Subdesenvolvimento social
Pedro J. Bondaczuk
O
Brasil ocupa a 63ª posição no "ranking" do desenvolvimento humano,
estudo que é divulgado anualmente pelas Nações Unidas, que leva em conta
fatores como expectativa de vida, mortalidade infantil, nutrição, acesso a água
potável, alfabetização, anos de escolarização, produto bruto, renda per capita
e capacidade de compra da população.
Nesse
aspecto, portanto, houve progresso em relação ao ano passado, quando a
colocação brasileira era ainda pior. Mas a evolução não é algo para se
comemorar. Pelo contrário. É preciso que relatórios como esse deixem de ser
mera curiosidade e sirvam de alerta aos que têm poder de decisão para mudar um
modelo econômico-social perverso, injusto, insensato, que põe em risco (até a
curto prazo) a estabilidade nacional.
O
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), responsável pelo
estudo, constata que o Brasil tem a segunda distribuição de renda mais desigual
do mundo. É superado, apenas, por Botswana, na África. Triste constatação!
Ressalta a ausência de solidariedade do brasileiro --- contrariando aquele mito
sobre a sua "cordialidade" --- que se reflete em suas leis, na forma
de sua elite administrar educação e saúde e na adoção de um modelo econômico,
copiado de fora, que há muito caducou, embora permaneça em vigor, levando o
País para o abismo.
Não
é preciso ser nenhuma pitonisa nem ter poderes paranormais para prever graves
conflitos sociais, como a sangrenta rebelião ocorrida no Estado mexicano de
Chiapas, em janeiro deste ano, entre nós. No Brasil, os 20% da população
favorecida (30 milhões de pessoas, em números redondos) ganham 32 vezes mais do
que os 20% que se situam no outro extremo. É muita diferença!
E
isso ocorre em termos de média, que distorce muito a realidade. Na prática, há
quem ganhe fabulosas fortunas mensais, enquanto vários milhões de brasileiros
não ganham absolutamente nada. Uma apavorante multidão não tem sequer o que
comer, daí a necessidade da campanha encabeçada pelo sociólogo Herbert de
Souza.
Os
desníveis existentes entre o "Sul Maravilha" e o Nordeste são bem
mais acentuados do que os do Estado mexicano de Chiapas e o restante do México.
Portanto, ou estreitamos o imenso e crescente abismo que existe entre regiões e
grupos sociais ou teremos conflitos cujas dimensões, estas sim, são
absolutamente imprevisíveis em sua extensão e conseqüências.
Está
aí algo sério para os candidatos à Presidência pensarem, em vez de ficarem
preocupados com picuinhas, como carros de som ou telefones e fax do Senado.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 2 de junho de 1994).
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