Nem sempre a força prevalece
Pedro J. Bondaczuk
O comandante das forças
aliadas no Golfo Pérsico, general Norman Schwarzekopf, disse, anteontem, acerca
do primeiro grande ataque terrestre iraquiano à cidade saudita de Al-Khafji,
desfechado na quarta-feira, que essa foi uma ação irrelevante do ponto de vista
militar.
Classificou
a ofensiva como tentativa de uma mosca para incomodar um elefante. A verdade,
no entanto, conforme matérias enviadas por repórteres da região, é que a coisa
não foi bem assim. E a vitória, tão decantada pelos norte-americanos, pela
reconquista do porto, que antes da guerra tinha 20 mil habitantes, foi uma
sucessão de equívocos por parte dos adversários de Saddam Hussein. O fato é que
ninguém sabe com certeza o que realmente ocorreu em Al-Khafji, tamanhas têm
sido as discrepâncias de informação.
O
comando britânico, por exemplo, havia reportado a morte de 300 soldados
iraquianos na batalha. Ontem, todavia, retificou a notícia, admitindo a
colocação de um zero a mais no relatório. Concordou que os mortos do inimigo
foram, na verdade, trinta.
Autoridades
norte-americanas falaram em 500 prisioneiros de guerra. Pouco depois essa cifra
teve que ser retificada para 400. A informação exata, ao contrário do que
alguns ainda não conseguem entender, não atrapalha quem quer que seja, em
guerra ou na paz.
Para
informar com inexatidão, é preferível não dar informe algum. As contradições
ficam impossíveis de ser evitadas quando se busca distorcer dados. Isto somente
tende a gerar desconfianças na população e conseqüentemente o pânico.
Nenhum
jornalista é insensato a ponto de publicar detalhes estratégicos que possam
beneficiar o adversário, como posição de tropas, efetivos mobilizados ou alvos
que se pretende atacar. Porém, quanto aos acontecimentos já verificados, não há
porque omitir detalhes.
Isso,
a menos que os comandantes hajam cometido erros imperdoáveis, na condução da
batalha, que desejem que fiquem escondidos. Subestimar o inimigo, por outro
lado, nunca foi a melhor das táticas. Além disso, o elefante, com todo o seu
avantajado porte, costuma ter como fonte de seu maior pavor um simples
camundongo.
A
história tem demonstrado que nem sempre o mais forte é aquele que vence.
Batalhas como as de Salamina, de Maratona e tantas outras estão registradas em
qualquer compêndio escolar para comprovar que numa guerra acima do número de
soldados e do equipamento militar sofisticado, está a determinação na vitória e
a certeza de se estar combatendo por uma causa justa.
(Artigo
publicado na página 14, “A Guerra no Golfo”, do Correio Popular, em 2 de
fevereiro de 1991).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment