Sonho
frustrado
Pedro J. Bondaczuk
A data de ontem, segundo sonhavam, há 40 anos, 135
mil homens determinados a derrotar o maior flagelo que a humanidade conhecera
até então, era para ser comemorada de forma diferente da que foi. Em meio à
tensão, que precedia um dos momentos culminantes de uma perversa guerra,
responsável pela morte de 50 milhões de pessoas, aqueles bravos se consolavam
com a certeza de que o seu sacrifício pessoal iria lançar as sementes de um
novo mundo, de uma era desconhecida para os habitantes da Europa, em que não
haveria novos conflitos, injustiças sociais, fome, discriminação racial e
outros cancros que corroem o relacionamento humano.
Aquele 6 de junho de 1944 era o “Dia D”, um código
existente entre as forças aliadas que combatiam as potências do denominado
“Eixo”, para a invasão das praias da Normandia, iniciando o processo de
libertação da França da dominação nazista e empurrando o adversário até Berlim.
Assim que a Rádio BBC de Londres transmitisse um
determinado trecho de um poema de Arthur Rimbaud, 6.939 navios e 1.682 aviões,
transportando aqueles 135 mil heróis, iniciariam um novo capítulo na história
dos povos.
O que restou do sonho desses soldados 40 anos
depois? Ditadores de todos os matizes, déspotas cruéis e sanguinários, brotam
como erva ruim em várias partes do Planeta. Mais de meio bilhão de pais de
família não têm sequer a oportunidade de proverem o sustento dos seus.
Guerras e revoluções surgem às dezenas, impedindo o
desenvolvimento de várias sociedades nacionais, que se desorganizaram, deixando
rastros de rancor e intolerância. E, o que é pior, o homem, com toda a
insensatez que o caracteriza, se deixando guiar, na maioria das vezes, pelos
hormônios ao invés dos neurônios, isto é, por suas paixões e não por seu raciocínio,
detém o meio de destruir cem planetas do tamanho da Terra, através das armas
nucleares.
Como tudo isso é triste! O sangue dos dez mil
bravos, que tombaram nos momentos iniciais da batalha, nas praias de Omaha,
Utah e, principalmente, nas colinas de “Point du Hoc”, teria sido em vão? Ou
algum dia as superpotências conseguirão se entender para, no dizer do
presidente norte-americano Ronald Reagan, num apaixonado discurso, feito ontem,
na Normandia, “varrer da face da Terra as terríveis armas que o homem tem agora
nas mãos”?
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do
Correio Popular, em 7 de junho de 1984)
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