Friday, October 21, 2016

Subdesenvolvimento social


Pedro J. Bondaczuk


O Brasil ocupa a 63ª posição no "ranking" do desenvolvimento humano, estudo que é divulgado anualmente pelas Nações Unidas, que leva em conta fatores como expectativa de vida, mortalidade infantil, nutrição, acesso a água potável, alfabetização, anos de escolarização, produto bruto, renda per capita e capacidade de compra da população.

Nesse aspecto, portanto, houve progresso em relação ao ano passado, quando a colocação brasileira era ainda pior. Mas a evolução não é algo para se comemorar. Pelo contrário. É preciso que relatórios como esse deixem de ser mera curiosidade e sirvam de alerta aos que têm poder de decisão para mudar um modelo econômico-social perverso, injusto, insensato, que põe em risco (até a curto prazo) a estabilidade nacional.

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), responsável pelo estudo, constata que o Brasil tem a segunda distribuição de renda mais desigual do mundo. É superado, apenas, por Botswana, na África. Triste constatação! Ressalta a ausência de solidariedade do brasileiro --- contrariando aquele mito sobre a sua "cordialidade" --- que se reflete em suas leis, na forma de sua elite administrar educação e saúde e na adoção de um modelo econômico, copiado de fora, que há muito caducou, embora permaneça em vigor, levando o País para o abismo.

Não é preciso ser nenhuma pitonisa nem ter poderes paranormais para prever graves conflitos sociais, como a sangrenta rebelião ocorrida no Estado mexicano de Chiapas, em janeiro deste ano, entre nós. No Brasil, os 20% da população favorecida (30 milhões de pessoas, em números redondos) ganham 32 vezes mais do que os 20% que se situam no outro extremo. É muita diferença!

E isso ocorre em termos de média, que distorce muito a realidade. Na prática, há quem ganhe fabulosas fortunas mensais, enquanto vários milhões de brasileiros não ganham absolutamente nada. Uma apavorante multidão não tem sequer o que comer, daí a necessidade da campanha encabeçada pelo sociólogo Herbert de Souza.

Os desníveis existentes entre o "Sul Maravilha" e o Nordeste são bem mais acentuados do que os do Estado mexicano de Chiapas e o restante do México. Portanto, ou estreitamos o imenso e crescente abismo que existe entre regiões e grupos sociais ou teremos conflitos cujas dimensões, estas sim, são absolutamente imprevisíveis em sua extensão e conseqüências.

Está aí algo sério para os candidatos à Presidência pensarem, em vez de ficarem preocupados com picuinhas, como carros de som ou telefones e fax do Senado.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 2 de junho de 1994).


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk          

No comments: