Esclarecedoras
conclusões sobre Shakespeare
Pedro
J. Bondaczuk
“O mundo de
Shakespeare” foi a principal atração da décima edição do Festival Literário
Internacional de Parati, realizado em 2012. Os debates a esse propósito foram
bastante produtivos para esclarecer vários aspectos obscuros, notadamente sobre
a vida do bardo inglês e da sua obra, cuja autoria é, há tempos, posta em
questão por determinada corrente de pesquisadores. Alguns deles vão ao extremo
de tentar negar até mesmo que o dramaturgo tenha sequer existido, alegando, sem
nenhuma base ou prova, que esse nome não passaria de mero pseudônimo de algum
“figurão” da realeza. Claro que se trata de enorme bobagem. Mas...
Duas brilhantes
figuras, ambas norte-americanas, se destacaram na mesa de trabalhos que tratou
desse tema na Flip, ambas tidas e havidas como entre os maiores especialistas da
atualidade da vida e da obra de William Shakespeare. Uma, foi o professor James
Shapiro, que leciona Literatura Comparada na Universidade de Colúmbia, em Nova
York. Outra foi o teórico e crítico literário Stephen Jay Greenblatt, que
nasceu em Boston e cresceu em Cambridge. Treze anos separam um do outro, em
termos de idade, embora os dois tenham umbilical vivência acadêmica, e bastante
parecida, já que o primeiro continua exercendo a docência e o segundo foi
catedrático por 28 anos na Universidade da Califórnia, em Berkeley.
Shapiro está com 59
anos (completará 60 em setembro de 2015). Estava com 56 quando participou da
Flip. Greenblatt completará 72 em novembro e estava, pois, com 68 em 2012. O
primeiro é um dos maiores estudiosos mundiais da literatura inglesa do período
elisabetano e, principalmente, da obra shakespeariana. Já o segundo é autor de
uma badalada biografia do bardo inglês, best-seller em seu país, intitulada
“Will (diminutivo de William) in the world”, que, ao que me consta, não foi ainda
traduzida para o português e, por conseqüência, não lançada no Brasil. Ambos
são respeitados, acatados e fartamente premiados por seus estudos e publicações
referentes a Shakespeare.
A diferença entre os
dois está na maneira com que avaliam a biografia do bardo inglês. James Shapiro
entende que é impossível biografar esse personagem de maneira incontestável,
face á carência de documentação a propósito. Já Greenblatt pensa diferente. Não
por acaso, o livro do professor novaiorquino, ultrapremiado, lançado em 2005 (e
já publicado no Brasil) traz o sugestivo título: “1599 – Um ano na vida de
William Shakespeare”. E por que ele se concentrou, especificamente, “somente”
nesses 365 dias em particular? Porque há documentação que não deixa a menor
sombra de dúvida sobre o que seu personagem fez nesse período.
Em entrevista que deu,
durante a realização da Flip, em 2012, ao portal iG, respondendo à pergunta
“por que alguém inventaria fatos sobre a vida de Shakespeare? Diversão, ciúme,
alguma rivalidade?”, afirmou: “Tudo o que resta de Shakespeare são 37 peças,
154 sonetos e alguns poemas longos. Isso, e talvez pouco mais de 20 documentos
que o mencionam, como seu testamento, registros de imóveis e de sua carreira
profissional. Para um escritor elisabetano, é um bocado de coisas, mas não o
suficiente para alguém tentando escrever uma biografia sobre ele”. Não faz
sentido? Claro que sim! É, aliás, o que venho observando e reiterando bem antes
de conhecer sua opinião.
Shapiro acrescentou:
“As pessoas forjavam informações para preencher o que estava faltando. Falo
sobre isso em meu livro, como as informações falsas criadas por William Henry
Ireland, que enganaram muita gente no século XVIII. Mas mais comum do que criar
fatos é pegar aqueles que já temos e embelezá-los, ou ler os trabalhos de
Shakespeare e imaginar, por exemplo, que ele morria de ciúmes ou não amava sua
mulher porque os personagens de suas peças são assim. Você ficaria
impressionado com o quanto essa abordagem é comum nas biografias de Shakespeare
atualmente”. E não é o que venho afirmando e reiterando com obsessiva
insistência?
Em seu livro mais
recente (embora lançado em 2010 nos Estados Unidos), intitulado “Contested
Will: Who wrotre Shakespeare” (que traduzido para o português seria qualquer
coisa como “Contestado Will: quem escreveu Shakespeare?”), que Shapiro lançou
dias antes de participar da Flip, ele demonstra, por a + b, que o bardo inglês
é o verdadeiro e único autor da obra que lhe é atribuída. E é mesmo!! Tenho
essa convicção até que alguém me prove, mas não com conjecturas e fantasias,
mas com fatos, que estou enganado. Duvido que esteja! Se provarem, não terei
nenhum problema em mudar de opinião.
Aliás, Shapiro
observou, a esse propósito, na citada entrevista ao iG: “Meu livro acabou
parecendo uma história de detetive. Por que tantas pessoas inteligentes,
inclusive Sigmund Freud, Henry James e Mark Twain, imaginaram que outra pessoa
que não Shakespeare tenha escrito suas peças? E quais pistas jogam luz em
quando e por que essa ideia apareceu? Faço meu melhor para seguir esse mistério
até a década de 1850, e foi um livro excitante para se pesquisar. As razões que
levaram as pessoas a duvidar da autoria de Shakespeare são complicadas, e
variam de uma para outra. Mas no fundo, para muitas delas, foi o mistério de
como o filho de um fabricante de luvas na Inglaterra rural pôde escrever peças
tão impactantes”. Como se vê, são motivos frágeis, e até pueris, para despertar
tamanha dúvida. Quem defende essa tese desconsidera a possibilidade de alguém de
fora do mundo acadêmico ter rasgos de genialidade, como Shakespeare teve. Essas
opiniões absurdas, sem o mínmo fundamento, na minha maneira de ver as coisas,
são meras manifestações de dissimulado preconceito. Ou não?!!!
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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