasse
em maio do ano que vem), embora apresente alguns inconvenientes para os
candidatos potenciais e para o País, tem também aspectos positivos.
Confere
tempo maior para os debates de propostas e programas que possam reverter o
descontrole econômico e o caos social que caracterizam a vida brasileira atual.
Pela lógica, dificulta a ocorrência de outro estelionato eleitoral, como o
ocorrido em 1989 com a vitória de Fernando Collor para a Presidência.
A
antecipação, todavia, apenas será saudável na medida em que não represente um
boicote ao atual governo. Em que não torne o País ingovernável. Quem agir
assim, estará não apenas fazendo demagogia barata. Sabotará o País se que
propõe a governar. Estará praticando, portanto, um ato criminoso, impatriótico
e imoral, e dando uma demonstração de falta de inteligência.
Outro
aspecto a considerar sobre o lançamento prematuro de candidaturas é o do
desgaste da imagem. É o que informalmente vem sendo chamado por alguns
comentaristas políticos de “efeito Vargas Llosa”, numa alusão ao escritor
peruano que perdeu as eleições presidenciais em seu país para Alberto Fujimori.
Apenas
para situar o leitor, lembramos que o romancista se lançou candidato à sucessão
de Alan Garcia com mais de um ano de antecedência. Ao faltarem 90 dias para a
votação, todas as pesquisas de opinião no Peru davam-no como “eleito”. Mantinha
uma vantagem de mais de 20 pontos percentuais sobre o segundo colocado.
A
vitória era tida por todos como “favas contadas”. Llosa até esboçava a escolha
do seu ministério. No entanto, um desconhecido engenheiro agrônomo, de um
partido recém criado, começou a despontar, de início, timidamente, mas
crescendo nas consultas pré-eleitorais dos vários institutos, de semana a
semana. E deu no que deu. Fujimori acabou sendo o eleito, para surpresa geral.
O
lançamento prematuro de candidaturas expõe muito mais o candidato do que se ele
aparecer como “fator surpresa”, a menos que conte com grande cacife político,
possua um programa de governo irresistível e saiba administrar esta questão do
desgaste da imagem.
Estima-se
que a campanha de 1994 será uma das mais renhidas. Muita “roupa suja” será,
certamente, lavada em público. À imprensa caberá um papel importantíssimo, de
neutralidade, mas de vigilância crítica. Os meios de comunicação, enquanto
instituições, não deverão tomar partido, para que não venham a ser vinculados a
um novo e eventual estelionato eleitoral como o de Collor (Deus nos livre!).
Claro
que, individualmente, o jornalista pode e deve ter sua opinião, na qualidade de
cidadão e eleitor. Seu papel, todavia, não é o de arauto de nenhum político. Há
um provérbio chinês que diz: “Aquele que conseguisse prever o futuro com três
dias de antecedência seria rico por milhares de anos”.
Se
a previsão não consegue abranger um período tão curto, imaginem tentar estender
esses exercício para um ano! Quem, em sã consciência, poderia achar, em
setembro de 1989, que a candidatura Collor fosse despida de conteúdo, não
passasse de uma grande “armação” publicitária?!
Quem
previu o surgimento de um PC Farias e o tráfico de influências que ele
instituiu à sombra (e com a conivência) do poder? São questões que deverão
estar presentes a cada instante no transcorrer da campanha sucessória de 1994,
que se afigura das mais renhidas, dispendiosas e apelativas da nossa História.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 14 de agosto de 1993).
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