Monday, October 24, 2016

Resultado desfavorável ao Brasil



Pedro J. Bondaczuk


Os resultados das eleições norte-americanas de terça-feira, embora confirmem uma regra que tem se repetido durante os governos de todos os presidentes reeleitos na História do país, não deixaram de ser surpreendentes. Em geral, todos os mandatários com duplo mandato nos Estados Unidos têm os dois anos finais de sua gestão atribulados pela existência de um Congresso dominado pela oposição.

Com Ronald Reagan a escrita repetiu-se. As pesquisas de opinião, anteriores à votação, assinalavam que os republicanos perderiam algumas cadeiras no Senado, mas conservariam uma frágil maioria. Os eleitores, no entanto, não quiseram que as coisas corressem assim.

De nada valeu o enorme esforço do presidente em favor de seus candidatos. Os agricultores do Sul do país, descontentes com a política do governo para o setor, determinaram a sua derrota nas urnas. A perda de vagas do partido situacionista acabou sendo maior do que os próprios democratas previam.

Doravante, Reagan terá que negociar as proposições que desejar ver aprovadas e ele já demonstrou que é um exímio negociador. O novo Congresso norte-americano, que emergiu, ontem, das urnas, terá algumas características que serão desfavoráveis aos países que têm necessidade de exportar mais, para satisfazer os compromissos das respectivas dívidas externas. Entre estes, evidentemente, está o Brasil, o maior devedor do Terceiro Mundo.

Os democratas costumam ser mais protecionistas. Há dois anos, durante a campanha para as eleições de 1984, eles comprometeram-se, com vários setores industriais locais que criariam obstáculos às importações e beneficiariam empresas francamente decadentes, que não se prepararam para estes tempos tão competitivos.

A sua derrota, tanto para a presidência, quanto para o Senado, impediu que cumprissem tais compromissos. Agora, eles terão a faca e o queijo nas mãos. Contra o Brasil, inclusive, eles terão o argumento da nossa reserva de mercado no campo dos microcomputadores, legislação que parece não ter sido bem compreendida pelos norte-americanos e que tem servido de pomo da discórdia entre os dois países.

Nós poderemos, portanto, já a partir da próxima legislatura, esperar duras investidas contra a Lei de Informática e, possivelmente, até algumas retaliações contra nossos produtos. O momento, para nós, seria dos mais inoportunos para uma briga dessas, quando nossa balança comercial não vem repetindo as excelentes performances dos dois anos anteriores.

No plano de política externa, no entanto, a probabilidade é a de um maior isolacionismo norte-americano. Ou seja, a de uma interferência menor em certas questões. Esse aspecto poderá beneficiar os sandinistas da Nicarágua, principalmente se eles tiverem tirocínio político e indultarem o piloto Eugene Hasenfus, que atualmente está sendo julgado por ter transportado armas para os “contras”.

Um ato benevolente do presidente Daniel Ortega para com o acusado poderia ter uma influência decisiva na opinião pública norte-americana. E, como constatou o advogado nicaragüense, Enrique Sotelo Borgen, encarregado da defesa do réu, “esta é a única atitude capaz de mudar a idéia de Reagan a respeito do atual regime”.

De qualquer maneira, o resultado dessas eleições, cujo índice de comparecimento girou em torno de 42%, trará, certamente, algumas mudanças na política interna e externa da Casa Branca. Resta saber, somente, se será para melhor.       

(Artigo publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 6 de novembro de 1986)


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