Saturday, September 19, 2015

Volta por cima 


Pedro J. Bondaczuk


A Ponte Preta tem uma característica que a distingue da maioria do clubes brasileiros. Apesar da divisão interna que historicamente sempre apresentou --- o que a impediu, inclusive, de se firmar como um dos grandes do futebol brasileiro na década de 80, quando conquistou dois vice-campeonatos paulistas e um terceiro lugar no Campeonato Nacional --- sempre se recuperou, quando todos achavam que estava liquidada.

A esperança da sua torcida --- esta sim merece o título de "Fiel", por não abandonar o time nunca, principalmente nos seus piores momentos --- é que esteja começando uma nova virada na vida pontepretana. Bastou um pouquinho de critério na contratação de jogadores para que os resultados viessem, mesmo o elenco tendo sido montado a "toque de caixa", para evitar a desclassificação na série B do Brasileirão.

Apesar da falta de entrosamento, as duas vitórias conquistadas sobre o Volta Redonda devolveram um pouquinho de otimismo a uma coletividade que nos últimos dois ou três anos só acumulou decepções. A expectativa é que esse bom trabalho, de curto prazo, não sofra solução de continuidade e tenha seqüência, com vistas ao retorno ao grupo de elite do futebol paulista no ano que vem, de onde jamais deveria ter saído.

O time tem boas perspectivas não apenas de passar para a outra fase do Campeonato Brasileiro, como até de disputar a final, embora o torcedor, "vacinado" pelos recentes insucessos e até por uma questão de superstição evite de fazer esse tipo de previsão. Mas essa equipe, verdadeira seleção do interior, mostrou que é tecnicamente muito boa e, além de tudo, aguerrida, que é tudo o que a torcida quer dos que vestem essa camisa de tanta tradição.

Jogadores como Fabiano, Lino, Marcelo Prates, Roberto, Celinho, Paulinho, Paulinho Kobayashi e os demais podem integrar qualquer grande time do futebol brasileiro da atualidade, sem nada dever a ninguém. E mesmo que a trajetória de vitórias desse plantel seja interrompida por algum eventual fracasso, esses atletas já conseguiram pelo menos devolver o sorriso (mesmo que tímido) ao torcedor, que suportou tantos aborrecimentos e gozações nos últimos tempos.

O que é preciso é que todas as alas do clube se unam de vez, em torno de um ideal comum, daqui para a frente. A Ponte Preta não merece o tratamento que vem recebendo dos cartolas de uns oito anos para cá. Que as vaidades pessoais sejam deixadas de lado e a comunidade pontepretana reme numa mesma direção, sem que interesses mesquinhos e picuinhas infantis voltem a ameaçar, como até aqui, a própria sobrevivência dessa verdadeira legenda esportiva da cidade.

Se um plantel montado a "toque de caixa" apresentou resultados positivos imediatos, o que não pode acontecer se os dirigentes começarem a preparar agora a equipe para o Campeonato Paulista da Série A-2 do ano que vem? É a pergunta esperançosa que cada pontepretano faz a si mesmo, torcendo para que finalmente outra das viradas esteja se desenhando. Quem sabe, desta vez, a surpresa seja maior do que o vice de 1970. Seja o tão sonhado título de campeão do maior campeonato regional do País.

(Artigo publicado no caderno de Esportes do Correio Popular em 28 de setembro de 1996)



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