Tuesday, October 11, 2016

O debate sucessório


Pedro J. Bondaczuk


A antecipação da campanha para as eleições de 1994 em pelo menos dez meses (o normal seria que começasse em maio do ano que vem), embora apresente alguns inconvenientes para os candidatos potenciais e para o País, tem também aspectos positivos.

Confere tempo maior para os debates de propostas e programas que possam reverter o descontrole econômico e o caos social que caracterizam a vida brasileira atual. Pela lógica, dificulta a ocorrência de outro estelionato eleitoral, como o ocorrido em 1989 com a vitória de Fernando Collor para a Presidência.

A antecipação, todavia, apenas será saudável na medida em que não represente um boicote ao atual governo. Em que não torne o País ingovernável. Quem agir assim, estará não apenas fazendo demagogia barata. Sabotará o País se que propõe a governar. Estará praticando, portanto, um ato criminoso, impatriótico e imoral, e dando uma demonstração de falta de inteligência.

Outro aspecto a considerar sobre o lançamento prematuro de candidaturas é o do desgaste da imagem. É o que informalmente vem sendo chamado por alguns comentaristas políticos de “efeito Vargas Llosa”, numa alusão ao escritor peruano que perdeu as eleições presidenciais em seu país para Alberto Fujimori.

Apenas para situar o leitor, lembramos que o romancista se lançou candidato à sucessão de Alan Garcia com mais de um ano de antecedência. Ao faltarem 90 dias para a votação, todas as pesquisas de opinião no Peru davam-no como “eleito”. Mantinha uma vantagem de mais de 20 pontos percentuais sobre o segundo colocado.

A vitória era tida por todos como “favas contadas”. Llosa até esboçava a escolha do seu ministério. No entanto, um desconhecido engenheiro agrônomo, de um partido recém criado, começou a despontar, de início, timidamente, mas crescendo nas consultas pré-eleitorais dos vários institutos, de semana a semana. E deu no que deu. Fujimori acabou sendo o eleito, para surpresa geral.

O lançamento prematuro de candidaturas expõe muito mais o candidato do que se ele aparecer como “fator surpresa”, a menos que conte com grande cacife político, possua um programa de governo irresistível e saiba administrar esta questão do desgaste da imagem.

Estima-se que a campanha de 1994 será uma das mais renhidas. Muita “roupa suja” será, certamente, lavada em público. À imprensa caberá um papel importantíssimo, de neutralidade, mas de vigilância crítica. Os meios de comunicação, enquanto instituições, não deverão tomar partido, para que não venham a ser vinculados a um novo e eventual estelionato eleitoral como o de Collor (Deus nos livre!).

Claro que, individualmente, o jornalista pode e deve ter sua opinião, na qualidade de cidadão e eleitor. Seu papel, todavia, não é o de arauto de nenhum político. Há um provérbio chinês que diz: “Aquele que conseguisse prever o futuro com três dias de antecedência seria rico por milhares de anos”.

Se a previsão não consegue abranger um período tão curto, imaginem tentar estender esses exercício para um ano! Quem, em sã consciência, poderia achar, em setembro de 1989, que a candidatura Collor fosse despida de conteúdo, não passasse de uma grande “armação” publicitária?!

Quem previu o surgimento de um PC Farias e o tráfico de influências que ele instituiu à sombra (e com a conivência) do poder? São questões que deverão estar presentes a cada instante no transcorrer da campanha sucessória de 1994, que se afigura das mais renhidas, dispendiosas e apelativas da nossa História.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 14 de agosto de 1993).


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