Sociedade
enferma
Pedro J. Bondaczuk
O pensador Herbert Marcuse – hoje fora de moda, mas
que foi o guru da geração rebelde dos anos 60, aquela que protagonizou os
levantes estudantis de 1968 – escreveu, em um de seus livros: “Uma sociedade
está doente quando as instituições fundamentais e suas relações (ou seja, sua
estrutura) são de tal natureza, que não permitem a utilização dos meios
materiais existentes para o desenvolvimento ideal da existência humana”.
Por esse parâmetro, a nossa, brasileira, está
gravemente, copiosamente, perigosamente enferma, embora sua enfermidade tenha
cura. Convenhamos, a vida de 85% da população do País, especialmente dos 32
milhões de famintos (ou mais), não é das mais dignas e invejáveis.
O problema do Brasil não é a falta de recursos,
embora os vários governos que se têm sucedido no correr da nossa história
choraminguem sobre a falta de dinheiro para cobrir todas as necessidades dos
cidadãos.
Já fomos a sétima economia do mundo e hoje, de
acordo com levantamento insuspeito do Fundo Monetário Internacional, divulgado
em maio passado, ocupamos a nona colocação. Apenas isso serviria para não
justificar tamanha legião de miseráveis, tendo, como contraponto, fortunas
fabulosas, com rios de dólares investidos no exterior, no outro extremo.
Trata-se, pois, de uma sociedade doente, injusta,
desunida e não-solidária. Nossas instituições têm se revelado frágeis e,
sobretudo, incompetentes para utilizar os meios materiais existentes para
valorizar, proteger e promover o maior patrimônio de uma nação: o seu povo.
Enquanto nos parâmetros econômicos, a despeito da
propalada crise – da qual uma minoria privilegiada está absolutamente a salvo –
o Brasil ocupa posição de destaque, nos quesitos sociais despenca ladeira
abaixo, igualando-se aos países mais miseráveis da Ásia, da África e,
principalmente, da América Latina.
As mazelas políticas, a corrupção desbragada, a
institucionalização da impunidade para os “poderosos”, enquanto com os humildes
a Justiça costuma ser severa, quando não vingativa – contrariando a doutrina de
Cesare Beccaria, segundo a qual a pena não é uma vingança, mas uma chance de
reeducação – e o uso da retórica, para substituir ações, ameaçam tirar do
brasileiro seu último e mais precioso bem: a esperança.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 23 de dezembro de 1993)
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