Avanços
e retrocessos
Pedro J. Bondaczuk
A situação mundial da criança evoluiu em alguns
aspectos, como o da erradicação de algumas doenças responsáveis por altas taxas
de mortalidade, mas regrediu em outros, principalmente no que diz respeito aos
seus direitos. É o que se pode concluir de dois relatórios diferentes, um do
Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e outro da Anistia
Internacional, divulgados na semana passada.
No caso da saúde, apesar de doenças como a varíola e
a poliomielite haverem sido virtualmente erradicadas do Planeta, há outras
cinco – pneumonia, diarréia, sarampo, tétano e coqueluche – matando, e muitos,
meninos e meninas através do mundo.
O citado estudo do Unicef assinala que mais de 8
milhões de crianças morrem anualmente em conseqüência dessas moléstias
relativamente simples, cujas vacinas são baratas e acessíveis a todos. Essa
cifra representa bem mais do que o número de mortos verificado em todas as
guerras e tragédias – naturais ou provocadas pelo homem – que ocorrem ao longo
de 365 dias na Terra.
Além disso, a insidiosa Síndrome de Imunodeficiência
Adquirida, a terrível Aids, já contamina 1 milhão de menores, e o contágio
avança, dia-a-dia, diante da impotência, quando não da incompetência dos vários
governos para deter sua evolução.
São números terríveis, assustadores e que deveriam
levar os homens responsáveis e com visão de futuro a refletir seriamente e mais
do que isso, a agir de imediato. Não bastasse a ameaça das doenças, a população
infantil enfrenta situação trágica em decorrência da covardia e do
desequilíbrio mental e emocional dos adultos.
A Anistia Internacional revelou, em seu relatório
referente a 1993, que apesar da introdução, há quatro anos, de uma convenção
das Nações Unidas para os direitos dos menores, crianças seguem sendo
torturadas, estupradas e mortas em vários países.
O Brasil, certamente, não é exceção. Além da chacina
da Candelária, fartamente noticiada, é praticada uma forma mais sutil, e por
isso mais perversa, de extermínio de meninos e meninas, especialmente nas
grandes metrópoles: pela fome. Campinas, certamente, não está a salvo dessas
violações. Entre esperanças e desesperos, avanços e recuos, planos e intenções,
o fato é que o homem contemporâneo ainda sequer aprendeu a cuidar da sua prole.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 10 de janeiro de 1994)
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