Thursday, October 06, 2016

Avanços e retrocessos



Pedro J. Bondaczuk


A situação mundial da criança evoluiu em alguns aspectos, como o da erradicação de algumas doenças responsáveis por altas taxas de mortalidade, mas regrediu em outros, principalmente no que diz respeito aos seus direitos. É o que se pode concluir de dois relatórios diferentes, um do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e outro da Anistia Internacional, divulgados na semana passada.

No caso da saúde, apesar de doenças como a varíola e a poliomielite haverem sido virtualmente erradicadas do Planeta, há outras cinco – pneumonia, diarréia, sarampo, tétano e coqueluche – matando, e muitos, meninos e meninas através do mundo.

O citado estudo do Unicef assinala que mais de 8 milhões de crianças morrem anualmente em conseqüência dessas moléstias relativamente simples, cujas vacinas são baratas e acessíveis a todos. Essa cifra representa bem mais do que o número de mortos verificado em todas as guerras e tragédias – naturais ou provocadas pelo homem – que ocorrem ao longo de 365 dias na Terra.

Além disso, a insidiosa Síndrome de Imunodeficiência Adquirida, a terrível Aids, já contamina 1 milhão de menores, e o contágio avança, dia-a-dia, diante da impotência, quando não da incompetência dos vários governos para deter sua evolução.

São números terríveis, assustadores e que deveriam levar os homens responsáveis e com visão de futuro a refletir seriamente e mais do que isso, a agir de imediato. Não bastasse a ameaça das doenças, a população infantil enfrenta situação trágica em decorrência da covardia e do desequilíbrio mental e emocional dos adultos.

A Anistia Internacional revelou, em seu relatório referente a 1993, que apesar da introdução, há quatro anos, de uma convenção das Nações Unidas para os direitos dos menores, crianças seguem sendo torturadas, estupradas e mortas em vários países.

O Brasil, certamente, não é exceção. Além da chacina da Candelária, fartamente noticiada, é praticada uma forma mais sutil, e por isso mais perversa, de extermínio de meninos e meninas, especialmente nas grandes metrópoles: pela fome. Campinas, certamente, não está a salvo dessas violações. Entre esperanças e desesperos, avanços e recuos, planos e intenções, o fato é que o homem contemporâneo ainda sequer aprendeu a cuidar da sua prole.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 10 de janeiro de 1994)


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