Volta por cima
Pedro J. Bondaczuk
A
Ponte Preta tem uma característica que a distingue da maioria do clubes
brasileiros. Apesar da divisão interna que historicamente sempre apresentou ---
o que a impediu, inclusive, de se firmar como um dos grandes do futebol
brasileiro na década de 80, quando conquistou dois vice-campeonatos paulistas e
um terceiro lugar no Campeonato Nacional --- sempre se recuperou, quando todos
achavam que estava liquidada.
A
esperança da sua torcida --- esta sim merece o título de "Fiel", por
não abandonar o time nunca, principalmente nos seus piores momentos --- é que
esteja começando uma nova virada na vida pontepretana. Bastou um pouquinho de
critério na contratação de jogadores para que os resultados viessem, mesmo o
elenco tendo sido montado a "toque de caixa", para evitar a
desclassificação na série B do Brasileirão.
Apesar
da falta de entrosamento, as duas vitórias conquistadas sobre o Volta Redonda
devolveram um pouquinho de otimismo a uma coletividade que nos últimos dois ou
três anos só acumulou decepções. A expectativa é que esse bom trabalho, de
curto prazo, não sofra solução de continuidade e tenha seqüência, com vistas ao
retorno ao grupo de elite do futebol paulista no ano que vem, de onde jamais
deveria ter saído.
O
time tem boas perspectivas não apenas de passar para a outra fase do Campeonato
Brasileiro, como até de disputar a final, embora o torcedor,
"vacinado" pelos recentes insucessos e até por uma questão de
superstição evite de fazer esse tipo de previsão. Mas essa equipe, verdadeira
seleção do interior, mostrou que é tecnicamente muito boa e, além de tudo,
aguerrida, que é tudo o que a torcida quer dos que vestem essa camisa de tanta
tradição.
Jogadores
como Fabiano, Lino, Marcelo Prates, Roberto, Celinho, Paulinho, Paulinho
Kobayashi e os demais podem integrar qualquer grande time do futebol brasileiro
da atualidade, sem nada dever a ninguém. E mesmo que a trajetória de vitórias
desse plantel seja interrompida por algum eventual fracasso, esses atletas já
conseguiram pelo menos devolver o sorriso (mesmo que tímido) ao torcedor, que
suportou tantos aborrecimentos e gozações nos últimos tempos.
O
que é preciso é que todas as alas do clube se unam de vez, em torno de um ideal
comum, daqui para a frente. A Ponte Preta não merece o tratamento que vem
recebendo dos cartolas de uns oito anos para cá. Que as vaidades pessoais sejam
deixadas de lado e a comunidade pontepretana reme numa mesma direção, sem que
interesses mesquinhos e picuinhas infantis voltem a ameaçar, como até aqui, a
própria sobrevivência dessa verdadeira legenda esportiva da cidade.
Se
um plantel montado a "toque de caixa" apresentou resultados positivos
imediatos, o que não pode acontecer se os dirigentes começarem a preparar agora
a equipe para o Campeonato Paulista da Série A-2 do ano que vem? É a pergunta
esperançosa que cada pontepretano faz a si mesmo, torcendo para que finalmente
outra das viradas esteja se desenhando. Quem sabe, desta vez, a surpresa seja
maior do que o vice de 1970. Seja o tão sonhado título de campeão do maior
campeonato regional do País.
(Artigo
publicado no caderno de Esportes do Correio Popular em 28 de setembro de 1996)
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