Polêmicas em torno de
Bob Dylan e de Geraldo Carneiro
Pedro
J. Bondaczuk
A Academia Brasileira
de Letras como que imitou, nesta semana, o Comitê do Nobel de Literatura em um
determinado aspecto. Ambos optaram por letristas de música popular em suas
escolhas, em detrimento de escritores consagrados. No caso dos suecos, deram o
prestigioso e cobiçado prêmio literário ao mito do pop norte-americano Bob
Dylan que, por enquanto, ainda nem mesmo aceitou a premiação. Imitou, assim, o
poeta indiano, Rabindranath Tagore que, na década de 20 do século passado
recusou essa honraria. Já os acadêmicos da ABL elegeram o poeta, compositor e
roteirista de cinema Geraldo Carneiro para ocupar a cadeira de número 24, da
casa de Machado de Assis, que estava vaga desde a morte do seu último ocupante,
o crítico teatral e teatrólogo Sábato Magaldi. A primeira escolha foi bastante
polêmica e segue gerando debates nos meios culturais. Já a segunda, nem tanto.
Amigos têm insistido em
me questionar sobre o que acho desses dois casos, como se minha opinião fosse
importante. Obviamente, não é. Todavia, não me manterei em cima do muro, sem
receio de pôr mais lenha nessa fogueira e ampliar ainda mais a polemica, que
considero pouco (na verdade nada) importante. Se eu fosse membro do Comitê do
Nobel, não daria o prêmio de 2016 a Bob Dylan. Admito que, além de se tratar de
consagradíssimo artista popular, é excelente poeta. Todavia, como escritor, não
é melhor do que uma penca de ilustres candidatos à premiação, entre os quais a
nossa representante (e pachequismo à parte), Lygia Fagundes Telles, que merece,
com sobras, o Nobel. Isso para não citar o eterno postulante, o norte-americano
Philip Roth, que há pelo menos duas décadas vem sendo apontado como “favorito”
e que invariavelmente acaba preterido. Mas... é questão de opinião pessoal.
E no caso de Geraldo
Carneiro, como eu procederia? Bem, se eu fosse acadêmico e, portanto, com
direito a voto, votaria, sem pestanejar, neste mineiro de Belo Horizonte, oito
anos e meio mais jovem do que eu (nascido em 11 de junho de 1952), que se
tornou conhecido mais como letrista (sua composição “Choro de nada”, em
parceria com Eduardo Souto Neto, foi gravada, por exemplo, por Vinicius de
Moraes e Toquinho, em 1975 e por Antonio Carlos Jobim e Miucha, em 1978),
embora, como poeta, tenha publicado seu primeiro livro antes, em 1974, aos 22
anos de idade, ainda quando estudante de Letras da PUC do Rio de Janeiro. É
provável que a esta altura muitos leitores, a exemplo do que amigos chegados já
fizeram, estejam afirmando, categoricamente, que estou sendo incoerente. Nem
tanto. Conheço a obra literária tanto de Bob Dylan quanto de Geraldo Carneiro.
A do primeiro, no meu entender, não o credencia ao Nobel de Literatura. Já a do
segundo é compatível para que conquiste a cadeira que disputou na Academia
Brasileira de Letras.
Concordo, em tese,
todavia, com algumas ponderações. Alguns amigos observaram que, se era para
guindar letristas à Academia, por que não fizeram isso antes, com gente como
Cartola, como Vinicius de Moraes, como Cazuza, como Caetano Veloso, como
Orestes Barbosa ou como Renato Russo? Respondo: porque não se candidataram à
ABL. Caso se candidatassem, suponho que não seriam eleitos. A exemplo do Prêmio
Nobel, a Casa de Machado de Assis cometeu muitas “mancadas”, algumas até
antológicas. Elegeu, por exemplo, dois ex-presidentes da República sem nenhuma
tradição literária (Getúlio Vargas e José Sarney), mas não acolheu poetas como
Mário Quintana, Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Cecília
Meirelles e Cora Coralina, entre tantos outros. No quesito “injustiça”, portanto,
não fica nada a dever ao Nobel de Literatura.
Ainda bem que não
cometeu uma nova, em 2016, elegendo Geraldo Carneiro, com todo o respeito que
seus três ilustres concorrentes merecem. Foram eles: o ex-ministro do STF, Eros
Grau; o embaixador André Amado (primo em segundo grau de Jorge Amado) e o
ex-ministro da Justiça do governo de Fernando Collor, Bernardo Cabral. Não me
consta que tenham vivência literária, embora sejam vencedores em suas
respectivas carreiras. Por muito pouco, o poeta não conquistou a unanimidade.
Dos 34 acadêmicos que votaram, Geraldo Carneiro obteve 33 votos. Eu também
votaria nele, e sem pestanejar. Mas não daria o Prêmio Nobel de Literatura a
Bob Dylan. Os roqueiros de plantão que me crucifiquem!!!
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