Longo reinado de terror
Pedro J.
Bondaczuk
O comunismo na ex-União Soviética pode ser dividido em
duas etapas distintas: antes e depois da subida ao poder de Iosif V.
Dzhugashvili, mais conhecido pelo seu pseudônimo de Joseph Stalin. Tratou-se de
um golpe dentro da Revolução de 1917, tão diferentes eram seu discurso e
prática em relação aos ideais e postulados defendidos por Vladimir Ilich
Ulyanov, o Lênin (também um pseudônimo) e seus revolucionários.
Seu longo reinado de terror,
terminado apenas com sua morte, em 1953, redundou no extermínio de mais de 20
milhões de cidadãos – mais do que as perdas em vidas humanas de seu país
durante a Segunda Guerra Mundial – além de uma grande quantidade de exilados ou
banidos.
Stalin, nascido na Geórgia em
1879, filho de um sapateiro, começou sua vida pública em 1917 como redator do
“Pravda”. Lenta, porém seguramente, foi ascendendo dentro do Partido Comunista,
desprezando amizades, despido de lealdades, obcecado pelo poder.
Em 1922, foi feito
secretário-geral do PC. Após a morte de Lênin, em 1924, em circunstâncias um
tanto duvidosas (há historiadores que garantem que o líder revolucionário foi
envenenado), Stalin formou, com Zinovyev e Kamenev, a “troika”, ou seja, o
colegiado governante do país.
Todavia, uma outra estrela estava
ascendendo na então União Soviética: Leon Trotsky. Esse filho de fazendeiro
judeu tinha de ser neutralizado. E foi. Através de manobras e intrigas, que
redundaram nos célebres Processos de Moscou, um arremedo de julgamento dos
principais líderes do PC, acusados de traição – na verdade se tratou de mero
expurgo – o principal rival teve que deixar o país para ir se refugiar na
Cidade do México, onde seria assassinado, em 1940, por um tal de Ramón
Mercader.
Stalin, de um só golpe, livrou-se
de todos os seus adversários, até ficar absoluto no poder, como um czar
vermelho, como um ditador sanguinário e cruel capaz de fazer os mais doidos
imperadores romanos parecerem filantropos.
É dele, por exemplo, a
coletivização das fazendas. Seu, também, foi o processo de remoção de povos
inteiros de uma República para outra, como estratégia para acabar com o
nacionalismo entre as 101 etnias da ex-URSS e homogeneizar populacionalmente o
país, criando um só povo e uma única cultura, no que fracassou.
A dolorosa desagregação desse
vasto império, como vemos hoje, com sangrentos conflitos se sucedendo na
Geórgia, na Rússia, na Armênia, no Azerbaijão e em tantas outras partes, é
conseqüência dessa brutal interferência de um ditador que via nas pessoas
apenas peças de uma cruel engrenagem, quando não meros números estatísticos que
podiam ser manipulados.
(Artigo publicado na página 16, Arte e Lazer, do Correio Popular, em 31
de julho de 1992).
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