Sunday, September 13, 2015

Mulher de fogo e gelo

Pedro J. Bondaczuk

A primeira mulher citada na série “Catorze personagens femininas inesquecíveis”, organizada pelo site “Homo Literatus” (WWW.homoliteratrus.com) é Daenerys Targaryen. Trata-se da protagonista da série de romances (já foram publicados cinco e há a expectativa da publicação de mais dois) “Crônicas de gelo e fogo”, do romancista (melhor seria caracterizá-lo como ficcionista, pois é autor, também, de contos e novelas) e roteirista norte-americano George R. R. Martin. Ela é a escolha do escritor carioca Gabriel Gaspar, autor do livro “O que pensa o homem”. Excelente e oportuna lembrança.

Destaque-se que a pesquisa do site reúne catorze especialistas em Literatura que têm que escolher apenas uma única personagem feminina que considere inesquecível. E deve justificá-la, claro. Comentar essa série de romances em um ou num pequeno punhado de parágrafos é impossível, por maior que seja o poder de síntese do comentarista. O melhor, para quem não a conhece, óbvio, é lê-la. Valho-me da  referência da enciclopédia eletrônica Wikipédia para caracterizá-la da melhor forma possível, sem me estender bastante.

A referida fonte diz o seguinte a propósito: “’As Crônicas de Gelo e Fogo’ (no original em inglês: ‘A Song of Ice and Fire’) é uma série de livros de fantasia épica escrita pelo romancista e roteirista norte-americano George R. R. Martin, e publicada pela editora Bantam Spectra. O autor começou a desenvolvê-la em 1991 e o primeiro volume foi lançado em 1996. Originalmente concebida para ser uma trilogia, a série consiste em cinco volumes publicados, com mais dois planejados. Martin também escreveu três contos derivados e algumas novelas que consistem de resumos dos livros principais”. Bem, está feita, pelo menos, a apresentação. Eu acrescentaria, apenas, que no Brasil os livros vêm sendo publicados pela Editora LeYa. A série foi traduzida para vinte idiomas e vendeu vinte e cinco milhões de exemplares em todo o mundo. É, pois, um big best-seller, e nem precisava dizer. As cifras dizem por si sós.

E qual a justificativa de Gabriel Gaspar para escolher, particularmente, esta protagonista e não outra qualquer? O escritor carioca explica assim o motivo da sua opção: “Quando o assunto é fantasia moderna, poucas personagens femininas são tão importantes quanto Daenerys Targaryen, das famosas ‘Crônicas de Gelo e Fogo’ do escritor americano George R.R. Martin. O autor é conhecido por criar personagens femininas fortes de uma forma bem natural, sem masculinizá-las (erro muito comum entre os autores do gênero) e é com Daenerys que ele dá seus voos mais altos (às vezes literalmente)”. Pois é, o autor desse épico – adaptado para um grande número de formatos, como jogos de videogame, histórias em quadrinhos, bonecos em miniatura e uma série de TV intitulada ‘Game of Thrones’, produzida pelo HBO – é fugir do estereótipo da mulher frágil, dependente, cabeça oca, manipulável e encarada, sobretudo pelo mundo masculino, como “objeto sexual”. Ou, quando independente, masculinizada, perdendo o que a fêmea tem de melhor: a feminilidade no sentido mais amplo.

A mulher de hoje não é assim. Aliás, de tempo algum o foi. Mesmo tiranizada por milênios e milênios, aparentemente submissa, sempre foi forte, inteligente e centrada, que sabia o que queria, embora nem sempre conseguindo. Os homens é que não percebiam ou não admitiam isso. Claro que houve e que há as que se enquadravam (e que se enquadram), no estereótipo. Há de tudo no mundo. Mas isso vale não somente para mulheres. Gabriel Gaspar complementa a justificação da escolha de Daernerys Targaryen como sua protagonista literária feminina inesquecível: “Começando como uma personagem fraca e indefesa que é abusada física e psicologicamente, chegando a ser vendida como uma mercadoria por seu irmão, vai extraindo lições dos espinhos da vida e mostrando a sua força, assumindo pouco a pouco o controle de um mundo até então dominado pelos homens. Tudo isso sem perder a sua feminilidade”.

Méritos, pois, para George Raymond Richard Martin, mais conhecido como George R. R. Martin ou simplesmente GRRM, roteirista e escritor de ficção científica, terror e fantasia, de 67 anos de idade, nascido em Bayone, Nova Jersey, em: 20 de setembro de 1948. Ele tem uma característica de criação que exige extrema concentração para não se contradizer. Dá vida a uma multidão de personagens (mais de mil) e, ainda assim, consegue imaginar, em particular, uma mulher tão forte, tão determinada, segura e lutadora, “sem perder a sua feminilidade”. Trata-se, pois, de uma musa de fogo (paixões) e de gelo (frieza ao agir), que fascina e da qual é impossível de se esquecer. Eu não a esqueceria e nem a esqueço.

Li, alhures, outra avaliação semelhante dessa personagem. Infelizmente, não consegui descobrir seu autor. Mas transcrevo-a, entre aspas, para deixar claro que ela não é minha, embora concorde integralmente com tal observação: “No inicio da aclamada obra de George R. R. Martin, Daenerys se passa por uma personagem totalmente indefesa e fraca, onde sofre varias agressões psicológicas e é abusada fisicamente, chegando ao ponto de ser vendida por seu irmão, Viserys. No decorrer da narrativa, contudo, ela vai absorvendo todas as mágoas sofridas e passa a dominar o mundo tomado por homens, sem perder o seu jeito feminino. Apesar de se tratar de uma história fantasiosa, ‘A Mãe dos Dragões’ pode dar exemplo à ascensão da figura feminina ao poder, assim como tem acontecido em nosso mundo”. Excelente escolha, portanto, para iniciar essa polêmica (posto que fascinante) série.


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