Tuesday, October 25, 2016

Nem sempre a força prevalece


Pedro J. Bondaczuk


O comandante das forças aliadas no Golfo Pérsico, general Norman Schwarzekopf, disse, anteontem, acerca do primeiro grande ataque terrestre iraquiano à cidade saudita de Al-Khafji, desfechado na quarta-feira, que essa foi uma ação irrelevante do ponto de vista militar.

Classificou a ofensiva como tentativa de uma mosca para incomodar um elefante. A verdade, no entanto, conforme matérias enviadas por repórteres da região, é que a coisa não foi bem assim. E a vitória, tão decantada pelos norte-americanos, pela reconquista do porto, que antes da guerra tinha 20 mil habitantes, foi uma sucessão de equívocos por parte dos adversários de Saddam Hussein. O fato é que ninguém sabe com certeza o que realmente ocorreu em Al-Khafji, tamanhas têm sido as discrepâncias de informação.

O comando britânico, por exemplo, havia reportado a morte de 300 soldados iraquianos na batalha. Ontem, todavia, retificou a notícia, admitindo a colocação de um zero a mais no relatório. Concordou que os mortos do inimigo foram, na verdade, trinta.

Autoridades norte-americanas falaram em 500 prisioneiros de guerra. Pouco depois essa cifra teve que ser retificada para 400. A informação exata, ao contrário do que alguns ainda não conseguem entender, não atrapalha quem quer que seja, em guerra ou na paz.

Para informar com inexatidão, é preferível não dar informe algum. As contradições ficam impossíveis de ser evitadas quando se busca distorcer dados. Isto somente tende a gerar desconfianças na população e conseqüentemente o pânico.

Nenhum jornalista é insensato a ponto de publicar detalhes estratégicos que possam beneficiar o adversário, como posição de tropas, efetivos mobilizados ou alvos que se pretende atacar. Porém, quanto aos acontecimentos já verificados, não há porque omitir detalhes.

Isso, a menos que os comandantes hajam cometido erros imperdoáveis, na condução da batalha, que desejem que fiquem escondidos. Subestimar o inimigo, por outro lado, nunca foi a melhor das táticas. Além disso, o elefante, com todo o seu avantajado porte, costuma ter como fonte de seu maior pavor um simples camundongo.

A história tem demonstrado que nem sempre o mais forte é aquele que vence. Batalhas como as de Salamina, de Maratona e tantas outras estão registradas em qualquer compêndio escolar para comprovar que numa guerra acima do número de soldados e do equipamento militar sofisticado, está a determinação na vitória e a certeza de se estar combatendo por uma causa justa.

(Artigo publicado na página 14, “A Guerra no Golfo”, do Correio Popular, em 2 de fevereiro de 1991).


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