Friday, October 14, 2016

Longo reinado de terror


Pedro J. Bondaczuk


O comunismo na ex-União Soviética pode ser dividido em duas etapas distintas: antes e depois da subida ao poder de Iosif V. Dzhugashvili, mais conhecido pelo seu pseudônimo de Joseph Stalin. Tratou-se de um golpe dentro da Revolução de 1917, tão diferentes eram seu discurso e prática em relação aos ideais e postulados defendidos por Vladimir Ilich Ulyanov, o Lênin (também um pseudônimo) e seus revolucionários.

Seu longo reinado de terror, terminado apenas com sua morte, em 1953, redundou no extermínio de mais de 20 milhões de cidadãos – mais do que as perdas em vidas humanas de seu país durante a Segunda Guerra Mundial – além de uma grande quantidade de exilados ou banidos.

Stalin, nascido na Geórgia em 1879, filho de um sapateiro, começou sua vida pública em 1917 como redator do “Pravda”. Lenta, porém seguramente, foi ascendendo dentro do Partido Comunista, desprezando amizades, despido de lealdades, obcecado pelo poder.

Em 1922, foi feito secretário-geral do PC. Após a morte de Lênin, em 1924, em circunstâncias um tanto duvidosas (há historiadores que garantem que o líder revolucionário foi envenenado), Stalin formou, com Zinovyev e Kamenev, a “troika”, ou seja, o colegiado governante do país.

Todavia, uma outra estrela estava ascendendo na então União Soviética: Leon Trotsky. Esse filho de fazendeiro judeu tinha de ser neutralizado. E foi. Através de manobras e intrigas, que redundaram nos célebres Processos de Moscou, um arremedo de julgamento dos principais líderes do PC, acusados de traição – na verdade se tratou de mero expurgo – o principal rival teve que deixar o país para ir se refugiar na Cidade do México, onde seria assassinado, em 1940, por um tal de Ramón Mercader.

Stalin, de um só golpe, livrou-se de todos os seus adversários, até ficar absoluto no poder, como um czar vermelho, como um ditador sanguinário e cruel capaz de fazer os mais doidos imperadores romanos parecerem filantropos.

É dele, por exemplo, a coletivização das fazendas. Seu, também, foi o processo de remoção de povos inteiros de uma República para outra, como estratégia para acabar com o nacionalismo entre as 101 etnias da ex-URSS e homogeneizar populacionalmente o país, criando um só povo e uma única cultura, no que fracassou.

A dolorosa desagregação desse vasto império, como vemos hoje, com sangrentos conflitos se sucedendo na Geórgia, na Rússia, na Armênia, no Azerbaijão e em tantas outras partes, é conseqüência dessa brutal interferência de um ditador que via nas pessoas apenas peças de uma cruel engrenagem, quando não meros números estatísticos que podiam ser manipulados.

(Artigo publicado na página 16, Arte e Lazer, do Correio Popular, em 31 de julho de 1992).


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