Homem permanece insensível
aos sofrimentos numa guerra
Pedro J. Bondaczuk
O
ex-secretário de Estado norte-americano, John Foster Dulles, que ocupou este
cargo durante a gestão do presidente Dwight David Eisenhower, disse que "o
mundo nunca terá uma paz duradoura enquanto os homens reservarem para a guerra
as mais elevadas qualidades humanas".
A
tecnologia mais sofisticada, a soma de recursos de maior porte, as maiores
inteligências do Planeta estão hoje empenhadas não em pesquisar, financiar e
desenvolver máquinas, sistemas e idéias tendentes a tornar a vida dos povos
melhor, mas para a supressão dela.
Pretexto
para guerrear nunca faltou e jamais irá faltar. Conflitos de interesse são
comuns nesse animal que usa o dom de pensar, a qualidade de consciência, como
um ato de permanente suicídio.
Nos
15 mil anos de história que têm alguma espécie de registro, a humanidade viveu
em paz algo em torno de 5%. Ainda assim, diante de tanta desgraça, ruína moral
e destruição, não aprendeu nada. O conflito do Golfo Pérsico, travado
pretensamente em nome de princípios elevados --- nenhum guerreiro, como Átila,
Gengis Khan ou Hitler, jamais disse que sua guerra não foi por alguma causa
nobre --- revela algo muito mais assustador do que aquilo que pôde ser
constatado em conflitos anteriores: a insensibilidade humana diante dos
sofrimentos alheios.
Raramente
se ouviu, ou se leu em algum lugar em seus 38 dias de duração, alguma opinião
neutra, despida de sectarismo acerca desse drama. Os piromaníacos, os
partidários de Tanatos, mitológico deus grego da destruição, preponderaram e
invariavelmente na mídia.
As
análises feitas em torno do conflito focalizaram o aparato bélico empregado, ou
existente em ambos os lados, a televisão tratou os bombardeios contra Bagdá
como espetáculo pirotécnico --- houve até quem dissesse publicamente que as
cenas eram "maravilhosas" --- se falou do aspecto econômico, do
político, do ecológico, mas nunca do ético.
Não
se condenou, a não ser marginalmente, de passagem, a supressão de vidas
inocentes, de pessoas alheias aos acontecimentos, que nada têm a ver com as
ambições desmedidas e insensatas dos políticos, mas que somente querem paz e
tranqüilidade para trabalhar e prosperar.
Tomou-se
partido, de acordo com a eficiência da propaganda deste ou daquele lado, como
se pudesse existir "razão" em meio à irracionalidade do assassinato
consentido. Quando um não quer, dois não brigam. Ambas as partes estão erradas.
Não
se pode falar, portanto, em "nova era", numa ordem mundial mais justa
e evoluída, com a mentalidade predominante. Até porque, o dinheiro empregado
nesta loucura, nesta histeria coletiva, daria para alfabetizar um bilhão de
analfabetos do mundo, alimentar os 500 milhões de famintos, prover moradia aos
100 milhões que vivem ao relento e ainda, de quebra, erradicar para sempre as
principais doenças epidêmicas. E há ainda quem ache que o homem é um animal
racional...
(Artigo
publicado na página 18, Internacional, do Correio Popular, em 24 de fevereiro
de 1991).
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