Agentes ou testemunhas?
Pedro J. Bondaczuk
O
tempo é o maior capital de que dispomos, embora poucos se dêem conta dessa
verdade e a maioria o desperdice de maneira tola e insensata, como se tivesse
diante de si a eternidade. Claro que não têm. Ninguém tem. Desconhecemos a
quantidade que teremos dele (se é que teremos alguma) e, ainda assim, gastamos
perdulariamente, indevidamente, estupidamente esse precioso e irrecuperável
recurso. Sei que já escrevi isso “n” vezes e escreverei outras tantas, se as
julgar necessárias, porquanto é uma realidade, insisto, em que poucos pensam. E
menos ainda os que se preocupam com seu pleno aproveitamento. Não quer dizer,
porém, que eu me ache mais sábio, ou mais atento do que qualquer outra pessoa.
Não me acho. Apenas, até em decorrência das atividades que exerço – como
jornalista e, sobretudo, como escritor – penso, talvez, com mais constância
sobre o tempo e seu aproveitamento (ou seu desperdício).
Nunca
é demais atentar para o fato que tanto podemos ter à nossa frente um dia,
algumas horas, alguns escassos minutos ou reles segundos, quanto uma centena de
anos, ou mais, antes que deixemos o palco da vida e mergulhemos no desconhecido
e no mistério. Salvo exceções, somos importantes para alguém – nossos pais, nossos
filhos, nossos netos, nossa esposa (ou marido, quando o caso) e vai por aí
adiante. Da mesma forma que esperamos benefícios dos outros, outros tantos
esperam a mesma coisa de nós. Podemos ter muito tempo para beneficiá-los, como
podemos, também, ter pouquíssimo, ou mesmo mais nenhum. Daí ser suprema burrice
desperdiçá-lo.
No
caso de escritores, ou de qualquer outro tipo de comunicadores (jornalistas,
radialistas, professores etc,), ou seja, de formadores de opinião, somos,
sobretudo, testemunhas de uma era. Desta em que nos foi dada a chance de viver,
sobre a qual (pelo menos teoricamente), reunimos condições de influir e com a
qual tudo o que nos diga respeito possa ser associado. Nossa
responsabilidade é imensa, pois no exercício dessas atividades exercemos
influência não raro decisiva na vida de outras pessoas, tanto para o bem,
quanto para o mal. Compete-nos nos prepararmos para jamais influenciarmos
negativamente quem quer que seja. E essa preparação demanda tempo, que não pode
e nem deve ser desperdiçado, por ser irrecuperável.
Temos
a opção de sermos apenas testemunhas do nosso tempo ou agentes que influam nos
acontecimentos. Prefiro agir em vez de apenas me limitar a testemunhar
acontecimentos. Mesmo que não sejamos comunicadores, influenciamos, de alguma
forma, os que nos rodeiam, para o bem ou para o mal. Cada gesto de amor ou de
ódio, cada atitude de solidariedade ou de egoísmo, cada ato de construção ou de
destruição, contam muito. Compõem nossa biografia e justificam (ou não) nossa trajetória
na vida. Ninguém veio ao mundo por acaso, embora assim nos pareça. Mas nossa
finalidade não nos é revelada por ninguém. Compete-nos descobri-la e
realizá-la.
Podemos
ser lembrados num futuro distante como santos ou como demônios; como sábios ou
como tolos ou então ser esquecidos para sempre, como se jamais tivéssemos
existido. Isto vai depender, em grande medida, de nós e das circunstâncias que
tivermos (que alguns chamam de destino e outros de acaso). Um reles texto
descomprometido que façamos e divulguemos, por exemplo, pode ser decisivo na
forma com que passaremos para a história (senão da humanidade, pelo menos da
comunidade a que servimos ou somente da nossa família).
Alguns
conseguem realizar em vida aquilo a que se propuseram, porque se empenharam,
buscaram as oportunidades e as aproveitaram. Outros, limitam-se a sonhar (às
vezes nem isso) e sequer tentam fazer o mínimo esforço para que seus sonhos se
façam concretos e se transformem em atos. Optam por serem testemunhas, mas não
agentes. Omitem-se. Suas elucubrações (quando as têm) jamais se tornam
concretas.Tudo o que fazem é procurar a mera satisfação dos sentidos, e mesmo
assim de forma desregrada e imprudente. Há outro grupo ainda, que é o dos que
obtêm a cumplicidade alheia para suas idéias e projetos. E realizam seus
propósitos através de terceiros. São os “semeadores”. São os gênios da espécie.
São os líderes naturais, cuja liderança se impõe não mediante a força ou
decreto ou herança, mas de forma automática e espontânea.
O
escritor Paul Valéry observa que "o valor das obras de um homem não está
nas obras, mas em seu desenvolvimento pelas mãos dos outros, em outras
circunstâncias". São estes que garantem a eternidade da memória. São estes
que administram com eficácia e sabedoria seu grande capital, o tempo. São estes
que têm participação ativa na vida mesmo após a morte. Posso estar
completamente equivocado (afinal, não sou onisciente e sei tão pouco, diante da
imensidão que há para saber), mas me oponho ferozmente á idéia de viver apenas
por viver, sem rumos ou objetivos. E, pior, á atitude (na verdade, falta dela)
de limitarmo-nos a “sobreviver”.
Se
as circunstâncias de nossa vida forem favoráveis, devemos aproveitar cada
oportunidade que nos apareça, por ínfima que seja, sem desperdiçar nenhuma e,
se possível, multiplicá-las. Caso contrário... Não podemos nos dar por
vencidos. Devemos nos empenhar no limite de nossas forças para mudar
circunstâncias ruins, mesmo que fracassemos. A vida não é um passeio, mas, como
afirmou Gonçalves Dias, nos versos de um dos seus mais memoráveis poemas, “é
luta renhida”, concluindo que “viver é lutar”! Lutemos, pois, enquanto tivermos
tempo para isso, não importa a idade que tivermos e nem em que condições
físicas possamos estar para encarar tais desafios.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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