Inflação e crescimento
Pedro J. Bondaczuk
A
recessão econômica, seqüela do plano antiinflacionário do governo do presidente
Fernando Collor, dá indicações concretas de agravamento. A taxa de desemprego,
por exemplo, voltou a crescer no mês passado, conforme informou a Fiesp, num
período em que tradicionalmente o índice de ocupação de mão de obra é mais
alto, tendo em vista os festejos natalinos.
As
cobranças de títulos em cartório virtualmente dobraram e uma onda de falências
e concordatas está se abatendo sobre um número crescente de empresas. Na outra
ponta, no entanto, está uma inflação que volta a subir degrau por degrau,
traçando o típico quadro perverso da "estagflação", que se torna
muito mais trágico quando ocorre num país como o nosso, despido de mecanismos
eficientes de proteção social.
Seria
mesmo indispensável a recessão para conter elevadas taxas inflacionárias? Os
economistas dividem-se a esse respeito. Um punhado deles, muitos dos quais
ganhadores do Prêmio Nobel de Economia, entende que não necessariamente.
Um
destes é Paul A. Samuelson. Numa conferência que ele pronunciou em São Paulo,
há exatos dez anos, afirmou: "Nada garante que, para combater a inflação,
é preciso parar de crescer". Atrevemo-nos, até mesmo, a afirmar que em boa
parte dos casos o indispensável é exatamente o oposto. A escassez de produtos
tende a ser, evidentemente, inflacionária. Não há como subverter a lei natural
de mercado, da oferta e da procura.
Alguns
economistas, como Milton Friedman, até admitem a chamada "recessão
purgativa", mas por um período curtíssimo. Não se trata, contudo, da
situação brasileira. A nossa está atravessando todo o tormentoso ano de 1990 e
ao invés de mostrar sintomas de reaquecimento, manifesta, na verdade,
indicações de que se agravará.
O
remédio, no caso, está se transformando em veneno. Está matando o doente e não
acabando com a doença. Uma boa leitura para nossos tecnocratas seriam os textos
do professor e economista norte-americano, Ronald C. Nairn. Num de seus
trabalhos ele faz a seguinte constatação: "Nossa tragédia é esquecermos
que a economia e a política são reflexos da ação humana. Essa tragédia resulta
do fato de que, desde a Revolução Francesa se espalhou a idéia de que as
instituições (principalmente o Estado) são mais importantes do que as pessoas.
Isso é pura ilusão". Trágica ilusão, acrescentaríamos.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 14 de novembro de 1990)
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