Friday, September 04, 2015

Há tempos Shakespeare não sai de foco

Pedro J. Bondaczuk

A figura de William Shakespeare é uma das mais polêmicas, se não for a mais, da dramaturgia e da literatura mundial. Milhares de estudiosos, de todas as tendências e diversos países, buscam entender quem ele foi, como viveu e, principalmente, como produziu uma obra tão profunda e marcante, que resiste ao tempo e ao esquecimento. Há uma corrente que nega, até, sua existência física, o que é uma estupidez. Tal grupo especula que esse nome não passa de pseudônimo de alguma figura ilustre, que queria (ou precisava) manter-se anônima. Barbaridade!!! Para os que defendem essa tese, o verdadeiro autor das 37 peças, 154 sonetos e um ou outro poema mais longo, atribuídos a Shakespeare, seria, por exemplo, Edward de Vere, o conde de Oxford. Mas as especulações a esse respeito variam, dependendo de quem as faça. Há quem atribua, por exemplo, a autoria dessa magnífica obra ao filósofo sir Francis Bacon.

Há, também, quem jure que essa produção da mais alta qualidade é de Christopher Marlowe. Isso, mesmo levando em conta que esse polêmico poeta e dramaturgo foi morto, foi assassinado, em 1604. Portanto, antes da publicação de peças importantes como "Macbeth" e "Rei Lear". Como, pois, seria possível ser ele o autor da obra atribuída a Shakespeare? Para justificar essa tese non sense, esses caras “viajam na maionese”. Sugerem (vejam só) que Marlowe, figura talentosa, mas amoral, não teria morrido. Teria, apenas, “simulado a morte” e continuado escrevendo anonimamente. Mas como, se há farta documentação com testemunhos dos que viram Marlowe sangrando, e sem vida, com um punhal enterrado nas costas?!!! Sim, como?!!!

Não seria mais lógico (e evidentemente mais justo e decente) reconhecer que Shakespeare foi, de fato, o autor da magnífica obra que lhe é atribuída, do que ficar inventando histórias tão estapafúrdias, que dariam inveja ao próprio Kafka? Ah, têm sujeito que não se emenda. É capaz de fazer qualquer coisa para obter notoriedade. Não duvido que, até mesmo, para ganhar as manchetes, não relute em imitar Lady Godiva e desfilar pelas ruas e avenidas centrais de uma grande metrópole (Londres, por exemplo) nu, no dorso de um cavalo. Que não se duvide disso! Já tratei dessa questão em outro texto, mas mal resvalei por ela naquela oportunidade. E assim como a figura de Shakespeare permanece mais em evidência do que nunca, as teorias (que objetivam destruir sua imagem, sabe-se lá por que), também aumentam exponencialmente.

Como não poderia deixar de ser, esse debate (para mim surreal) chegou, também, à Flip. Foi em 2012, em sua décima edição, toda ela dedicada a dois gênios, separados, entre si, por 450 anos: William Shakespeare e Carlos Drummond de Andrade. Lembro ao leitor que esse evento, criado em 2003, é um dos mais importantes do mundo, no que se refere à Literatura e à cultura em geral. Recordo (aos que a conhecem) e informo (aos que não sabem nada dela) que a Festa Literária Internacional de Parati tornou-se “a caçula” da família de importantes festivais literários. Veio juntar-se a grandes eventos do gênero,  como Hay-on-Wye, em Adelaide, na Austrália; Harbourfront, de Toronto, no Canadá; o Festival de Berlim, na Alemanha; o de Edimburgo na Escócia e o de Mantua, na Itália.

Em suas doze edições, já reuniu as mais respeitadas “feras” do mundo das letras, a maioria candidatíssima ao Prêmio Nobel de Literatura,  como Julian Barnes, Don DeLillo, Eric Hobsbawm e Hanif Kureishi, entre tantas outras. Como se vê, não é nenhum bando de neófitos e nem de meros candidatos a escritores. É gente do ramo que sabe o que fala, o que faz e, sobretudo, o que escreve. Não se pode cometer a “heresia” de esquecer outras presenças ilustres, como Salman Rushdie, Ian McEwan, Martin Amis, Margaret Atwood, Paul Auster, Anthony Bourdain, Jonathan Coe, Jeffrey Eugenides, David Grossman, Lidia Jorge, Pierre Michon, Rosa Montero, Michael Ondaatje, Orhan Pamuk, Colm Toíbín, Enrique Vila-Matas, Jeanette Winterson e Marcello Fois. Ufa! Que time!

Claro que ilustríssimos escritores brasileiros também emprestaram seu brilho às várias edições da Flip. Não mencionarei todos, mas não posso deixar de destacar Ariano Suassuna (que infelizmente já nos deixou), Ana Maria Machado, Milton Hatoum, Millôr Fernandes (que também já “ficou encantado”), Ruy Castro, Ferreira Gullar, Luis Fernando Veríssimo, Zuenir Ventura e Lygia Fagundes Telles. Isso sem falar das “lendas vivas”, que é como considero Chico Buarque e Caetano Veloso.  A mesa dedicada ao gênio elisabetano, intitulada “O mundo de Shakespeare”, levada a efeito na edição da Flip de 2012, foi tão importante, que merece comentários a parte, exclusivos, que me proponho a fazer na sequência. Por hoje, todavia, é só.


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