Sunday, October 23, 2016

Inflação e crescimento


Pedro J. Bondaczuk


A recessão econômica, seqüela do plano antiinflacionário do governo do presidente Fernando Collor, dá indicações concretas de agravamento. A taxa de desemprego, por exemplo, voltou a crescer no mês passado, conforme informou a Fiesp, num período em que tradicionalmente o índice de ocupação de mão de obra é mais alto, tendo em vista os festejos natalinos.

As cobranças de títulos em cartório virtualmente dobraram e uma onda de falências e concordatas está se abatendo sobre um número crescente de empresas. Na outra ponta, no entanto, está uma inflação que volta a subir degrau por degrau, traçando o típico quadro perverso da "estagflação", que se torna muito mais trágico quando ocorre num país como o nosso, despido de mecanismos eficientes de proteção social.

Seria mesmo indispensável a recessão para conter elevadas taxas inflacionárias? Os economistas dividem-se a esse respeito. Um punhado deles, muitos dos quais ganhadores do Prêmio Nobel de Economia, entende que não necessariamente.

Um destes é Paul A. Samuelson. Numa conferência que ele pronunciou em São Paulo, há exatos dez anos, afirmou: "Nada garante que, para combater a inflação, é preciso parar de crescer". Atrevemo-nos, até mesmo, a afirmar que em boa parte dos casos o indispensável é exatamente o oposto. A escassez de produtos tende a ser, evidentemente, inflacionária. Não há como subverter a lei natural de mercado, da oferta e da procura.

Alguns economistas, como Milton Friedman, até admitem a chamada "recessão purgativa", mas por um período curtíssimo. Não se trata, contudo, da situação brasileira. A nossa está atravessando todo o tormentoso ano de 1990 e ao invés de mostrar sintomas de reaquecimento, manifesta, na verdade, indicações de que se agravará.

O remédio, no caso, está se transformando em veneno. Está matando o doente e não acabando com a doença. Uma boa leitura para nossos tecnocratas seriam os textos do professor e economista norte-americano, Ronald C. Nairn. Num de seus trabalhos ele faz a seguinte constatação: "Nossa tragédia é esquecermos que a economia e a política são reflexos da ação humana. Essa tragédia resulta do fato de que, desde a Revolução Francesa se espalhou a idéia de que as instituições (principalmente o Estado) são mais importantes do que as pessoas. Isso é pura ilusão". Trágica ilusão, acrescentaríamos.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 14 de novembro de 1990)

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