Saturday, September 05, 2015

Esclarecedoras conclusões sobre Shakespeare

Pedro J. Bondaczuk

O mundo de Shakespeare” foi a principal atração da décima edição do Festival Literário Internacional de Parati, realizado em 2012. Os debates a esse propósito foram bastante produtivos para esclarecer vários aspectos obscuros, notadamente sobre a vida do bardo inglês e da sua obra, cuja autoria é, há tempos, posta em questão por determinada corrente de pesquisadores. Alguns deles vão ao extremo de tentar negar até mesmo que o dramaturgo tenha sequer existido, alegando, sem nenhuma base ou prova, que esse nome não passaria de mero pseudônimo de algum “figurão” da realeza. Claro que se trata de enorme bobagem. Mas...

Duas brilhantes figuras, ambas norte-americanas, se destacaram na mesa de trabalhos que tratou desse tema na Flip, ambas tidas e havidas como entre os maiores especialistas da atualidade da vida e da obra de William Shakespeare. Uma, foi o professor James Shapiro, que leciona Literatura Comparada na Universidade de Colúmbia, em Nova York. Outra foi o teórico e crítico literário Stephen Jay Greenblatt, que nasceu em Boston e cresceu em Cambridge. Treze anos separam um do outro, em termos de idade, embora os dois tenham umbilical vivência acadêmica, e bastante parecida, já que o primeiro continua exercendo a docência e o segundo foi catedrático por 28 anos na Universidade da Califórnia, em Berkeley.

Shapiro está com 59 anos (completará 60 em setembro de 2015). Estava com 56 quando participou da Flip. Greenblatt completará 72 em novembro e estava, pois, com 68 em 2012. O primeiro é um dos maiores estudiosos mundiais da literatura inglesa do período elisabetano e, principalmente, da obra shakespeariana. Já o segundo é autor de uma badalada biografia do bardo inglês, best-seller em seu país, intitulada “Will (diminutivo de William) in the world”, que, ao que me consta, não foi ainda traduzida para o português e, por conseqüência, não lançada no Brasil. Ambos são respeitados, acatados e fartamente premiados por seus estudos e publicações referentes a Shakespeare.

A diferença entre os dois está na maneira com que avaliam a biografia do bardo inglês. James Shapiro entende que é impossível biografar esse personagem de maneira incontestável, face á carência de documentação a propósito. Já Greenblatt pensa diferente. Não por acaso, o livro do professor novaiorquino, ultrapremiado, lançado em 2005 (e já publicado no Brasil) traz o sugestivo título: “1599 – Um ano na vida de William Shakespeare”. E por que ele se concentrou, especificamente, “somente” nesses 365 dias em particular? Porque há documentação que não deixa a menor sombra de dúvida sobre o que seu personagem fez nesse período.

Em entrevista que deu, durante a realização da Flip, em 2012, ao portal iG, respondendo à pergunta “por que alguém inventaria fatos sobre a vida de Shakespeare? Diversão, ciúme, alguma rivalidade?”, afirmou: “Tudo o que resta de Shakespeare são 37 peças, 154 sonetos e alguns poemas longos. Isso, e talvez pouco mais de 20 documentos que o mencionam, como seu testamento, registros de imóveis e de sua carreira profissional. Para um escritor elisabetano, é um bocado de coisas, mas não o suficiente para alguém tentando escrever uma biografia sobre ele”. Não faz sentido? Claro que sim! É, aliás, o que venho observando e reiterando bem antes de conhecer sua opinião.

Shapiro acrescentou: “As pessoas forjavam informações para preencher o que estava faltando. Falo sobre isso em meu livro, como as informações falsas criadas por William Henry Ireland, que enganaram muita gente no século XVIII. Mas mais comum do que criar fatos é pegar aqueles que já temos e embelezá-los, ou ler os trabalhos de Shakespeare e imaginar, por exemplo, que ele morria de ciúmes ou não amava sua mulher porque os personagens de suas peças são assim. Você ficaria impressionado com o quanto essa abordagem é comum nas biografias de Shakespeare atualmente”. E não é o que venho afirmando e reiterando com obsessiva insistência?

Em seu livro mais recente (embora lançado em 2010 nos Estados Unidos), intitulado “Contested Will: Who wrotre Shakespeare” (que traduzido para o português seria qualquer coisa como “Contestado Will: quem escreveu Shakespeare?”), que Shapiro lançou dias antes de participar da Flip, ele demonstra, por a + b, que o bardo inglês é o verdadeiro e único autor da obra que lhe é atribuída. E é mesmo!! Tenho essa convicção até que alguém me prove, mas não com conjecturas e fantasias, mas com fatos, que estou enganado. Duvido que esteja! Se provarem, não terei nenhum problema em mudar de opinião.

Aliás, Shapiro observou, a esse propósito, na citada entrevista ao iG: “Meu livro acabou parecendo uma história de detetive. Por que tantas pessoas inteligentes, inclusive Sigmund Freud, Henry James e Mark Twain, imaginaram que outra pessoa que não Shakespeare tenha escrito suas peças? E quais pistas jogam luz em quando e por que essa ideia apareceu? Faço meu melhor para seguir esse mistério até a década de 1850, e foi um livro excitante para se pesquisar. As razões que levaram as pessoas a duvidar da autoria de Shakespeare são complicadas, e variam de uma para outra. Mas no fundo, para muitas delas, foi o mistério de como o filho de um fabricante de luvas na Inglaterra rural pôde escrever peças tão impactantes”. Como se vê, são motivos frágeis, e até pueris, para despertar tamanha dúvida. Quem defende essa tese desconsidera a possibilidade de alguém de fora do mundo acadêmico ter rasgos de genialidade, como Shakespeare teve. Essas opiniões absurdas, sem o mínmo fundamento, na minha maneira de ver as coisas, são meras manifestações de dissimulado preconceito. Ou não?!!!


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk 

No comments: