Estamos sós no universo?
O homem é o único ser racional conhecido em todo o universo. É possível
(e até provável), todavia, que na imensidão do cosmos, com quatrilhões ou mais
de mundos, em uma infinidade de galáxias e sistemas estelares, haja outros, até
mais inteligentes e perfeitos. Talvez
amanhã sejamos surpreendidos com alguma prova inquestionável da existência de
seres extraterrestres, quem sabe, até, com algum contato direto com eles. Ou,
talvez, (o que, no meu entender é mais provável) jamais venhamos a saber com
certeza se eles existem ou não.
Tenho até medo de tocar no assunto, pelas paixões que ele desperta. Em
crônica divulgada há um certo tempo, em alguns blogs, afirmei que, dadas as
imensas distâncias entre as estrelas e a fragilidade humana, talvez jamais
venha a ocorrer um contato com hipotéticos ETs inteligentes, caso, claro, de
fato existam. As reações foram de um extremo a outro. Uns juraram de pés juntos,
em comentários postados nesse texto, que somos os únicos seres inteligentes na
vastidão do universo. E mais, que não existe vida em lugar algum, além da
Terra.
De onde vem tamanha certeza dessas pessoas? São palpites, nada mais do
que palpites. E claro que também tenho o meu. Não faço dele, todavia, nenhuma
certeza (que, de fato, não tenho) e muito menos um dogma. Acredito em vida
inteligente fora da Terra, na nossa própria galáxia, a Via Láctea, e em grande
profusão. Contudo, creio que as probabilidades de qualquer forma de contato são
tão ínfimas, que raiam o impossível.
Estranhamente, as reações mais apaixonadas (várias delas agressivas e
mal-educadas, enfatizando a minha “ignorância”) vieram dos que também crêem nos
extraterrestres. Estes chegam a jurar, no entanto (ao contrário do acredito)
que os alienígenas não somente manterão contato, como já mantiveram e mantêm
freqüentemente. Estariam entre nós e há muito tempo. Provas? Ora, ora, ora,
fanáticos não precisam delas. E, convenhamos, não faltam, ao redor do mundo, os
lunáticos delirantes, que se julgam oniscientes.
Apóio minha convicção puramente na lógica, num universo tão bem
ordenado, onde nada é casual e caótico, mas regido por leis naturais,
inteligíveis ao homem e que certamente foi concebido por uma inteligência
absoluta e superior, que ouso chamar de “Deus”. E estou em ótima companhia.
Penso da mesma forma que intelectuais da mais alta estirpe e reputação, como
Claude Lévi-Strauss, que afirmou: “Assim como o indivíduo em uma sociedade não
está sozinho, o homem não deve estar solitário no universo”. Endosso, pois, com entusiasmo essa opinião,
embora aduza a improbabilidade de eventuais contatos.
A propósito da existência de vida em outras partes do cosmo, aliás, é
instigante a opinião de Arthur Clark, autor de "2001, uma Odisséia no
Espaço" e "Laranja Mecânica", entre outras obras de ficção
científica. Ela foi publicada em um extenso artigo, intitulado "O futuro
do mundo das comunicações", estampado no antigo suplemento literário do
jornal "O Estado de São Paulo", em 3 de setembro de 1978.
Diz, o eminente escritor: "Se décadas e séculos se passarem, sem
qualquer indício de que há vida inteligente alhures no universo, os efeitos em
longo prazo sobre a filosofia humana serão profundos – e talvez desastrosos. É
melhor termos vizinhos que não gostamos, do que estarmos absolutamente
sozinhos, porque a solidão cósmica poderia indicar uma conclusão muito
deprimente – que a inteligência assinala o fim da evolução. Não. Não acredito
nisso”.
Também não creio nessa possibilidade. Mas discordo que se venha, algum
dia, a chegar a alguma conclusão definitiva a esse respeito, quer sobre a
existência e quer sobre a inexistência, primeiro de vida, e depois, se esta
existir, da que seja inteligente. As próprias dimensões do universo não nos
permitem que esgotemos o campo de pesquisa (virtualmente, infinito) e, por
conseqüência, as esperanças de companhia.
Quem acredita em evolução, por exemplo, continuará crendo que o homem
haverá de evoluir, sem cessar, para formas cada vez mais perfeitas (será? Não é
o que parece!). E os que crêem em Deus (não importa o nome que lhe atribuam)
seguirá firme em sua crença. Continuará a acreditar, com uma variação ou outra,
numa redenção da espécie humana, na ressurreição dos mortos, num Juízo Final em
que os bons serão premiados e os maus receberão o devido castigo, num Paraíso
de onde serão banidos para sempre desde a morte até o mal em todas as suas
formas e manifestações e num tempo (que se estenderá pela eternidade) só de
delícias e de êxtase sem fim. Ambas as crenças, porém, fogem do rigor da
lógica. Atêm-se, exclusivamente, ao terreno da fé. Mas, reitero: não creio que
estejamos sós na imensidão do universo...
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