Thursday, October 27, 2016

Sonho frustrado


Pedro J. Bondaczuk


A data de ontem, segundo sonhavam, há 40 anos, 135 mil homens determinados a derrotar o maior flagelo que a humanidade conhecera até então, era para ser comemorada de forma diferente da que foi. Em meio à tensão, que precedia um dos momentos culminantes de uma perversa guerra, responsável pela morte de 50 milhões de pessoas, aqueles bravos se consolavam com a certeza de que o seu sacrifício pessoal iria lançar as sementes de um novo mundo, de uma era desconhecida para os habitantes da Europa, em que não haveria novos conflitos, injustiças sociais, fome, discriminação racial e outros cancros que corroem o relacionamento humano.

Aquele 6 de junho de 1944 era o “Dia D”, um código existente entre as forças aliadas que combatiam as potências do denominado “Eixo”, para a invasão das praias da Normandia, iniciando o processo de libertação da França da dominação nazista e empurrando o adversário até Berlim.

Assim que a Rádio BBC de Londres transmitisse um determinado trecho de um poema de Arthur Rimbaud, 6.939 navios e 1.682 aviões, transportando aqueles 135 mil heróis, iniciariam um novo capítulo na história dos povos.

O que restou do sonho desses soldados 40 anos depois? Ditadores de todos os matizes, déspotas cruéis e sanguinários, brotam como erva ruim em várias partes do Planeta. Mais de meio bilhão de pais de família não têm sequer a oportunidade de proverem o sustento dos seus.

Guerras e revoluções surgem às dezenas, impedindo o desenvolvimento de várias sociedades nacionais, que se desorganizaram, deixando rastros de rancor e intolerância. E, o que é pior, o homem, com toda a insensatez que o caracteriza, se deixando guiar, na maioria das vezes, pelos hormônios ao invés dos neurônios, isto é, por suas paixões e não por seu raciocínio, detém o meio de destruir cem planetas do tamanho da Terra, através das armas nucleares.

Como tudo isso é triste! O sangue dos dez mil bravos, que tombaram nos momentos iniciais da batalha, nas praias de Omaha, Utah e, principalmente, nas colinas de “Point du Hoc”, teria sido em vão? Ou algum dia as superpotências conseguirão se entender para, no dizer do presidente norte-americano Ronald Reagan, num apaixonado discurso, feito ontem, na Normandia, “varrer da face da Terra as terríveis armas que o homem tem agora nas mãos”?  


(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 7 de junho de 1984)

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