Quando a notícia é
um show
Pedro J. Bondaczuk
O palco está armado para o grande show da paz, montado
pelos líderes das superpotências, Ronald Reagan e MikhaiI Gorbachev, que vão
assinar, hoje, o primeiro acordo para a eliminação de todo um elenco de armas
nucleares desde que estes artefatos foram desenvolvidos, ainda durante a
Segunda Guerra Mundial.
Muita gente interpreta as reuniões de cúpula, e em
especial esta terceira entre os dois dirigentes, como mero espetáculo para a
televisão. Rotundo engano! É verdade que ambos os interlocutores precisam desse
espaço publicitário que estão ganhando na mídia internacional, para recuperar
um pouco de prestígio em seus respectivos países.
O presidente norte-americano, para apagar a má
imagem deixada pelo escândalo “Irã-contras”. O líder soviético, para acalmar os
burocratas do Partido Comunista, inquietos com a Perestroika e a Glasnost que
lançou.
Mas a reunião, que começa amanhã cedo, não é apenas
um show. Ocorre que, desta feita, o evento juntou uma série de fatores que
permite com que nenhum detalhe escape da observação de cerca de 5 mil
jornalistas do mundo todo. Um deles, é o local da realização do encontro: os
Estados Unidos, onde tudo o que interessa o público é noticiado, seja de que
natureza for.
Outro fator que chama a atenção é o carisma de um
dos interlocutores: Mikhail Gorbachev, que construiu, habilmente, no correr de
quase três anos de gestão, uma imagem de pacificador. O terceiro aspecto diz
respeito ao anfitrião: o presidente Ronald Reagan, homem acostumado a câmeras,
refletores e microfones, já começou a vida pública como comentarista esportivo
de rádio nos Estados Unidos, carreira substituída, sucessivamente, pelas de
ator, de líder sindical e de político de inegável habilidade.
Entretanto, é saudável que o mundo fique sabendo o
que, como e porque os líderes mundiais negociam. A evolução da tecnologia fez
com que o Planeta encolhesse e se transformasse numa aldeia global. Essa
característica, com certeza, contribuiu para evitar confrontos armados de
grandes proporções, já que a informação simultânea aos fatos gerou uma
capacidade de pressão popular como nunca antes houve na história.
Quando algum país do clube atômico testa uma bomba,
em explosão subterrânea, por exemplo, horas depois a humanidade inteira fica
sabendo, pelos meios de comunicação, dessa ocorrência. Quando algum grupo
protesta contra esse teste, a adesão de pacifistas é quase imediata, porque
tomam ciência do ato.
Por isso, nada mais lógico e natural que num século
com essas características, um encontro, com a importância deste, se transforme,
até mesmo, num show. Vire um espetáculo onde o anseio mundial pela paz se torna
o principal personagem, mesmo sendo apenas um abstrato sentimento coletivo.
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do
Correio Popular, em 8 de dezembro de 1987).
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