Decepção do século
Pedro J. Bondaczuk
O Brasil é tido no Exterior como
a grande decepção deste século. Teve inúmeras oportunidades para deslanchar em
seu desenvolvimento, mas por contar com governos incompetentes e políticas
inconsistentes chega neste final de milênio ostentando dados sociais
estarrecedores, senão revoltantes.
O País não conseguiu, sequer,
definir suas prioridades econômicas. Não sabe o que produzir para vender a quem
e a que custo. Tudo é feito empiricamente, na base de tentativa e erro, daí
essa fase de retrocesso acelerado. Claro que o atraso não se deve apenas a
isso. Entram na história o fator corrupção, o item irresponsabilidade e outras
tantas variáveis negativas, como o oportunismo, a desorganização, a
indisciplina etc.
O correspondente da “Agência
Estado” em Washington, Paulo Sotero, ouviu o ex-secretário do Tesouro
norte-americano, Nicholas Brady, que desabafou: “O Brasil é uma das promessas
não realizadas do mundo atual”.
Se lá fora, o País é avaliado com
tamanha severidade, imaginem aqui. Quando o crítico faz constatações
contundentes desse tipo, em artigos carregados de amargura, isso não significa
descrença nos destinos nacionais ou aquele pessimismo indolente e rancoroso,
que não conduz a lugar algum.
Quando se critica a situação, e
principalmente o comportamento dos que conduziram o Brasil a esse buraco, há
uma enorme carga de confiança de que nem tudo está perdido. Esse é o papel da
imprensa. Ou seja, alertar, constatar, sugerir, condenar o que é condenável,
para que os erros sejam sanados, os vícios combatidos, os problemas
racionalizados e o País encontre aquele destino com o qual todos sonhamos e por
cujo objetivo tantos se sacrificam, virtualmente por nada. Por dois
salários-mínimos e meio (o ganho de 52% dos brasileiros que trabalham), o que
condena essas pessoas a morarem em favelas, a não terem acesso à educação, a
serem desnutridas e a não contarem com nenhuma assistência sanitária.
E ainda assim, o brasileiro
confia. Ama sua pátria como poucos povos são capazes de amar. É por gostar
tanto deste País que as críticas às mazelas e aos desmandos soam tão ácidas. A
todo o instante políticos e economistas tentam nos passar a idéia de que o
Brasil é muito pobre. Que não há recursos para todos. Não o é.
A ganância de alguns é que não
tem limites. O povo é que vegeta num estado lastimável de miserabilidade. O
ex-secretário do Tesouro norte-americano observou a nosso respeito: “O Brasil
tem, em larga medida, algumas das vantagens e dos problemas dos Estados Unidos.
Como os EUA é um país extraordinariamente rico que se permite o luxo de fazer
certas extravagâncias”.
Extravagante não é bem o termo
mais apropriado para classificar as atrocidades econômicas e sociais que se
cometem por aqui. É um absurdo um país como este conviver com taxas de inflação
mensais acima de 20% por tantos anos. Mas o combate a este flagelo econômico
passa muito mais pela vontade e competência políticas do que por decisões
técnicas.
Os governos, salvo raras e
honrosíssimas exceções, não merecem a credibilidade da população. Foram tantos
e quantos as aventuras, experiências e atos de corrupção, desde o encilhamento
do fim do século passado, aos sucessivos choques no período da Nova República,
que a palavra dos governantes desperta, hoje, incredulidade, quando não
debochadas gargalhadas. E isso é gravíssimo, convenhamos.
(Artigo publicado na página 2,
Opinião, do Correio Popular, em 25 de março de 1993).
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