Inflação de índices
Pedro J. Bondaczuk
O
brasileiro convive, hoje, além da insegurança ditada por uma economia instável,
que caminha a passos de caranguejo (para trás) ao invés de ter avanços, depois
de 14 anos de recessão, ora agravada --- como em 1992 --- ora disfarçada em
ilusório crescimento, também com uma infinidade de índices para as mais
variadas finalidades.
Apenas
sobre a inflação, objetivando prestar um bom serviço aos leitores, o Correio
Popular publica cinco: o Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto
de Pesquisas Econômicas da USP (Fipe); o Índice Nacional de Preços ao
Consumidor do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; o Índice do
Custo de Vida do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Sócio-Econômicos e os dois apurados pela Fundação Getúlio Vargas, ou seja, o
Índice Geral de Preços e o Índice Geral de Preços do Mercado.
Além
desses, todavia, existem vários outros. Só o IBGE tem duas séries especiais: o
INPC-E e o IPCA-E. Alguns institutos publicam taxas quadrissemanais. Há, ainda,
índices próprios para determinadas cidades, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte
ou São Paulo. Ou para setores sociais, como os divulgados pela Ordem dos
Economistas e pela Confederação do Comércio do Estado de São Paulo. As tabulações
têm critérios dos mais variados, tanto na pesquisa de preços, quanto na
ponderação atribuída aos diversos subíndices.
Com
tudo isso, não há economista, ou ministro, ou cidadão que tenha condições de
afirmar com exatidão qual é a inflação brasileira de cada mês. Cada família tem
uma, dependendo da sua realidade econômica. Em conseqüência disso, é difícil
estipular reajustes, seja de que natureza forem, na certeza de não se estar
perdendo dinheiro.
Isto
vale para salários, preços e outros tantos compromissos. Para uma economia dita
desindexada, há indexadores demais a tirar o sono do atribulado cidadão. Os
mais triviais atos de uma pessoa no seu dia a dia acabam carregados de tensão,
desde o fechamento de um contrato de vendas ou serviços, até o ato de comprar
um sorvete.
Tempos
atrás, sair para fazer compras era tido até como uma espécie de lazer. Hoje,
isto virou um tormento. Perdeu-se o referencial de preços. Um mesmo produto às
vezes custa 300% a mais de um estabelecimento para outro vizinho de parede.
Em
determinados locais, é capaz de uma geladeira custar menos do que um pote de
geléia. Qual é, de fato, a inflação brasileira? Anteontem, por exemplo, foram
divulgadas duas taxas, apuradas no mesmo período --- de 15 de dezembro a 15 de
janeiro ---, mas uma, o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) foi de 25,83%
e outra, o Índice de Preços ao Consumidor Ampliado Especial ficou em 29,71%.
Como
explicar tamanha discrepância? A taxa mais elevada será a utilizada pelo
governo corrigir os tributos, já que vai servir para reajustar a Unidade Fiscal
de Referência (a tão comentada Ufir, que vai atormentar o cidadão este ano
quando fizer sua declaração do Imposto de Renda). A menor, servirá para
correções de aluguéis, de prestações, de promissórias e de outras tantas coisas
mais. Como se observa, entre outras distorções, a inflação propicia este
autêntico "samba do crioulo doido" na economia.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 30 de janeiro de 1993).
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