Saturday, October 15, 2016

Inflação de índices


Pedro J. Bondaczuk


O brasileiro convive, hoje, além da insegurança ditada por uma economia instável, que caminha a passos de caranguejo (para trás) ao invés de ter avanços, depois de 14 anos de recessão, ora agravada --- como em 1992 --- ora disfarçada em ilusório crescimento, também com uma infinidade de índices para as mais variadas finalidades.

Apenas sobre a inflação, objetivando prestar um bom serviço aos leitores, o Correio Popular publica cinco: o Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da USP (Fipe); o Índice Nacional de Preços ao Consumidor do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; o Índice do Custo de Vida do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos e os dois apurados pela Fundação Getúlio Vargas, ou seja, o Índice Geral de Preços e o Índice Geral de Preços do Mercado.

Além desses, todavia, existem vários outros. Só o IBGE tem duas séries especiais: o INPC-E e o IPCA-E. Alguns institutos publicam taxas quadrissemanais. Há, ainda, índices próprios para determinadas cidades, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte ou São Paulo. Ou para setores sociais, como os divulgados pela Ordem dos Economistas e pela Confederação do Comércio do Estado de São Paulo. As tabulações têm critérios dos mais variados, tanto na pesquisa de preços, quanto na ponderação atribuída aos diversos subíndices.

Com tudo isso, não há economista, ou ministro, ou cidadão que tenha condições de afirmar com exatidão qual é a inflação brasileira de cada mês. Cada família tem uma, dependendo da sua realidade econômica. Em conseqüência disso, é difícil estipular reajustes, seja de que natureza forem, na certeza de não se estar perdendo dinheiro.

Isto vale para salários, preços e outros tantos compromissos. Para uma economia dita desindexada, há indexadores demais a tirar o sono do atribulado cidadão. Os mais triviais atos de uma pessoa no seu dia a dia acabam carregados de tensão, desde o fechamento de um contrato de vendas ou serviços, até o ato de comprar um sorvete.

Tempos atrás, sair para fazer compras era tido até como uma espécie de lazer. Hoje, isto virou um tormento. Perdeu-se o referencial de preços. Um mesmo produto às vezes custa 300% a mais de um estabelecimento para outro vizinho de parede.

Em determinados locais, é capaz de uma geladeira custar menos do que um pote de geléia. Qual é, de fato, a inflação brasileira? Anteontem, por exemplo, foram divulgadas duas taxas, apuradas no mesmo período --- de 15 de dezembro a 15 de janeiro ---, mas uma, o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) foi de 25,83% e outra, o Índice de Preços ao Consumidor Ampliado Especial ficou em 29,71%.

Como explicar tamanha discrepância? A taxa mais elevada será a utilizada pelo governo corrigir os tributos, já que vai servir para reajustar a Unidade Fiscal de Referência (a tão comentada Ufir, que vai atormentar o cidadão este ano quando fizer sua declaração do Imposto de Renda). A menor, servirá para correções de aluguéis, de prestações, de promissórias e de outras tantas coisas mais. Como se observa, entre outras distorções, a inflação propicia este autêntico "samba do crioulo doido" na economia.


(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 30 de janeiro de 1993).

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