Sob
fogo da oposição
Pedro J. Bondaczuk
A próxima reunião de cúpula dos líderes das
superpotências, a ser realizada em Washington, dentro de exatas três semanas,
vai colocar, frente a frente, dois governantes com gravíssimos problemas
internos em seus países e precisando desviar a atenção de seus opositores para
outros temas, para ganhar um pouco de fôlego.
De um lado estará Mikhail Gorbachev, desafiado pela
cúpula do Partido Comunista, por alguns autênticos cardeais da agremiação, que
se opõem às reformas que ele pretende implantar, não somente na economia
nacional, mas, principalmente, na mentalidade reinante nesse Estado ainda
totalitário. O maior exemplo disso foi a crítica publicada pelo “Pravda”,
ontem, sobre algumas medidas que o líder tomou.
No outro pólo, estará o Ronald Reagan pós-Irangate,
desgastado perante a opinião pública e desafiado a todo o instante por um
Congresso hostil. Só que no seu caso, foi ele que partiu para a ofensiva,
ontem, ao advertir os que pretendem usar as recentes dificuldades vividas pelo
mercado de ações norte-americanas para fazer prevalecer leis protecionistas. E
é nisto que reside a principal diferença entre as duas situações.
Ambos os mandatários desejam um certo tipo de
liberdade, de acordo com o perfil ideológico e o tipo de país que cada um
dirige. As reações é que variam. No caso de Gorbachev, um simples ato de
abertura, na verdade muito pequeno, como tirar das mãos do único partido
existente na URSS a prerrogativa de escolher os administradores de fábricas,
foi considerado como uma grave heresia.
O “Pravda” chegou a insinuar que aquilo que o líder
do Cremlin entenderia que seja democracia não passa de “anarquia e de caos”. Os
burocratas soviéticos não escondem o seu pavor pela liberalização, por mais
incipiente que ela venha a ser.
Chegaram a prever uma verdadeira catástrofe, com uma
eventual democratização da URSS (o que, convenhamos, ainda está anos-luz de
distância de se concretizar), fato altamente revelador de como encaram que deva
ser uma sociedade nacional.
Reagan, por seu turno, quer, simplesmente, conservar
o que nunca faltou nos EUA: liberdade. O presidente norte-americano investiu,
duramente, contra os protecionistas do Congresso, que ainda não entenderam a
época presente e pretendem deflagrar uma guerra comercial.
O interessante é que, em ambos os casos, se apelou
para a alusão a uma !brincadeira”. No do “Pravda”, a advertência foi de que
Gorbachev estaria “brincando” com algo que os soviéticos não estariam
acostumados: a democracia. No de Reagan, foi o presidente que advertiu que os
congressistas “brincam”, atualmente, “com dinamite”.
A próxima reunião de cúpula, portanto, será levada a
efeito por dois governantes acossados. A pergunta que fica no ar é se o acordo
que ambos eventualmente vierem a firmar será, ou não, levado a sério em seus
respectivos países se (no caso do secretário-geral do PC) e quando (no do
mandatário norte-americano) ambos deixarem o poder. É algo que não deixa de
exigir uma séria e madura reflexão.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do
Correio Popular, em 17 de novembro de 1987)
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