Há tempos Shakespeare
não sai de foco
Pedro
J. Bondaczuk
A figura de William
Shakespeare é uma das mais polêmicas, se não for a mais, da dramaturgia e da
literatura mundial. Milhares de estudiosos, de todas as tendências e diversos
países, buscam entender quem ele foi, como viveu e, principalmente, como produziu
uma obra tão profunda e marcante, que resiste ao tempo e ao esquecimento. Há
uma corrente que nega, até, sua existência física, o que é uma estupidez. Tal
grupo especula que esse nome não passa de pseudônimo de alguma figura ilustre,
que queria (ou precisava) manter-se anônima. Barbaridade!!! Para os que
defendem essa tese, o verdadeiro autor das 37 peças, 154 sonetos e um ou outro
poema mais longo, atribuídos a Shakespeare, seria, por exemplo, Edward de Vere,
o conde de Oxford. Mas as especulações a esse respeito variam, dependendo de
quem as faça. Há quem atribua, por exemplo, a autoria dessa magnífica obra ao
filósofo sir Francis Bacon.
Há, também, quem jure
que essa produção da mais alta qualidade é de Christopher Marlowe. Isso, mesmo
levando em conta que esse polêmico poeta e dramaturgo foi morto, foi
assassinado, em 1604. Portanto, antes da publicação de peças importantes como
"Macbeth" e "Rei Lear". Como, pois, seria possível ser ele
o autor da obra atribuída a Shakespeare? Para justificar essa tese non sense,
esses caras “viajam na maionese”. Sugerem (vejam só) que Marlowe, figura
talentosa, mas amoral, não teria morrido. Teria, apenas, “simulado a morte” e
continuado escrevendo anonimamente. Mas como, se há farta documentação com
testemunhos dos que viram Marlowe sangrando, e sem vida, com um punhal
enterrado nas costas?!!! Sim, como?!!!
Não seria mais lógico
(e evidentemente mais justo e decente) reconhecer que Shakespeare foi, de fato,
o autor da magnífica obra que lhe é atribuída, do que ficar inventando
histórias tão estapafúrdias, que dariam inveja ao próprio Kafka? Ah, têm
sujeito que não se emenda. É capaz de fazer qualquer coisa para obter
notoriedade. Não duvido que, até mesmo, para ganhar as manchetes, não relute em
imitar Lady Godiva e desfilar pelas ruas e avenidas centrais de uma grande
metrópole (Londres, por exemplo) nu, no dorso de um cavalo. Que não se duvide
disso! Já tratei dessa questão em outro texto, mas mal resvalei por ela naquela
oportunidade. E assim como a figura de Shakespeare permanece mais em evidência
do que nunca, as teorias (que objetivam destruir sua imagem, sabe-se lá por
que), também aumentam exponencialmente.
Como não poderia deixar
de ser, esse debate (para mim surreal) chegou, também, à Flip. Foi em 2012, em
sua décima edição, toda ela dedicada a dois gênios, separados, entre si, por
450 anos: William Shakespeare e Carlos Drummond de Andrade. Lembro ao leitor
que esse evento, criado em 2003, é um dos mais importantes do mundo, no que se
refere à Literatura e à cultura em geral. Recordo (aos que a conhecem) e
informo (aos que não sabem nada dela) que a Festa Literária Internacional de
Parati tornou-se “a caçula” da família de importantes festivais literários.
Veio juntar-se a grandes eventos do gênero,
como Hay-on-Wye, em Adelaide, na Austrália; Harbourfront, de Toronto, no
Canadá; o Festival de Berlim, na Alemanha; o de Edimburgo na Escócia e o de
Mantua, na Itália.
Em suas doze edições,
já reuniu as mais respeitadas “feras” do mundo das letras, a maioria candidatíssima
ao Prêmio Nobel de Literatura, como
Julian Barnes, Don DeLillo, Eric Hobsbawm e Hanif Kureishi, entre tantas
outras. Como se vê, não é nenhum bando de neófitos e nem de meros candidatos a
escritores. É gente do ramo que sabe o que fala, o que faz e, sobretudo, o que
escreve. Não se pode cometer a “heresia” de esquecer outras presenças ilustres,
como Salman Rushdie, Ian McEwan, Martin Amis, Margaret Atwood, Paul Auster,
Anthony Bourdain, Jonathan Coe, Jeffrey Eugenides, David Grossman, Lidia Jorge,
Pierre Michon, Rosa Montero, Michael Ondaatje, Orhan Pamuk, Colm Toíbín,
Enrique Vila-Matas, Jeanette Winterson e Marcello Fois. Ufa! Que time!
Claro que ilustríssimos
escritores brasileiros também emprestaram seu brilho às várias edições da Flip.
Não mencionarei todos, mas não posso deixar de destacar Ariano Suassuna (que
infelizmente já nos deixou), Ana Maria Machado, Milton Hatoum, Millôr Fernandes
(que também já “ficou encantado”), Ruy Castro, Ferreira Gullar, Luis Fernando
Veríssimo, Zuenir Ventura e Lygia Fagundes Telles. Isso sem falar das “lendas
vivas”, que é como considero Chico Buarque e Caetano Veloso. A mesa dedicada ao gênio elisabetano,
intitulada “O mundo de Shakespeare”, levada a efeito na edição da Flip de 2012,
foi tão importante, que merece comentários a parte, exclusivos, que me proponho
a fazer na sequência. Por hoje, todavia, é só.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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